"Trabalhando no gênero do Heavy Metal, eu sempre procurei encontrar a beleza"

Sobre a ex-vocalista do Nightwish, há muitas notícias relacionadas com a Rússia. No dia 29 de Abril, a cantora fará um show em um clube de Moscou, "La Arena Moscú". No verão, ela fará um dueto com Valery Kipelov no festival "Rock in Volga", em Samara. O correspondente da KM Music.Ru. falou com a artista que foi uma pessoa muito emocional e faladora.

Boa Tarde, Tarja!

Oh, olá! Como está?

Bem, obrigado! Antes de mais nada, permita-me parabenizá-la, talvez um pouco tarde, pelo lançamento de seu novo álbum, "WLB", que é realmente genial!
Obrigada por dar tanto valor!
Desta vez, você decidiu controlar todo o processo de gravação do álbum, desde o princípio até os toques finais... neste álbum, foi a primeira vez em que você não foi só uma cantora, mas também uma compositora e produtora. Quais foram as vantagens e quais foram as dificuldades deste método de trabalho?

Bom, em primeiro lugar, eu diria que aprendi muito ao longo dos anos. No começo de minha carreira solo, tudo foi muito novo para mim. Digo, não é que eu tenha sentido medo, temer é uma palavra muito forte, mas eu não me sentia bastante segura para fazer tudo por mim mesma no meu primeiro álbum. Era evidente que eu precisava do apoio e da assistência das pessoas que possuem o conhecimento e a experiência adequados.  Sem problemas, no processo de gravação, ficou evidente que eu não pude expressar plenamente o que pessoalmente me oprime, o que está no meu coração, na minha alma, nada mais do que eu. Às vezes, é muito difícil traduzir com palavras as emoções que te oprimem. Quer dizer, sabe, você sente alguma coisa, mas não se pode descrever a outra pessoa claramente o que você realmente sente. Descrevê-lo de forma que essa pessoa entenda por completo e implemente as suas próprias condições e sentimentos à música. Assim, desta vez decidi que faria tudo do começo ao fim, que era a forma mais fácil e natural. Por outro lado, eu tinha uma equipe de pessoas de ideias parecidas e que trabalharam comigo por muito tempo, somos perfeitamente conscientes entre nós, tocamos juntos, saímos em turnê juntos, assim, não foi difícil. Ainda que, sobre chamar-me de produtora: "Não". A palavra me parece muito "grandiosa", eu nunca me transformaria em alguém a ser chamado dessa forma... mas trabalhar no seu próprio projeto com as suas próprias músicas, com o seu coração, sabe, é fantástico! Eu adorei o processo! E, por último, eu sou a única pessoa que pode dizer como foi... quero dizer, foi uma experiência muito positiva para mim.

Muitos compositores se relacionam com o seu trabalho como se fossem filhos. Por esse ponto de vista, assim pode ser considerada a evolução da sua carreira: primeiro, babá (cuidando das canções de outras pessoas), e agora, pode ser chamada de "Mãe", porque tem os seus próprios filhos...

Sim, é algo assim. Claro, desde o começo eu fiz parte da seleção das músicas, inclusive escrevendo algo junto com pessoas que começaram a trabalhar comigo, sempre fui inclusa no processo, mas não era 100% meu. Claro que em tudo que faço estou dando o meu 100%. Coloco todo o meu coração e minha alma e dou tudo de mim. Mas desta vez foi como subir de nível, um nível pessoal, assim eu posso dizer. É um álbum muito pessoal, aonde falo sobre aquilo que amo, aquilo que odeio e, afinal, daquilo que tenho medo. É tudo sobre mim, sobre como me sinto, como entendo a vida através dos meus próprios olhos, o que me aconteceu nos últimos 10-15 anos, o que expressei através da criação de palavras e de música.

Pelo que sei, originalmente foram escritas umas 30 músicas...

Sim! Inclusive, muitas mais!

E como foi tão difícil escolher o melhor do melhor?

