Você tem que ser corajoso o suficiente para dizer o que você realmente pensa.

A finlandesa não se esquece do fato de que seu relacionamento com os seus seguidores chilenos é muito especial. Pelo contrário, ela abraça esse amor e isso a fortalece, dando retorno às demonstrações [de afeto] de um público que a adora além da música. Este é o ambiente que espera por Tarja dia 23 de março, no Teatro Teletón, no que será a segunda visita dela como artista solo e a sexta, incluindo suas apresentações com o Nightwish (2000 e 2002) e as duas versões do evento "Noche Escandinava". Aqueles que a admiram coo pessoa serão capazes de vê-la nessas páginas como a mulher que ela é, um uma entrevista em que ela fala sobre desafios, emoções e lições. Como o título de seu novo álbum "What Lies Beneath" prega, a cantora se descobre através das mudanças em sua vida, ela se aventura dentro de si mesma e compartilha seus sentimentos com aqueles que a escutam. "Eu sou uma de vocês!"

Tarja, se passaram mais de dois anos desde que você veio promover o "My Winter Storm" (2007) aqui no Chile. Quais são as suas memórias mais permanentes daquela vez em Santiago?

Oh! Eu me lembro que estava realmente frio, nós estávamos congelando no Chile! (risos) Sabe? Ainda estava no inverno, uma estação fria, e pra completar eu estava muito doente (risos), eu me lembro disso! Eu tive uma febre muito alta durante o show! (risada mais forte) Apesar de que eu tive que lutar para continuar. E o show foi lindo, as pessoas de Santiago do Chile são tão, tão legais, uma experiência muito agradável. É claro (risos) que desconsiderando o frio e que eu estava doente! Estou tão feliz de estar de volta, e espero que todos compareçam dessa vez! (risos)

Muitos se lembram daquela visita porque você tem uma relação muito próxima com os seus fãs, um relacionamento muito especial. Eles não só apreciam você como cantora, mas também como mulher, como ser humano. É algo além da música: eles amam você. O quão sortuda você se sente, com esse amor entre você e os seus fãs?

Essa comunicação entre eu e os meus fãs é MUITO IMPORTANTE, sabe? Absolutamente vital para mim tanto como artista, tanto como ser humano. Eu realmente me considero uma pessoa normal no sentido de ter um relacionamento próximo com os meus fãs, e isso é muito importante porque isso é uma realidade: eu não estaria aqui se não fosse por eles, é muito importante nunca se esquecer disso. Eu acho que, enquanto você fizer música com humildade, que você apresentar a sua música com humildade, as pessoas vão conseguir sentir essa paixão e esse amor [que você sente] por aquilo que você faz. EU TENHO FÃS MARAVILHOSOS, eles são pessoas INCRÍVEIS.

Recentemente, para o Natal, para o ano novo, eu estava com a internet cheia de mensagens, cheia de vídeos lindos que eles enviaram. E eles fazem tanto esforço, e usam tanto tempo para me fazer sentir especial. ISSO É ABSOLUTAMENTE INCRÍVEL! Eu nunca tinha recebido tanto amor de qualquer outra pessoa, os meus fãs são muito especiais, eles me deram tanto amor, e eu devolvo isso com a minha música (risos). E tantas demonstrações, tantas. Por exemplo, algumas pessoas na Europa dedicaram uma canção para mim, eles fizeram uma música inteira para mim! Com letra, e tudo sobre Tarja Turunen! (risos) E eles cantaram isso na minha frente. Antes e depois dos shows! (risos) Sabe? É incrível! Há muitas pessoas assim, que se dedicam muito [às demonstrações] tentando conseguir um sorriso meu (risos), tentando me deixar feliz. Isso é maravilhoso.

Falando da sua última visita a Santiago, eu me lembro que no dia anterior ao seu concerto, você filmou um vídeo para "Enought" com alguns diretores chilenos (Abysmo Producciones, que já tinha trabalhado com Kreator, Lacrimosa, Vader, Therion, Mercenary, Criminal, etc.). Por alguma razão, tristemente, esse vídeo nunca apareceu na mídia. O que aconteceu com ele?

Nós tivemos dificuldades, dificuldades técnicas com o vídeo para "Enough". Sabe? Com esse nome... o produtor do vídeo "Enought" sofreu um acidente de carro, ou algo do tipo. Nós ficamos tão para trás no cronograma que ficamos sem tempo, o material para o vídeo teria chegado tarde demais e nós não teríamos sido capazes de entregá-lo em tempo, de acordo com o cronograma. Depois disso, tivemos alguns problemas porque a Universal Music, a minha gravadora, começou a nos pressionar e, tristemente, não pudemos fazer.

