Tarja Turunen, a voz finlandesa da Ópera Metal, acabou de lançar seu Segundo álbum.  Tendo sido a vocalista do Nightwish de 1996 a 2005, What Lies Beneath é mais um passo importante para sua carreira como artista solo. Na heart4metal ela dá um “insight” em sua vida e o panorama de seu novo lançamento.

Com What Lies Beneath  você está seguindo o caminho musical que já havia trilhado com My Winter Storm. Mas seu album soa bem mais rude e autoconfiante do que o primeiro. Você diria que só agora achou sua linha musical ou o WLB é apenas um segundo passo no seu desenvolvimento musical?

Tarja: Na música sempre há algo que você precisa aprender e sempre há alguém melhor do que você. Progredir ou se desenvolver são histórias que nunca acabam. E falando sobre o WLB: sim, ele soa mais autoconfiante e mais direto. Definitivamente é um álbum muito, muito pessoal para mim. Dessa vez eu senti que fui bem-sucedida em fazer toda a imagem exatamente como eu queria que fosse. Talvez da próxima vez seja algo diferente de novo, porque esse é o progresso que posso fazer como artista-solo. WLB  é definitivamente um retrato de mim hoje: como mulher, como artista e como uma pessoa feliz e independente.

A faixa de abertura das suas turnês da Tempestade nos países da Europa, ano passado, foi Enough. Essa música não foi incluída em nenhum de seus álbuns. As pessoas poderiam ter a impressão de que Enough seria a sua resposta à Bye Bye Beautiful, do Nightwish. Você concorda que ela era originalmente destinada a ser um tipo de ato de libertação?

Tarja: Não, eu não concordaria. Na verdade a música está disponível numa edição especial do My Winter Storm – mas nunca foi para ser uma resposta pra nada. Eu não acho que esteja nesse nível de discussão por meio da música.

A linha “what lies beneath” é parte de uma das músicas, Naiad, que pode ser encontrada apenas  na faixa-bônus da edição especial do album. Por quê ela não foi incluída na versão regular?

Tarja: Escrevi muitas músicas para o album – na verdade muito mais do que tinha sido pedido ou seria ouvido. Naiad foi a primeira música escrita para o álbum – e é uma bela música. Fala sobre o meu amor pelo mundo subaquático. Depois de todas as músicas terem sido produzidas e gravadas, foi muito difícil colocá-las na ordem correta. Tendo tantas músicas, decidi que Naiad é uma música muito especial e, como eu queria ter algo bem especial para essa edição, decidi colocá-la na edição dupla.

Nos últimos anos você tem trabalhado com inúmeros musicistas. Acha que haverá uma base estável de artistas em torno da Tarja solista a partir de agora?

Tarja: Tive muita sorte em ter todos esses músicos comigo. Todos são profissionais e às vezes eles têm suas agendas e seus próprios negócios para fazer. Isso é perfeitamente compreensível – mas por causa disso eu sempre tenho que estar a par das mudanças. Compreende a questão de se eu gostaria de tocar em uma banda ou continuar com a minha carreira de artista solo: sou muito aberta e nunca disse “não” para uma banda. Mas agora é a hora para eu ser uma artista solo. Quanto tempo isso vai durar? Veremos.

Seu estilo de música soa bem forte e individual. Apesar do fato de conter vários elementos clássicos, categorizar como Metal Sinfônico não parece estar muito certo. Como você descreveria sua música para alguém que não conhece a Tarja?

Tarja: É um misto profundo de música clássica e tock, eu diria.

Mas você não a classificaria como Metal Sinfônico?

Tarja: Isso aí – é algo diferente.

Por muitos anos você foi considerada como a voz do Nightwish. Com o MWS você já tinha deixado esse estilo musical para trás. Olhando o passado – você diria que se identifica plenamente com as composições deles? Em qual grau você esteve envolvida com as composições deles - e como é a situação hoje, sendo uma artista solo?

Tarja: Fui parte da banda por nove anos e estive envolvida nos arranjos das músicas, mas nunca escrevi músicas para o Nightwish. Isso era impossível – não tinha jeito. Mas a música nunca foi o problema, houve outras dificuldades. Hoje sou uma artista solo e você não pode comparar esses dois mundos, já que a situação é bem diferente: escrevo músicas tanto sozinha quanto com alguém com quem ame trabalhar. Por exemplo, com Johnny Andrews – um escritor de Atlanta que tem conexões com a cena finlandesa e esteve trabalhando com bandas como o Apocalyptica e The 69 Eyes. Entrei em contato com ele pela minha produção. Escrevemos as primeiras músicas juntos. Foi uma grande colaboração! Ele é um escritor brilhante, uma pessoa extrovertida com uma grande personalidade. Quanto ao WLB, escrevemos quatro músicas juntos.

