Entrevista anterior à visita de Tarja à Argentina em março, quando se apresentará no dia 26 na cidade de Rosario e no dia 27, no Luna Park. (Entrevista realizada em 25 de fevereiro de 2011).

1 - Como você se prepara para essa nova visita à Argentina, aonde é uma das artistas mais queridas?
Sou? (Risos) É algo que me faz muito feliz. Estive praticando muito, treinando muito, correndo, nadando, treinando a minha voz todos os dias. É um trabalho muito duro, estou muito feliz por voltar a Buenos Aires, passei tanto tempo fora, dois anos é um tempo longo para mim, porque as pessoas sempre foram excelentes comigo, estou realmente feliz.

2 - O fato de adicionar o show na cidade de Rosario logo depois do show no Luna Park mostra o seu crescimento dentro da Argentina, o que te fez tocar lá pela primeira vez, você esteve alguma vez em Rosario?
Nunca estive antes na cidade de Rosario, é muito lindo fazer outros shows na Argentina, além de Buenos Aires. Sei que muitos fãs vêm de Salta, Mendoza, e também do sul do país, fazer tantos shows na América do Sul me deixa feliz, assim como poder fazer shows no interior, aonde os fãs são tão fiéis. Sei que há um fã-clube em Rosario, será muito bom poder fazer uma apresentação lá.

3 - Esteve no Luna Park, cantando como convidada do Rata Blanca. Que sensações passa por você, ao ter esse cenário místico para você, seus músicos e as suas canções?
É incrível. Incrível. Para mim, pensar que farei um show no Luna Park é incrível. É uma possibilidade enorme, é como... Oh, não posso acreditar! (agitando as mãos) É um estádio enorme, um lugar com muita história. (respondendo tudo em espanhol)

4 - Sonhando com um pouco de ambição... depois do Luna Park, o que virá?
Sabe Deus... Eu gostaria de alguns shows em teatrox, no Gran Rex, eu gostaria, é um cenário diferente. Em um teatro, poderia dar um show diferente, não musicalmente, mas sim em relação ao vestuário... na estética, como o que aconteceu em La Trastienda. Não sei, também estou planejando fazer alguns concertos clássicos.
Como os de "Noche Escandinava"?
Muita gente me pergutna sobre a volta do Noche Escandinava, e eu gostaria que pudéssemos nos juntar novamente para fazer isso, mas o problema é que cada um de nós que cantou no Noche Escandinava, todos têm suas famílias, filhos, todos são de países diferentes, nos juntarmos é muito difícil, mas tenho planos, não necessariamente para o Noche Escandinava, mas algo similar, isso porque em 2010 me concentrei muito na música clássica, trabalhando muito com minha professora de canto aquí em Buenos Aires.

5 - Nesta turnê na América da Sul, você conta com um integrante argentino, Julián Barret, na banda, ao contrário do que nas visitas anteriores. O que você pode nos contar sobre Julián na banda?
Sabe, Julián tem muita ambição, é um cara jovem mas tem ambição e muito talento, é muito talentoso (em castellano). Julián esteve também em meu último disco, gravou duas canções para mim no estúdio, então vi como trabalha.
Ele esteve na Rússia, verdade?
Sim, esteve na Rússia para um show, ele e o irmão dele. Já fizemos coisas juntos e sei como ele trabalho. Espero que tudo transcorra bem, também está aprendendo inglês todos os dias, é bom para ele (risos).

6 - Que mundanças aconteceram na formação da banda, em relação à sua última visita? Maria não está...
Maria não está. O tecladista novo é alemão, se chama Christian, assim como você, e é muito talentoso (em castelhano). Estou muito feliz de trabalhar com ele. É um tecladista de heavy metal?

Não, não é um tecladista de Heavy Metal, ele tem uma banda de pop. Estive trabalhando com artistas alemães que fazem diferentes tipos de música, isso é o que me encanta nele, pode ver a música de ângulos diferentes, isso é o mais importante na minha banda. Temos fundos musicais diferentes, todos nós, um no heavy metal, outro no rock, outro no funk, outro no pop, um na música clássica, e por isso a minha música é tão rica, cada um adiciona algo a isso. O que sinto é que hoje realmente tenho uma banda muito forto, eu os contrato, eles são músicos de sessão, mas não sinto como se eu fosse a "patroa". Estamos fazendo isso juntos, gosto da equipe que formamos. Eles sentem a banda. Então somos o Max no cello, Doug no baixo, Julián nas guitarras, Mike TErrana na bateria, e Christian nos teclados. Aconteceram algumas mudanças... no Luna faremos algo especial...
Mike é muito engraçado, não?
Sim, é muito divertido, ele é o mais próximo de mim na banda.
Vi algumas fotos muito divertidas de vocês. (risos)
Sim, sim (risos). Estamos loucos, quando estamos juntos é um momento de diversão.