Para a promoção do "What Lies Beneath", você lançou o vídeo "I Feel Immortal" e apenas alguns dias (ou semanas) mais tarde, "Until My Last Breath" foi lançado com o mesmo set, a mesma locação, o mesmo stilo de filmagem e, é claro, alguns fãs se perguntaram porque eles eram tão "iguais". Porque a própria Tarja não arranjou um tempo para fazer outro vídeo para uma dessas canções? E a coisa mais curiosa é que, depois das "reclamações", uma segunda versão de UMLB foi lançada, bem diferente da primeira. O que você acha das reações quando o vídeo original para esse single foi lançado?

Bem, é claro que eu li um monte de comentários de gente desapontada com o fato de que eles não eram muito diferentes, pelo fato de IFI e UMLB serem na mesma locação. A principal razão foi que... eu quero dizer, a verdade é que eu já estava trabalhando no vídeo para UMLB que vocês conhecem como "a segunda versão", que era para ter sido a primeira! Eu estava trabalhando nela com um amigo muito prezado na Finlândia, e eu era parte da produção, sabe, definindo planos, fazendo cronogramas, os scripts, tudo, e nós ficamos para trás no cronograma de novo e... a mesma coisa! (risos) A Universal Music, minha gravadora, disse "Nós precisamos do vídeo para o primeiro single internacional de UMLB!"

Uma vez que não estávamos com ele pronto, meus amigos e eu nos encontramos na necessidade de fazer outro vídeo na Islândia, enquanto gravávamos IFI, uma vez que o mercado internacional estava PEDINDO por isso (risos). Uma vez que o outro já estava em processo, nós tivemos que encontrar outra alternativa para fazer um vídeo em tempo.

No final, eu gosto muito do primeiro vídeo de UMLB, eu realmente gosto da história. Eu mergulho, e eu estou fascinada pelo mundo sob a água, o que funciona muito bem com o cenário. As lindas paisagens da Islândia não podem ser encontradas em nenhum outro lugar do planeta.

Falando sobre o "segundo" vídeo de UMLB, no qual você recriou a sua morte e a cobertura da mídia para essa notícia, ele mostra fotos e imagens não só da sua carreira, mas também da sua vida particular. E bem, você mencionou que o WLB é um álbum muito pessoal. Qual é a conexão ente esse vídeo em particular, e as letras desse seu novo trabalho?

Muitas vezes quando fazemos vídeos, muitas vezes eles não têm nada a ver com as letras da música. Você pode imaginar algum tipo de história legal e construir algo à partir daí, não é necessário que tenha relação com as letras. Agora, eu escrevi esta canção inspirada pela morte de Michael Jackson. Antes que o rei do pop falecesse, muitos acreditavam que seus shows em Londres não seriam bem sucedidos, que ele nunca iria conseguir, que seria um desastre, e depois das notícias [sobre a morte dele] todos estavam dizendo que ele era o Rei do Pop, que ele era o melhor artista pop de todos os tempos... no mundo inteiro.

Para mim, escrever uma canção como UMLB... é claro que não tem a ver com a minha morte, é só algo simbólico para mostrar que você não deve mudar a sua opinião ou, dizendo melhor, QUE  VOCÊ TEM QUE SER CORAJOSO O SUFICIENTE PARA DIZER O QUE VOCÊ REALMENTE PENSA, não importa o que aconteça! Depois de mudanças tão drásticas, nós também tendemos a mudar. oh! Sabe, eu costumava pensar isso como se você tivesse vergonha disso. Para mim, ele era o Rei do Pop, não importa a vida pessoal dele, ou o que a mídia publicava sobre ele e blá blá, para mim ele era sempre o Rei do Pop! Isso foi o que inspirou UMLB, acontecimentos, tudo o que acontece conosco na vida.

Sim, neste álbum você fala sobre a vida, você fala coisas que você queria dizer, e você usou uma metáfora muito boa para explicar o que você fez com esse CD, que você abriu "a caixa de Pandora" enquanto estava compondo. Eu entendo que WLB é um álbum pessoal. O que você descobriu quando abriu essa caixa de Pandora? O que estava dentro dela? O que você aprendeu sobre você mesma e sobre os outros?  