Sim, não foi fácil (risos). De fato, tenho um monte de esboços e canções por terminar, que eu apenas deixei de lado, não terminei. Também tenho canções muito bonitas, e continuo trabalhando nelas para mudar algo, tentando averiguar porque não as escolhi... Ainda, se aproxima o momento de escolher o material para o próximo álbum. Já comecei a escrever novas canções para ele. É um processo constante, enquanto isso, tenho muito o que aprender. Ainda acredito que não posso me chamar de profissional nesse aspecto, e meu método de escrita é muito diferente do profissional... mas eu definitivamente desfruto do processo, porque... para mim está bem, dá vazão ao que está oculto muito profundamente dentro da minha alma...

Bom, as canções escritas por outras pessoas, você planeja realizá-las?

Sim, claro que sim. Também tive que apresentar canções escritas por outras pessoas, covers. Entender o sentimento que você experimenta ao fazer o cover de outra pessoa, é totalmente diferente dos sentimentos que se tem quando se executa algo que é seu... esse sentimento estava comigo quando eu estava no Nightwish, quando eu cantava música de outras pessoas. A decisão de apresentar o seu próprio trabalho trás um sentimento maravilhoso, me sinto livre, posso contar minhas próprias canções, contar a história que criei! E isso é fantástico, como o público reage a essas canções quando as cantam junto comigo. É uma grande energia positiva! E se você compara a minha maneira atual de me apresentar com quando eu tocava com a banda, agora eu me sinto mais relaxada. É um sentimento absolutamente incrível, de que sempre tem mais para se aprender. Mas eu gosto de fazer covers agora, canções escritas por outros autores... porque isso requer um trabalho muito profundo, assim elas começam a soar como se fossem minhas, apesar de que não sejam. Porque quando faço covers, sempre tento encontrar neles algo que de alguma forma os conecte comigo.

De alguma forma, você antecipou a minha próxima pergunta, porque eu queria perguntar sobre o cover de Poison de Alice Cooper e de Still of the Night do Whitesnake. Eles comentaram se gostam da sua versão? Pelo que sei, você fez vários shows com Alice na Europa...

Sim, de fato, tive a sorte de conhecê-lo. É um verdadeiro cavalheiro, uma pessoa muito amável, me tratou maravilhosamente durante toda a nossa turnê juntos. Foi absolutamente uma experiência sem preço.

E sobre os covers: Sempre trato com grande respeito as versões originais, porque, claro, ambas as canções são legendárias, e foram as canções mais importantes dessas bandas... Mas por outro lado, cantá-las e performá-las, e a maneira de executá-las é muito diferente da minha e, claro, foi muito difícil para mim cantar uma canção originalmente feita para um homem... E foi um grande feito para mim, e eu quis que soassem um pouco diferente.

Isso é, fazer uma canção masculina originalmente soar como uma feminina...

Absolutamente!  É como projetar-me nessas canções, e eu sou uma mulher! Mas além do mais, adoro a bela orquestração clássica em Still of the Night. Eu tenho treinamento clássico e continuo fazendo música clássica profissionalmente, ainda faço aulas de canto clássico, com uma cantora de ópera aqui em Buenos Aires... e sinto a minha relação com a música clássica no dia de hoje, de modo que eu realmente queria fazer um belo arranjo orquestral e coral para essa música. E funcionou perfeitamente, a música ficou fantástica, verdadeiramente colossal!

Se você está falando de música clássica... há alguns anos você lançou, e no ano passado re-editou, um álbum de natal absolutamente assombroso. Você tem planos de lançar um novo álbum clássico?

Sim, há planos. Realmente vou gravar um novo álbum clássico em algum momento no final desse ano. Planejamos fazê-lo com um grande amigo meu, um organista muito famoso, Kalevi Kiviniemi. E o faremos na Finlândia, em uma igreja com uma excelente acústica. Entretanto, os planos são muito específicos, mas uma vez que mantemos em segredo dos fãs, o que eu mais queria dizer nesse momento eu não posso (risos). Assim que esperançosamente, no ano que vem o álbum será lançado. E estou muito contente de termos trabalhado, porque Kalevi é um organista muito talentoso, com um impressionante estilo de se apresentar.

Vamos mudar um pouco de assunto. Na Rússia, todos estão intrigados por causa dos rumores sobre você no festival de verão "Rock in Volga", enquanto a sua página oficial ainda não confirmou...

Sim, é uma informação verdadeira. As datas estão confirmadas, e aparecerão no meu site muito em breve.

