Tarja - What Lies Beneath (Resenha)
Por Michael Melchor em 31/08/2010
Uma voz dinâmica assim quase não precisa de acompanhamentos, mas uma base mais forte ajudaria.
Tarja (Turunen) está de volta e como resultado, cerca de 95% das cantoras do planeta deveriam estar em alerta.
Tarja, que uma vez foi a voz do Nightwish, se libertou da banda há quase cinco anos. Desde então, ela tem construído seu próprio estilo sozinha utilizando seu talento vocal autoritativo. Após o disco A Finnish Christmas (feito para o seu país) e também do disco lançado em 2007, My Winter Storm, What Lies Beneath é o mais recente a mostrar suas habilidades.
O problema com o vocal da Tarja é que é tão poderoso que chega a ser bem difícil encontrar a música certa para dar apoio à voz sem ser considerada genérica oposta a tanto poder. What Lies Beneath se garante nesse ponto, mas essa situação ainda é um problema para a Tarja na hora de criar um disco clássico (não no sentido de orquestrado.)
"Anteroom of Death" é sem dúvida a mais desafiadora faixa de abertura do ano. Não, você não está entendendo. A música realmente te desafia a continuar escutando o resto do disco. Não por ser horrível, mas porque todo o conhecimento lírico da Tarja é jogado diretamente na sua cara via uma miríade de trocas de tempo, um clavicórdio intercalando música de câmara e metal e um coro de vozes(cortesia da banda alemã de acapella/metal Van canto) entre outras reviravoltas. É o que se deve esperar de um disco de metal sinfônico e uma música tão fascinante que pode facilmente remover todas as camadas proverbiais a cada vez que for escutada. Em "Anteroom of Death" acontece tanta coisa - e, de alguma maneira, todas em harmonia - que pode ser considerada uma "Bohemian Rhapsody" do metal sinfônico e na pior das hipóteses sofrer um rebaixamento para segunda faixa do disco.
Uma vez passada a faixa, o disco se acomoda num nível bem inferior a esse território arrasador. Os vocais da Tarja foram feitos para brilhar em uma música ambiciosa, mas é a música que às vezes se torna o problema. Em "Until My Last Breath" ela fez um ótimo trabalho mas no fundo você percebe a falta de criatividade. A voz da Tarja é tão poderosa que tem tendência a ofuscar a música na qual ela canta. Ela nunca teve esse problema com o Nightwish; Tuomas Holopainen escrevia músicas especificamente para ela e os elogios variavam de excitante a fabuloso.
Aqui, tendo as músicas e arranjos certos por trás, acaba atrapalhando. Os artistas convidados, como Phil Labonte (All That Remains) na faixa "Dark Star" e Joe Satriani em "Falling Awake" ajuda de vez em quando. Vocalmente falando, a troca de vozes entre Tarja e Labonte em "Dark Star" é o mais próximo possível do que o Nightwish costumava ser. Enquanto isso, Satriani faz o único solo de guitarra que combina com o poder da Tarja. Will Calhoun do Living Colour está ótimo em "Crimsom Deep" mas sua participação é quase questionável por ser uma faixa épica de 07:36 minutos feita para se destacar.
What Lies Beneath não é um disco de um sucesso só. Depois de "Anteroom of Death" certamente existem outras razões para se continuar escutando, além dos convidados especiais. "Little Lies" tem um ótimo ritmo e um refrão contagiante, o tipo de coisa que se eleva a outro nível por um soprano dominante. "Underneath" é uma balada no piano; sim elas ainda existem, elas não acontecem uma vez a cada lua cheia. Como se isso não fosse inacreditável o suficiente, são duas dessas baladas no disco (pelo menos na versão americana) quando "Montañas de Silencio" leva um minuto para se estabelecer mas o efeito é o suficiente para ser apreciado quando Tarja apresenta uma poesia vocal, e estou convencido que pouquíssimos outros cantores (e certamente nenhum de música popular) poderiam dominar.
What Lies Beneath é um bom disco se você aprecia vocais clássicos (ópera). Contudo, é também inconsistente, a música poderia certamente se adaptar mais à Tarja em muitas cancões. Com a banda dos sonhos (que não será a últimaque ela teve, por mais que sonhemos) Tarja poderia dominar qualquer arena no planeta com a voz superior a inúmeros outros - e com mais esforço em composições e musicalidade poderia fazer do album um clássico instantâneo. Isso se a música desse apoio ao peso e força de sua voz.
Nota Final: 7.5 [Bom]