Bem, o processo de composição levou cerca de dois anos, e foi muito... foi uma grande aventura dentro de mim, quando eu olhei para como minha vida tinha mudado, como eu... bem, não mudei, mas como eu vivi essas mudanças. Se você pode se abrir para todas as mudanças culturais, se você pode se abrir para todas as mudanças súbitas na vida, então você muda, e não necessariamente em um caminho errado... e eu aprendi a viver a minha vida de uma forma muito positiva.

Eu passei por grandes mudanças na minha vida, mas eu tenho uma razão para acreditar que elas foram boas para mim. De alguma forma, elas me ensinaram algo, uma lição, eu aprendi a minha lição e agora eu posso aproveitar a minha vida, sendo alguém capaz de transmitir essa alegria. É muito importante como artista escrever sobre como você realmente se sente, escrever canções sobre o que você realmente quer dizer, ou contar. Hoje em dia, eu tenho essa maravilhosa liberdade e eu aprendi muito durante TODO o processo de composição do WLB, muito. Eu aprendi sobre mim, sobre a vida, e sobre todo mundo. Eu sou uma mulher, eu sou uma adulta e eu adoro a forma em que minha vida... (silêncio) com o bom e o mau, e eu aproveito o momento em que eu vivo no presente.

E você parece realmente feliz, considerando que no passado você cantou coisas muito pessoais, só que escritas por outro músico...

Felizmente, agora eu tenho minhas próprias músicas! (risos)

(Risada)

Sim, de uma forma... bem, é muito libertador! Eu me sinto muito livre cantando as minhas próprias letras, e o sentimento é diferente. Sabe? Quando eu canto o meu próprio material para o público, quando eu canto minhas próprias histórias para o público, é maravilhoso!

Quando você fala sobre coisas pessoas em um álbum como o WLB, muitos fãs tenderão a elaborar teorias sobre o real fundo dessas letras, relacioná-las com o que você viveu, Oh! O que ela está dizendo aqui? De quem ela está falando? Quais interpretações você já ouviu?

Muitas, e muito diferentes. Você sabe como a música é em geral, é sobre emoções, e se você escuta música, não importa qual, você sempre pode pensar algo da sua própria forma... encontrar algo que irá te alcançar, que irá te tocar... E ISSO SEMPRE ESTARÁ CERTO. Não há apenas uma interpretação nas minhas composições, e é isso que eu sempre disse, que eu quero entregar letras que tenham significados diferentes para cada pessoa.Elas sempre terão um significado especial para mim, apesar de que eu não gostaria de ser tão direta que todos pensariam oh, ela está escrevendo sobre isso ou aquilo. Todos deveriam ter a liberdade de entender o significado que quisessem, o que eles desejam, o que eles vêem, porque a emoção é o que realmente nos guia, e a música é capaz de ajudar as pessoas com os seus problemas, e por isso ela é tão importante para tanta gente. Você não precisa ser músico para acreditar que música é importante.

Eu não gosto de explicar minhas letras. Talvez algumas pessoas pudessem se sentir envergonhadas de ouvir isso! Eu verei se certas músicas provocam um sentimento em particular em mim. Se um compositor vem e me diz oh, bem, eu acho isso, eu acho aquilo, eu estava sentado na praia enquanto estava escrevendo sobre a minha mãe e eu fico tipo Oh! Para mim é completamente... (risos) Minha idéia é completamente destroçada! Sim, é por isso, essa é a razão pela qual eu não gosto de explicar minhas letras para as pessoas, elas deveriam ter a liberdade de pensar o que quisessem.

A coisa que acontece com os seus fãs, como estávamos dizendo no começo, é que eles sentem uma conexão muito especial com você, de muito amor e comunicação. O que você diria para todos esses que tentam conhecer você um pouco melhor como mulher, através das letras do WLB?

Que a única coisa que eu adoraria conseguir desses que escutam a minha música é... (silêncio), o que eles deveriam saber sobre mim é que eu sou simplesmente mais uma deles. Viu? Que eu sou simplesmente uma de vocês! Uma deles! Nada mais do que isso, que eu sou apenas uma mulher que gosta de fazer música. É um presente, um regalo, um prazer para mim, e eles são um presente também, uma bênção para mim.

Essa é a única coisa que eu realmente quero, eu adoraria que eles entendessem que eu sou simplesmente mais uma deles.

