O PREÇO DA INDEPENDÊNCIA

A célebre cantora finlandesa Tarja volta ao nosso país para promover o seu álbum do ano passado, "What Lies Beneath". Antes de começar a sua turnê latino-americana, que a trará para Bogotá e Medellín, a Rockombia conversou com a adorada soprano, que estava na cidade de Buenos Aires. A doçura da ex-vocalista do Nightwish é comparável ao entusiasmo que emana ao falar de sua carreira solo.

Entrevista e tradução para o espanhol: Alejandro Bonilla Carvajal

Alguns meses atrás, o "What Lies Beneath" começou a ser vendido, a continuação ao bem recebido disco "My Winter Storm". Neste novo ábul, destaca-se a sua participação em diversas áreas: você produziu a gravação, escreveu as letras, colaborou com os arranjos e gravou o piano. Definitivamente, Tarja é muito mais do que uma mulher dotada com uma grande voz.

Me levou cerca de dois anos preparar todas as canções, e depois me colocar no cargo de produzí-las. Compús mais de trinta músicas para este álbum, para escolher as que finalmente aparecem nele. Tenho algumas composições que não foram incluídas, com o propósito de lhes dar algum uso mais para frente, ou efetuar certas mudanças. O processo de gravação foi fantástico, e muito mais sensível, em relação ao meu primeiro disco. Todo começo é difícil, mas também temos o fato de que eu tinha uma carreira extensa com uma banda. Para esse segundo álbum, as coisas foram um pouco mais fáceis; eu sabia o que eu queria, tinha os arranjos para as canções, conhecia os músicos que iam tocar comigo, e me arrisquei mais para conseguir o som que eu desejava. Estou satisfeita e orgulhosa pelo "What Lies Beneath".

É certo que para o "My Winter Storm" existia bastante pressão por ser o seu primeiro álbum solo (Nota: não levei em consideração o álbum natalino "Henkäys Ikuisuudesta"), suponho que o "What Lies Beneath" também representou um grande desafio para manter o nível demostrado na sua estréia, e, inclusive, superá-lo.

Houve muita pressão no meu primeiro disco, "My Winter Storm", já que eu tinha que fazer todo mundo entender o que eu queria fazer. Tive que escolher meus músicos, escolher uma nova gravadora... tudo foi muito novo para mim. Para o meu segundo álbum já não tinha aquela pressão, eu tinha mais liberdade para fazer as coisas por conta própria, tinha todos os músicos escolhidos para trabalhar, e já sabia perfeitamente como queria fazer essa produção. Por termos tido a oportunidade de sair em turnê juntos por muito tempo, e nos gostarmos muito, tudo foi mais fácil. Não senti tanta pressão nessa oportunidade, e por isso tive completa independência para fazer o melhor álbum possível. Considero que o meu próximo álbum, inclusive, será mais simples de se fazer do que esse. Foi um processo maravilhoso.

"What Lies Beneath" me parece um título bem misterioso. Revendo as letras e o conceito geral do disco, existia alguma idéia em particular que você procurou transmitir aos seus fãs com esse trabalho?

Não existia um conceito que me fez compor as letras das canções, nem mesmo o nome do álbum. É um trabalho muito pessoal, tudo o que eu queria dizer está nesse disco. Coloquei todo o meu empenho, alma, e inclusive, suor, durante o processo de criação. Sinceramente, escrevi com coragem as letras que estão nele, e gostei disso. No "What Lies Beneath" há canções que podem nos dizer diretamente sobre o que está acontecendo, já que mencionam aspectos que nem sempre são fáceis de se apreciar, mas que ocorrem o tempo todo nas nossas vidas. Às vezes, tomamos as coisas de certa maneira, e no dia seguinte, as percebemos de forma diferente. Podemos viver com alguém que amamos por muitos anos, e depois nos dar conta de que tudo havia terminado e determinar as razões pelas quais isso teria acontecido.

Queria te perguntar sobre a canção "Montañas de Silencio", inclusa na versão norte-americana do álbum; nela, podemos escutá-la cantando em espanhol.

"Montañas de Silencio" nasceu em menos de duas horas (risos). É uma canção bonita, que eu realmente amo. A escrevi com um grande amigo, que é o violoncelista Martin Tillman, que é um gênio. Estávamos em seu estúdio, ele estava tocando o piano e eu permanecia perto dele, cantando. Dessa forma ela foi gravada. Simplesmente deixamos fluir a melodia, e com essa liberdade, em menos de duas horas estava terminada. Precisamente, é a essa liberdade que me referia anteriormente. "Montañas de Silencio" é um bom exemplo de como me sinto atualmente como artista, e da independência da qual preciso para cirar. A prioridade é fazer música para mim, não importa o que seja, se é honesta funcionará, porque vem do coração.