7 - Vai interpretar alguma música em castelhano nessa turnê pela América do Sul?
Sim, estou preparando...
E não vai a me dizer qual é, não é?
Não posso (risos). Me matariam! (em espanhol) (risos).
É uma canção de metal?
Mmmm.
Rock?
Mmmmmmmmmm. (move as mãos indicando mais ou menos) Algo parecido. É uma surpresa. Já quando eu começar a turnê no México a tocaremos, aí vocês entenderão.
É com toda a banda, ou só você no piano?
Com toda a banda.

8 - Você está pensando em fazer um DVD com a turnê na América do Sul?
Sim, eu tinha isso em mente. Eu desejava muito fazer um, porque tinha planejado dois shows no Gran Rex, estava tudo perfeito com o promotor para fazer os concertos no Gran Rex e logo, repentinamente, tive que trocar esses dois concertos no Gran Rex por um no Luna Park. Tinha tudo encaminhado, todos estavam de acordo. Estes dois concertos no Gran Rex eram uma oportunidade para fazer esse DVD, eu queria fazer um DVD só com esses dois shows de Buenos Aires, porque esta é a minha casa, mas agora que o concerto é no Luna Park há muito risco, para fazer tudo em um concerto só, trazer todos os técnicos de fora, tenho que colocar alguém daqui que não conheço bem. Então me matarão, eu tenho o desejo, mas ainda tenho o desejo, mas para o futuro, não será nessa turnê, mas no futuro.
Talvez um vídeo?
Mmmmmmm, estou pensando em algo, algo que acontecerá num futuro muito próximo...
Mas ao vivo? Talvez da turnê pela América do Sul, mesclar imagens para um vídeo.
Seria lindo, mas tenho outros planos, que ainda não posso te contar (risos).
Você não pode me dizer qual é a canção em espanhol e nem sobre o vídeo. OK, obrigado. (risos)

9 - Que diferenças há entre esse último disco e o anterior, tanto no musical quanto em seu amadurecimento como solista?
Muitas diferenças, porque este é um álbum muito pessoal para mim, muito mais pessoal do que o primeiro álbum. Isso porque eu estou escrevendo muitas canções agora, estou muito mais envolvida, e isso para mim é fantástico, porque me faz sentir mais livre e me dá a chande de dizer o que eu realmente sinto, é incrível, muito bom. É por isso que para mim é um álbum muito pessoal, é um álbum que eu tinha muita vontade de fazer, porque representa a mim e ao meu amor pela música. Seja no meal ou no clássico, o que você escuta no álbum sou eu. Neste álbum eu compuz, produzi, fiz tudo. É o meu bebê, é muito especial.

10 - A banda Van Canto participa da canção "Anteroom of Death". Como aconteceu essa participação? Qual é a sua opinião sobre o Van Canto e seu projeto inovador?
Nos conhecemos na Bélgica, aonde há um festival chamado "Metal Female Voices" (em castelhano). Eles queriam fazer algo comigo, e nesse momento, não era possívo. E eu tinha a versão demo de uma canção na qual eu tinha a louca idéia de colocar uma quantidade enorme de arranjos vocais, só com a minha voz... o que seria chato, muito trabalho, e ao vivo seria impossível, então falei com eles, eles gostaram d amúsica e foi fantástico o trabalho que fizeram, estou muito feliz com o resultado.
Qual é a sua opinião sobre eles, como banda?
É muito diferente, e eu os apoio, porque gosto quando alguém faz algo diferente. Não me fecho em apenas uma forma de música, se alguém me pergunta "Tarja, você é uma cantora de metal ou de música clássica?" eu respondo "Sou uma cantora." Não me coloco em um estilo em particular, eu faço isso do meu coração, então bandas como o Van Canto são grandiosas, eles estão fazendo algo diferente, são muito talentosos e o que fizeram na minha música foi algo diferente também, não interpretar sons como fazem na sua banda, nada instrumental, apenas vozes.

11 - Qual é a sua canção preferida do What Lies Beneath?
Ai! Você me matou (risos). (Em espanhol) É muito difícil de dizer, porque há canções muito diferentes, há canções mais orquestrais e outras bem pesadas. Escrevi as canções de acordo com o que eu sentia em cada momento. Então, se estou cansada, diriggindo e estou com sono, coloco "Dark Star" ou "Falling Awake", mas se preciso de algo mais relaxado, gosto de escutar "Underneath", mas são todas muito importantes para mim.