Durante os últimos anos você planejou incontáveis concertos por todo o mundo. Há planos para mais uma turnê extensa como artista principal depois de apoiar Alice Cooper na tour dele?

Tarja: Sim, haverá uma turnê como artista principal – e também haverá um concerto em Zurich, em novembro. Espero por isso muito ansiosamente, já que fiz bons shows na Suíça e sempre amei estar lá. Meu marido e eu sempre sonhamos em nos mudar para a Suíça um dia...

As letras do WLB soam um tanto quanto tristes, reflexivas, perto da melancolia. Tristeza e isolamento parecem ser onipresentes – também nas ilustrações dentro do encarte. Você se retrata nas letras? Tarja seria uma pessoa melancólica?

Tarja: Uma parte de mim é melancólica. Vem basicamente de onde nasci e de onde passei minha infância, do que fiz na adolescência e onde cheguei quando cresci. Nasci num vilarejo de 500 pessoas e agora estou vivendo na grande cidade de Buenos Aires – bem longe do lugar onde nasci. Tudo o que aconteceu nesse entremeio foi uma jornada incrível que é realmente assustadora às vezes – refletindo o que vi e o que experimentei. Tenho 33 anos de idade e sou muito confiante no que estou fazendo, mas ainda há muitas coisas para aprender. Certamente há alguma melancolia em mim, mas também há muita positividade. Pessoas me consideram uma leoa. Sou muito ambiciosa para atingir meus objetivos e estou correndo atrás dos meus sonhos. Separadamente, sou uma sonhadora romântica – talvez seja daí que a melancolia vem.

Falando sobre as letras de What lies beneath
Until my last breath
“I’m giving up this ghost” (estou desistindo desse fantasma). Quem ou o quê seria o fantasma de quem você está desistindo?
Tarja: Bem, todos nós devemos ter nossos fantasmas. A música em si foi inspirada pelas coisas ruins que aconteceram quando Michael Jackson morreu – como as pessoas mudaram sem mesmo perceber. Ver o que acontece conosco em uma situação como essa é muito triste.

Little lies
“Little lies making up tragedies. Nothing is what it seems. Who cares what is real… Little lies only to entertain…” (Pequenas mentiras inventando tragédias. Nada é o que parece. Quem se importa com o que é real? Pequenas mentiras só pra entreter…) Essa música refletiria suas experiências com a imprensa?
Tarja: Não, absolutamente não. Eu nunca quis apontar o dedo para nada que aconteceu na vminha vida. Parece meio triste para mime screver músicas sobre pessoas a quem conheci.

Dark Star
“You’re the master in your own mind, but a slave to all…” (Você é o mestre na sua própria mente, mas um escravo para o resto...) Quem poderia ser essa estrela negra?

Tarja: A estrela negra não é ninguém em especial. Há uma linha vermelha e um significado simbólico por trás de todas as músicas do What Lies Beneath: essa é a questão sobre o que há além dos seres humanos, o quão importante seria para nós checar duas vezes o que sentimos o quem somos, o que fazemos e o porquê de as coisas serem como são. Dark Star é mais uma música para motivar as pessoas a refletir se isso tudo é real ou não – se questionando se são o que pretendem ser...

The Archive of lost dreams
Quem é Naiad e qual é o segredo que ela esconde?
Tarja: Ela é uma ninfa da água e a música conta a história de sua vida sob a água.

Duas perguntas finais…

Vários cantors góticos consideram você como seu ideal, copiando não só seu estilo de cantar mas também sua aparência e jeito de vestir. Por um longo tempo você atingiu o status de ícone de estilo – você se consideraria uma Madonna gótica?

Tarja: Não, não me consideraria. Estilo e moda são muito importantes para mim – na verdade esse é um dos pontos cruciais para mim como uma artista. Estou desenhando minhas roupas mais ou menos por mim mesma e uma amiga da Finlândia as costura para mim. Acho realmente fascinante a quantidade de garotas que me consideram um ícone e realmente seguem o meu estilo.

O que aconteceria se a jovem Tarja não tivesse se tornado um membro do Nightwish há 14 anos atrás? Ela teria focado sua carreira totalmente na música clássica?
Tarja: É muito hipotético pensar sobre o que teria acontecido sem ter seguido esse caminho com a banda. Eu era muito nova quando comecei com o Nightwish – então é muito difícil dizer. O que posso dizer é: sempre fui uma garota que se jogava de cabeça nos desafios. Amo desafios...