Outra canção que se destaca, é a emocionante "I Feel Imortal", que apareceu em cima da hora e, pelo que entendo, foi um pouco alterada por você.

Essa canção não foi escrita por mim. A gravadora Universal Music da Alemanha a ofereceu para mim. Não estava muito interessada, já que a princípio eu tinha minhas dúvidas a respeito, mas finalmente ficamos de acordo que eu a faria, se pudesse fazer algumas mudanças. A única coisa que permaneceu igual é o refrão; as letras foram modificadas, a melodia e os versos são novos, assim, é algo completamente diferente do que me ofereceram no princípio. Eu coloquei nela o meu coração, e gosto de como ela ficou, afinal.

Já que menciona a sua gravadora, Universal Music, como você avalia o trabalho que vêm fazendo com a sua música? Ouvi dizer que, em alguns países, seus álbuns foram editados por subsidiárias.

Considero que poderiam fazer muito mais do que vêm fazendo. Em algumas partes estão levando bem, mas em outras, poderiam esforçar-se mais.

Falemos dos músicos que a acompanham atualmente. O que você pode contar para nós, de cada um deles?

Tem o baterista Mike Terrana, que vem trabalhando comigo desde o começo da minha carreira solo, e que já esteve na Colômbia. Ele é bem conhecido por seu trabalho como baterista de metal, mas comigo, toca de uma forma diferente. Fico satisfeita que ele esteja comigo, já que formamos uma excelente equipe. O guitarrista é argentino e se chama Julian Barret, que pela primeira vez sai em turnê comigo, no último disco, participou de duas canções: "Still of the Night" e "I Feel Immortal". É bem jovem e talentoso... tem força de vontade (risos). Nos teclados, encontramos Christian Kretschmar. O encontrei através de minha colaboração com o projeto de música eletrônica Schiller alguns anos atrás, onde ele colaborava há muito tempo. Me pareceu interessante que pudemos tocar juntos, e sera a sua primeira vez na América do Sul, o que será uma grande experiência para ele. Max Lilja estará à cargo do cello, ele foi integrante da banda de metal finlandês Apocalyptica. Estamos trabalhando juntos a bastante tempo, e também fizemos música clássica, não só rock e metal. Tem muito talento, e estou feliz que ele faça parte da banda. Quem mais eu estou esquecendo...? Doug Wimbish no baixo! Meu Deus! (risos) Acabei esquecendo, já que ele não pôde estar comigo na última turnê, mas pôde gravar "What Lies Beneath" e "My Winter Storm". É uma pessoa fantástica, um ser muito especial e um músico genial. Esta é a minha banda.

Não há do que reclamar com tal formação. Falemos agora dos shows que teremos em Bogotá e Medellín. É óbvio que o repertório conterá músicas dos seus discos e algumas canções do Nightwish. Haverá alguma surpresa no meio?

Sempre planejo surpresas, porque sou assim. Ensaiamos mais de 30 músicas, o que nos dá a possibilidade de mudar o repertório toda noite. Isso significa um desafio para a banda e para mim, quando você está na estrada por tanto tempo, essa variedade é boa para o seu cérebro e para que não passe por perrengues (risos). Meus shows na Colômbia obviamente se concentram no "What Lies Beneath", no "My Winter Storm" e em algumas canções do Nightwish que não foram interpretadas quando fui lá pela primeira vez. Suponho que teremos algumas surpresas. É um show de rock e o faromos muito bem.

Parece quase inevitável que toce músicas do Nightwish. Matém contato com algum dos membros da banda, ou teve a oportunidade de conversar com a nova vocalista, Anette Olzon?

Para ser honesta com você, eu não estou realmente acompanhando a carreira deles. Creio que é o mais saudável. Se passaram vários anos desde a minha saída, e não vejo uma razão para voltar atrás e aprofundar-me nisso, ou no que estão fazendo atualmente. Espero que estejam contentes trabalhando por conta própria, como estou fazendo. Não tenho contato nenhum com os membros da banda, exceto pelo baixista Marco (Hietala), com quem me encontrei no aeroporto de Helsinki há algum tempo, e nos falamos um pouco.

Você escutou o disco "Dark Passion Play" do Nightwish?

Escutei um pouco na rádio quando ele saiu, há alguns anos.

Não sei porque, mas a vejo de volta para o Nightwish em alguns anos.

(Risos) Acho muito difícil, para ser sincera. (risos)

Não quero que me interprete mal, gosto da sua carreira solo, mas os fãs do Nightwish, creio, desejariam vê-la de volta. Além do mais, todas as bandas se reunem, os tempos mudam, as pessoas mudam.