Mas ainda mais interessante é a informação de que você planejou um dueto com Valery Kipelov. Como surgiu essa idéia? E você já escutou antes ao grupo "Kipelov"?

Sim, essa informação também é verdadeira. Claro, eu escutei sua música antes, tenho alguns álbuns do Kipelov, assim sei que banda é essa. E estou muito feliz por essa oportunidade de cantarmos juntos. Nunca encontrei com Valery antes, já o conhecerei na Rússica, temos que fazer alguns ensaios. E, meu Deus, terei que treinar um pouco o meu russo! (risos)

Isso quer dizer que a canção será cantada em russo?

Sim, aqui vou eu (risos)! Pelo menos algumas partes, com certeza!

Você com certeza não foi a primeira, mas sim uma das primeiras mulheres que mostraram que uma mulher pode trabalhar no gênero do Heavy metal. Porque todas as que foram antes de você são: Doro Pesch, Lita Ford, Vixxen... essas não eram mulheres, eram mais como Amazonas... Agora o gênero está cheio de clones da Tarja. Que conselho você dá às jovens vocalistas femininas? Como poderiam conseguir a sua maneira de serem escutadas?

Para mim, sempre é interessante quando garotas jovens chegam perto de mim e dizem "Comecei a cantar música clássica depois que a escutei, gosto muito do seu estilo, agora estou cantando apenas por você, etc..." E sempre é surpreendente de se escutar, quando me encontro como uma referência, um modelo a ser seguido... como sempre tive que trabalhar muito, com muito empenho, e de toda forma, segui trabalhando duro todos os dias... e nada nesse mundo é um presente, me refiro ao fato de que é um trabalho muito duro, mas do qual eu gosto muito. Eu o tomo com um privilégio, um presente do destino, a oportunidade de ser artista, de estar construindo uma carreira internacional.
E eu sempre digo a essas garotas: "Certifique-se de fazer aulas profissionais, encontrar alguém que te ensine e de trabalhar duro pelos seus sonhos. Você tem que realizar o seu sonho! É muito importante ter um sonho, mas não é nada fácil. Às vezes se tem sucesso, às vezes não. Na vida há dois pontos, positivos e negativos...

Trabalhando no gênero do heavy metal, sempre tentei encontrar a beleza. Atualmente, essa é a minha idéia básica de como realizar o Heavy Metal. Tudo nele me encanta perfeitamente, e também gosto do equilíbrio entre o poder e a beleza. Essa deve ser a minha imagem no cenário: Sempre carrego um vestido, sempre busco o feminino, porque quero ser bela!

Claro, existem garotas maculinizadas que preferem o estilo masculino, mas quero ser uma parte agradável do metal, porque sou uma mulher, e me sinto como tal... E isso sempre se pode perceber, como uma mulher no metal, e por isso sou respeitada. E é maravilhoso, é fantástico!

Que banda de apoio você escolheu para essa turnê? Todos os seus "abridores" têm vocalistas femininas! Inevitavelmente, elas são comparadas com você...

Eu só quero apoiar as garotas que trabalham no rock e no metal. Sempre as apoiei e continuo o fazendo agora. Isso é muito importante porque quando eu comecei, ao meu redor não havia muitas garotas, e eu sempre tive o sentimento de que me virava praticamente sozinha... Entretanto, sempre tento manter um grupo com garotas nos vocais. Como, por exemplo, o grupo francês Markize. Eles não só abrem shows pra mim. Eu conheço essas pessoas, gosto da música deles, por isso decidi convidá-los novamente.

Assim, não trás o Markize para a Rússia só por suas raízes russas, é pela front woman Alina Dunaevskaya?

Não, claro que não. Eu só quero dar apoio às garotas. Um monte de bandas me agrada, às vezes acontece. Por exemplo, isso implica os empresários e as gravadoras,  vem quem quer vir, quando podem, e muitas que eu nem conheço. Mas Markize eu já escutei antes.

Tarja, obrigado por essa maravilhosa entrevista! Estaremos esperando pelo seu show, tenho certeza que será uma noite verdadeira de rock sinfônico!

Eu tampouco posso esperar a minha próxima apresentação em Moscou! Prometo que será algo fantástico.

Tradução: Guilherme