12 - Bom, foi uma pergunta conflituosa... Como já se passou muito tempo, me animo a te perguntar se convidaria Tuomas ou Marco para participarem de algum tema de um álbum futuro?
Como? O que? (risos) (olha para o outro lado e segura a cabeça)
Sim, pergunta feia.
(risos) Não. Mas se eu acho que poderia acontecer (risos) Não... creio que não. (em castelhano).

13 - Quais músicos, que você ainda não convidou, você gostaria que participassem de um disco seu?
Uau... Muitos, no mundo existem muitos músicos excelentes, e tantos que eu poderia mencionar, já estou planejando o meu novo álbum, estou escrevendo canções também, tenho idéias loucas para o próximo álbum. Mas um nome em especial... é difícil... Eh... Peter Gabriel, seria lindo (risos).

14 - Muitos rumores correm dentro da cena sobre a sua relação com Giardino, e a possibilidade de um projeto juntos. O que você pode dizer sobre isso?
Somos amigos, sempre que venho, nos encontramos. É uma pessoa muito agradável. Estivemos falando sobre isos, e sim, estou segura que no futuro faremos algo juntos. Não sei exatamente quando, não colocamos data para nada. Ele compõe outro estilo e gosta de fazer isso sozinho, e me disse que é muito difícil para ele pensar algo para a minha voz.
E talvez convidá-lo para algum show ao vivo?
Sim, isso também seria lindo.

15 - O que você mais está ouvindo atualmente?
Pode ser "U2", não estou tendo muito tempo para ouvir... de metal, "Alice in Chains", também, algo pesado com guitarras fortes, muito grunge... Bom, escutei no rádio que o "Avenged Sevenfold" está por vir para a Argentina, e também os escuto. E não estarei aqui para ver o show! Mas continuo comprando muita música, gosto de escutar as pessoas que trabalham comigo.
Você escuta música argentina?
Não muito, na verdade, não muito. Gosto de "Soda Stereo", mas não estão mais juntos, eram demais... Também gosto muito da voz de Alejandro Lerner, meu marido tem alguns álbuns dele, assim, algumas vezes o escuto. Me ajuda muito pensar na letra, em castelhano, como escreven, Gustavo Cerati é um grande escritor e espero que melhore.

16 - Desde a sua aparição no Nightwish, na Argentina, está na moda que muitas garotas entrem para bandas de metal, especialmente as que se dedicam a um metal mais lírico. Qual a sensação de ser uma precursora, e que conselhos você daria a essas garotas que sonham em ser cantoras famosas?
Creio que é simplesmente maravilhoso, é muito lindo ser inspiração para alguém. Garotas jovens, que começam a fazer música, aprender canto... para mim é muito especial, me sinto honrada, como quando tive meus estudantes aqui, de fato em setembro e outubro estarei ensinando aqui, é muito lindo, sabe, a música é vida, tem que ser assim.
Que conselho você daria para todas essas garotas que querem ser como você?
Ninguém pode cantar como eu, e eu não posso cantar como os outros. Posso ser um modelo para alguém e isso é lindo, me dizem "Eu quero cantar como você", mas não precisa ser assim, porque cada um tem que encontrar o seu próprio caminho como cantor, é uma aventura, leva anos, muito trabalho, por isso quando muita gente me diz "É? Você precisa praticar?" eu respondo "Sim, todos os dias, não é um truque que alguém possa fazer".

17 - Imaginemos uma realidade paralela aonde você nunca entrava para o Nightwish e não se dedicava à musica. Qual seria a sua profissão?
Pergunta difícil, uau (risos). (Pensa um pouco e coça a cabeça). É difícil fazer suposições. (continua pensando). Com certeza faria algo relacionado com a arte, talvez atuando, quando estava na escola eu era muito boa em literatura. E em história também, mas não me pergunte nada agora sobre a história da Finlândia, porque a artista levou tudo (risos). Mas é muito difícil dizer algo fora da música, porque a música é a minha vida.
Você atuou na Finlândia.
Sim, em coisas pequenas, se alguma vez me chegar uma proposta séria, eu gostaria de fazer, porque gosto de aprender.
Além da música e da atuação, que outro ramo da arte gosta? Literatura, pintura...
Gosto de fotografia, é algo de que gosto muito. Realmente não sei escrever, não sei pintar... não posso desenhar nada além de... uma flor (risos). Mas a fotografia me encanta.
E na literatura, você gosta de ler?
Sim, não tenho muito tempo, estive lendo Paulo Coelho, li primeiro tudo em inglês e agora li em castelhano, dá pra ver como as linguagens são diferentes... Dele agora, estou lendo "Valquírias".