Entendo que as pessoas possam amar ou odiar a idéia de uma reunião. Mas se formos no aspecto pessoal, não é uma idéia que me agrade.

Mudemos de assunto. Recentemente, através da web, vazou um vídeo em que você canta uma versão de "Ben", do Michael Jackson.

Oh sim, vi esse maldito vídeo há alguns dias, ao mesmo tempo em que o planeta o fazia (risos). Honestamente, eu estava no banheiro escovando os dentes quando ouvi alguém cantando "Ben". Meu esposo estava na Internet ouvindo aquilo, e eu lhe disse "Essa é uma música boa, quando eu tinha treze ou quatorze anos, a cantava". Não imaginava que fosse eu cantando (risos). Me aproximei do meu esposo para perguntar-lhe quem cantava, e ele estava morto de rir, dizendo que era eu (risos). Me diverti muito com isso.

Mais além do cômico que pode ter sido essa canção, Tarja é uma artista que gosta de fazer versões de outros músicos. Me lembro agora mesmo do cover que fez de "Posion", de Alice Cooper, no seu primeiro disco, e do cover de Whitesnake com "Still of The Night", no mais recente. Que importância tem para você fazer covers, e como você as escolhe?

Sempre é um desafio interpretar canções dos outros. Eu quero colocar nela um pouco do que eu sou, do que representa Tarja, para que se transforme na minha música. Isso demanda várias mudanças em relação à canção original. Amo fazê-lo, e isso é muito divertido para mim. Justamente, estou preparando algumas surpresas para todos vocês nesses concertos.

O que aconteceu com a sua faceta clássica? Continua trabalhando com orquestras de música erudita?

Muito. Este ano terá enfoque na música clássica. Por exemplo, agora mesmo estava ensaiando com meu professor de canto aqui em Buenos Aires material de óperas. Tenho programados vários concertos importantes, um deles é com José Cura, um famoso tenor argentino. Farei ópera com ele na Finlândia no próximo verão. Também estou preparando um álbum de música clássica para ser publicado no final desse ano. Assim, estão acontecendo várias coisas relacionadas ao meu lado clássico.

O metal está, atualmente, composto por muitas bandas com integrantes femininas e, por sua vez, algumas vocalistas também decidiram lançar-se como solistas. Qual a sua opinião sobre o papel da mulher no rock e no metal?

Como tudo na música, há coisas boas. Esse é o bom de ser músico, se você trabalha duro, com sorte, surgirão resultados. Estou muito contentes que existam várias cantoras no rock e no metal hoje. Não foi fácil para mim ter uma carreira como solista, já que muitas garotas estão fazendo o mesmo. Devo lutar todos os dias para que a minha música possa atingir as pessoas. São fantásticas as habilidades que muitas das mulheres apresentam atualmente. Falei com várias delas, e me disseram: "Desde que você começou, me incentivou a trabalhar de forma individual". PAra mim, foi grandioso fazer algo que levou outras mulheres a dar o melhor de si mesmas. É uma benção. Conheço algumas cantoras excepcionais como Simone Simons e Liv Kristine, é bom ver que as mulheres são aceitas, e que são importantes para o gênero. É um estilo completamente diferente de metal do qual estamos falando, para mim, esse é o girl metal (risos).

As bandas sempre tem os seus fãs dispostos a fazer o que seja necessário para apoiá-los. Sem embargos, os fãs da Tarja parecem ir um passo adiante. Sempre buscam uma maneira de compartilhar a sua música com todo mundo, tornar conhecida qualquer novidade sobre a sua vida, e representam um apoio incondicional na sua carreira.

Os meus fãs são pessoas bem sensíveis. Foi maravilhoso ter a oportunidade de viajar por muitos países, apreciar culturas diferentes, e ver como as pessoas reagem à minha música. São muitos leais e apreciam de verdade o que faço. Estão ali, não só por minha música, mas também por mim. É algo incrível, e é muito importante para mim manter contato com eles. Sem todas essas pessoas me apoiando desde que fiz o "My Winter Storm", não poderia fazer a música que faço hoje em dia. É importante tê-los ao meu redor, lembrando-me de quem sou para sempre ter os pés firmes na terra.  De todo esse amor que os fãs me professam, sempre espero dar algo em retorno. Lembro-me da última vez que estive na Colômbia, já que foi por volta do meu aniversário, e muitos fizeram questão de celebrá-lo. Teve um garoto que me levou um pastel de morango, e outros cantaram para mim nesse dia. Não pude acreditar. Existem pessoas que dedicam o seu tempo a mim, sendo eu apenas uma garota que faz música (risos). É simplesmente incrível. Um grande presente.