Sobre Mike Terrana e os outros músicos: Eu posso dizer que eles me amam

Dessa vez, ao contrário de no MWS, no WLB você estava no controle de toda a produção, direcionando cada estágio do processo, da composição, passando pela gravação da bateria e do baixo com Mike Terrana e Doug Wimbish, até a orquestração, a mixagem em diferentes estúdios, tudo. Você já apontou que essa foi a maior produção que você fez na sua carreira. Como você se sentiu, em relação ao desafio?

Foi ótimo trabalhar com pessoas tão talentosas. Todos que estão envolvidos na gravação ou na produção do WLB comigo, me ajudando, os engenheiros de mixagem, (Colin Richardson, Tim Palmer e Slamm Andrews) engenheiros de masterização ou de som, todos, eles são pessoas muito talentosas, e eu já tenho a benção de conhecer muitos deles já por muito tempo.

E para mim, estava claro. Quando eu tinha quatro canções como demos (quatro demos bem cruas salvos no meuc omputador), eu as enviei para os músicos e disse: "Não prestem atenção na bateria e nas guitarras, por favor," porque elas estavam bem cruas, e eu reiterei para eles "gente, eu quero vocês no estúdio, eu quero que trabalhemos juntos, que treinemos um pouco, tentem diferentes opções e direções. Não vamos ficar muito tempo no estúdio, e eu confiu que vocês podem fazer isso. Eu conheço a forma como vocês tocam, eu sei o que vocês fazem." Eu trabalhei com todos os músicos que estavam lá, gravando comigo, por muitos anos, então eu sabia o que eles eram capazes de entregar. E acabou sendo fantástico! Eles fizeram tanto esforço, e contribuíram tanto. Foi maravilhoso de verdade!

E sobre a pressão! Esse tipo de desafio... sim, é um desafio imenso produzir um álbum pela primeira vez, apesar de que a pressão evaporou quando fizemos o primeiro take! Quando nós fomos para o estúdio e eu vi que Mike Terrana, meu baterista, estava de bom humor, que ele tinha ensaiado tudo, que ele estava relaxado. Nós só precisamos de três takes para uma música e eu disse para mim mesma "Uau! Se as coisas seguirem assim, fantástico (risos)!" Então esse foi o dia do começo, e foi da mesma forma até o fim da produção. Foi muito legal quando eu finalmente tive o CD nas minhas mãos e pude gritar "Eu adoro meu álbum! É exatamente o que eu queria, até mais do que eu queria! (risos)" Eu senti muito orgulho, de mim mesma e de todas as pessoas ao meu redor, orgulhosa do aspecto da produção, da minha música! (risos)

Você falou sobre Mike Terrana, e a verdade é que uma grande diferença entre o MWS e o WLB, é que no último você tinha uma banda bem parecida com a que você teve na turnê mundial anterior, incluindo ele, Doug Wimbish, Alex Scholpp, Max Lilja. Você se sentiu mais confortável?

Era muito importante tê-los ali. Eu estive tocando com eles por quase quatro anos e foi uma experiência excelente. Algumas vezes Doug não pôde estar comigo, nem Alex, mas Mike esteve comigo desde o começo e é um grande presente ter caras como eles me apoiando, tocando música. Euq uero dizer, realmente funciona, a banda está no seu melhor, muito coordenada, ela soa bombástica! É muito legal fazer rock com esses carinhas (risos)! [carinhas = little guys = chiquillo, uma forma afetiva de se chamar alguém em espanhol] Há assuntos envolvidos, além da música, e essa é a chave. Por exemplo, Mike e eu nos tornamos muito amigos, e nós nos mantemos em contato quando não estamos em turnê, e eu posso dizer que ele sente muito carinho por mim. Esse é um ponto importante.

Eu creio que no dia 23 de março, o show em Santiago será como uma reunião familiar, para os chilenos e para os músicos. A atmosfera será muito positiva e alegre...

Sim, quero dizer, essa turnê sul-americana é algo pelo que eu estive esperando com muito entusiasmo por mais de um ano, realmente ansiosa pelo dia em que eu iria tocar para vocês de novo. É um grande prazer ver a tremenda paixão do público dos seus países e do Chile. Vocês dão tanto amor ao artista, tanto amor aos músicos, e é por isso que é um prazer de verdade ter a oportunidade de cantar para vocês, chilenos.

Jorge Ciudad
Colaboração: Winter Storm Chile