18 - Quais eram os seus sonhos quando menina? A realidade superou todos os sonhos?
Quando eu era criança, eu era uma sonhadora, hoje em dia continuo sendo, tenho muitos desejos, muitos sonhos, ainda tenho. (em castelhano) Mas quando era criança, o meu sonho era ser famosa, ser uma cantora, quando tinha seis anos eu já dizia "Quero ser cantora!" (fazendo voz de criança), (risos). Cresci em uma cidade muito pequena, todos me diziam "Você está louca, continue tentando, nunca se sabe o que pode acontecer na vida". Quando penso nisso, é muita loucura como tudo aconteceu em um período muito curto de tempo, como tudo chegou na minha vida. É muita loucura.

19 - Pergunta que sempre te faço nas entrevistas... Tarja Turunen pensa em ser mãe em um futuro próximo?
Ai, Deus!!! Outra pergunta difícil (risos). Todo o dia trabalhando! (em castelhano) (risos) Claro que tenho esse sonho, é um sonho enorme virar mãe, não é uma decisão fácil, mas se Deus me der a chance, sim... em algum momento, assim será.

20 - Qual foi a última partida que você assistiu do San Lorenzo, você gosta do futebol, segue a campanha da equipe de Boedo?
Ganhamos...
Ganhamos?
Sim, ganhamos..
Mas você gosta do futebol ou só o acompanha?
Sim, eu gosto, ontem fui com o meu marido, ele está jogando duas vezes por semana e eu o acompanho, gosto de ver as partidas, está bom... todos vão atrás da bola, é como uma cenoura que têm para seguir (risos) (Em castelhano)... Mas sim, eu gosto, meu time é o San Lorenzo, sou fã.

21 - Há muitos anos você está no país, e ultimamente, se instalou um debate político na Argentina. Vindo de um lugar tão distante quanto a Finlândia, e já instalada em Buenos Aires há um tempo, como você vê o país?
A primeira vez em que vim foi surpreendente para mim, é uma cidade tão grande, não tinha estado em cidades tão grandes na minha vida, o trânsito terrível, mas os meus sentimentos por esta cidade mudaram radicalmente, amo essa cidade, me sinto livre aqui, gosto dos edifícios, da arquitetura que tem aqui. Na Finlândia, não se vê muito disso, aqui gosto de tirar fotos, há muitos lugares bonitos, como a cidade, todos os meus amigos finlandeses que vêm para cá se surpreendem. Eu faço o tour pela cidade com eles quando vêm (risos). "Aqui temos o Parque Rivadavia" (em espanhol e fazendo sotaque argentino) (risos). Eles amam a cidade, mas o país está sofrendo, é muito triste ver isso e não está melhorando, está piorando, há corrupção em todos os níveis, nas pessoas que decidem, em todos os níveis, então é difícil mudar a mente das pessoas. Eu venho de um país muito seguro, aonde você sabe o que vai acontecer, tudo é muito estruturado. Aqui você nunca sabe, você planeja um dia e não sabe o que vai acontecer, é um problema com o trânsito ou acontece alguma outra coisa, mas isso não é um problema para mim, isso me encanta, quero ter uma vida assim, ou seja, quero ter uma vida segura sim, mas não rotineira, porque eu ficaria entediada.
Já dirigiu pela cidade?
Estou começando...
Bom, assim vai aprender mais insultos com certeza (risos)
Com certeza! em Mar del Plata estive dirigindo, e também aqui, nos domingos, quando as pessoas dirigem como...
Sim, muito lentamente, os "domingueiros".
Sim, os domingueiros! Que vão devagarzinho, como eu! (Em castelhano) (risos)

22 - Umas palavras para os fãs argentinos que esperam ansiosos pelos shows de Buenos Aires e Rosario.
É incrível sentir o apoio que me dão, é incrível, adoraria poder retribuir, fazer algo, se bem que com a minha música estou fazendo algo, não sei como explicar, algo para retribuir tamanho amor que têm por mim, tanto amor que recebo. Poder fazer isso através da minha música é grandioso, eles têm tanta paixão, me fazem sentir muito, muito feliz por estar aqui, são extremamente especiais.
É o melhor público do mundo?
Sim, sim, e eu sei que todos dizem o mesmo, mas sinceramente sei que é assim, é incrível.

Entrevista realizada por Cristian Carcagno e Claudio Domínguez.