TARJA: POR AMOR À MÚSICA E A BUENOS AIRES

“Amo viver na Argentina. Buenos Aires é o meu lugar... me sinto conf... confortável, mas o meu castelhano não está melhorando”, conta, e ri por isso. Tarja Turunen, a cantora finlandesa que se apaixonou pelo argentino Marcelo Cabuli e trocou os extensos invernos de seu país pelo clima mais benévolo dessas pampas. Depois de amanhã, no Luna Park, apresentará o seu novo álbum, What Lies Beneath, mas hoje está falando de seu segundo álbum solo (sucessor do My Winter Storm), da liberdade que sente no caminho que começou em 2005, após ter deixado o Nightwish, de seu futuro disco clássico, dos assados que aprendeu a apreciar neste lado do mundo, e dessa estranha paixão que desenvolveu nos últimos anos: ir ao estádio ver ao “seu” San Lorenzo.

“Este disco é muito mais pessoal do que o anterior”, comenta Tarja Turunen. “Estouc ompondo mais do que antes; é algo novo na minha vida. Eu sinto como se fosse uma aventura; é parte de sentir-me livre, e sê-lo. A liberdade é incrível; não tem nada a ver com o que vivi com a banda. E também sinto a diferença ao cantar, porque o faço com muita emoção. Já não sou uma menina! Sou uma mulher, e dá pra notar isso no álbum.”

Hoje, mais do que nunca, Tarja se move tranquilamente entre o metal e a música clássica. Os dois convivem no What Lies Beneath, mas também se movem ao seu redor isoladamente. “Gravarei o meu primeiro álbum de música clássica no fim do ano, com um organista muito importante da Finlândia e em uma igreja. Será o meu primeiro álbum clássico a sério, e depois farei uma turnê pela Europa e pela América do Sul.”

Este disco é ainda mais pesado do que o My Winter Storm...

Foi influenciado pelo som norte-americano, por isso os riffs de guitarra, riffs tão característicos. Hoje em dia, estou escutando mais rock e metal dos Estados unidos, trilhas sonoras também e, claro, muita música clássica.

Você sente que é uma influência para novas cantoras? Penso em Hayley Williams, do Paramore.

Eu não sinto (ri lentamente, em resposta à timidez que lhe aflora). É que é muito forte que alguém diga isso, mas é fantástico escutar alguém dizer: “Eu estou aqui porque te vi em tal ano e me empolguei para seguir esse caminho. Mas não me sinto uma role model. Tenho que treinar todos os dias. Cuidar da voz dá muito trabalho; também ensaiar e, acima de tudo, viver em turnê.

A sua turnê sul-americana a levou pela primeira vez ao Peru e ao Uruguai (“Você só tinha cantado em um concerto privado na Botnia”, digo) e amanhã desembarcará aqui, em sua casa. Com ela, estará uma banda poderosa que se forma com o Doug Wimbish (Living Colour) no baixo, o baterista Mike Terrana, Alex Scholpp e Julian Barrett nas guitarras e Christian Kretschmar nos teclados. No álbum, entretanto, a guitarra está em muito boas mãos: as de Joe Satriani.

A Finlândia acostumou-se a tê-la tão longe?

Estão muito interessados em saber como é a minha vida em Buenos Aires, e muitos jornalistas vêm me entrevistar, tirar fonos na cidade e na minha casa. E distância maior do que a que separa a Argentina da Finlândia, não pode existir. Me perguntam como posso viver em uma cultura tão diferente da finlandesa como é a Argentina, e sempre lhes digo a mesma coisa: que é preciso manter a cabeça aberta e adequar-se.

Há uma conexão no tango, não?

Sim, mas o tango finlandês é diferente... É muito chato! Mas emocionalmente, há algo que nos conecta, que une o Norte ao Sul, e creio que é a melancolia. As duas culturas são muito melancólicas.

Na Argentina faz menos frio...

Exatamente! Isso é algo de que não sinto falta nenhuma: os invernos finlandeses.