Quando canta Tarja Turunen tem uma postura firme, quase de realeza. Porém, essa mulher, hoje com 34 anos, tem origem humilde e uma base familiar sólida que, segundo ela, foi essencial em sua formação clássica. Tarja é filha de uma funcionária da prefeitura de Kitee e de um carpinteiro, e tem dois irmãos. Nesta semana o CORREIO de Uberlândia foi um dos veículos convidados a entrevistar a diva, por telefone, para falar do lançamento de seu novo trabalho: “Tarja Turunen & Harus – In Concert – Live At Sibelius Hall”, que deve sair neste mês no Brasil pela Hellion Records, em CD Digipack nacional, DVD nacional e Blu-Ray + CD importado. Com ela, participam do trabalhoo Kalevi Kiviniemi (teclados), Marzi Nyman (guitarra) e Markku Krohn (percussão).
Nascida em Kitee, Finlândia, terra por onde o sol não aparece muito, ela pergunta como está o Brasil, país que aprecia e de onde sente saudades. “Estou de volta à Finlândia, aqui está frio e escuro”, disse a musicista após saber que, por aqui, o sol reina entre algumas chuvas de primavera. Tarja Turunen surpreendeu-se quando comentei que já havia visitado a Finlândia, onde tenho uma amiga, finlandesa, que é casada com um argentino. “Não acredito! Verdade? Bem, eu acho que, como eu, ela nunca deve ter pensado que se casaria com um argentino, mas a vida é o que ela é”. Tarja casou-se com o empresário argentino Marcelo Cabuli em 2003, desde então, passa temporadas em Buenos Aires.
Quando Tarja foi demitida do Nightwish, banda que ajudou a projetar e lançou discos entre 1997 e 2004, o Nightwish, em 2005, Cabuli foi citado como uma das razões. Mas passado é passado, e se você quer saber sobre Nightwish não leia a entrevista, afinal, o assunto aqui é o presente e o futuro de Tarja Turunen, que vai passar o Natal com a família na Finlândia.
CORREIO DE UBERLÂNDIA: Depois de sete anos em carreira solo você volta com uma banda, a Harus. Como está sendo isso para você, qual a diferença de Tarja Turunen solo e Tarja Turunen & Harus?
TARJA TURUNEN: Tenho trabalhado com a Harus desde 2006. A gente testa conceitos e trabalha bem junto, mas todos sempre envolvidos em projetos paralelos. Dessa vez, colocar o nome deles é uma forma de reconhecimento pela riqueza que trazem para a nossa música. Neste trabalho fizemos uma combinação que nos deixa orgulhosos. Eu amo música clássica, amo rock e amo metal. Precisava equilibrar isso na minha música, e é o que fizemos. Agora, meu objetivo principal é levar este show para o Brasil e América do Sul.
Por que fazer o primeiro lançamento gravado ao vivo e já também em DVD?
Muitas vezes eu falava para os produtores locais dos shows de Tarja Turunen e Harus mas eles não tinham a mínima ideia do que se tratava. Ficavam meio perdidos. Gravando o DVD, antes mesmo de lançar o CD foi o modo que encontramos para tentar viabilizar mais rapidamente esta turnê.
E há previsão para um retorno ao Brasil? Recentemente você esteve aqui e mesmo em condições adversas e problemas técnicos, fez um show que emocionou quem assistiu você com o Angra no Rock in Rio.
Espero que em março de 2012 essa turnê aconteça. Mal posso esperar para estar novamente no Brasil, vocês são adoráveis, me emociono com tanto carinho. Sobre o show com o Angra fiquei feliz pelo retorno que tivemos mesmo com tantos problemas. Cantaram com a gente, nos respeitaram, são pessoas maravilhosas nossos fãs.
Quando lemos sua biografia parece que seus pais contribuíram muito para a sua carreira musical. Te incentivaram mesmo quando a escola ficava há 20 quilômetros de casa e te apoiaram quando decidiu sair para estudar na Alemanha. Fale um pouco dessa época.
Fui uma criança muito feliz e abençoada. Sempre apreciei o que meus pais fizeram por mim. Era aula de piano, de canto, de teoria, de flauta eu ficava quase louca com tanta coisa e ainda tinha o ensino fundamental. Um dia eu serei mãe também e vou dar aos meus filhos essa chance de escolher que meus pais me deram. A música sempre me levou para onde eu deveria ir. Meus pais não estavam lá para cobrar algo como: “Tem certeza de que é isso que você quer?”, “Não quer pensar melhor”. Mudei de escola na adolescência, mudei de cidade, aluguei umd dormitório e era aquela dureza, às vezes comia apenas uma maçã por dia. Tive essa oportunidade e agarrei. Na Finlândia o ensino gratuito é bom, da música inclusive e sei que na América do Sul não é assim, por isso sou sempre agradecida pelas oportunidades que tive enquanto crescia.
Já que você tocou no assunto…tem planos para o primeiro filho?
Ah, eu quero ser mãe sim. Tenho coversado com meu marido sobre isso. Somos muito felizes, estamos juntos já há 11 anos e vivemos maravilhosamente bem, quase que grudados 24 horas, mas às vezes parece que tem algo ainda a ser preenchido. Vamos ter este bebê, ainda não sei quando, mas quando vier, será muito querido e sei que será um grande desafio também.
Essa semana no seu site falava do Paulo Coelho, de quem você disse que é fã. Inclusive, fez uma música inspirada em um livro dele, “Outlanders”. Como descobriu esse escritor brasileiro?
Há muitos anos tive a oportunidade de conhecer a literatura do Paulo Coelho. O que eles escreve, do jeito que ele escreve, tem muito a ver com o meu estilo de vida. O “Alquimista” é meu livro favorito. De certa forma ele ficou sabendo e perguntou se eu não participaria de um tributo a ele como o “Paulo Coelho Day”. Enviei a ele, em forma de agradecimento, discos meus. Fiquei surpresa quando ele me mandou um e-mail elogiando. Às vezes ele escreve coisas que eu gostaria de dizer bem alto e “O Alquimista” inspirou “Outlanders” que ainda não foi oficialmente.
Além de ter essa formação clássica e uma musicista respeitada, você também é vista como uma deusa do metal por sua beleza e postura. O que faz para manter a forma entre tantos trabalhos? E, por acaso já recebeu propostas de publicações como a “Playboy” para ser capa da revista?
Ah, sim, já recebi algumas propostas, e sabe que às vezes dou uma repensada nelas? Mas, você sabe como é, para ser honesta, seria ótimo estar na capa de uma “Playboy”. Mas eu sou muito perfeccionista e, depois dos 30 anos, tem coisas que não são mais as mesmas, nós mulheres temos disso. Leva muito tempo para eu fazer qualquer coisa para qual esteja determinada e acho que agora não vai mais acontecer. Gosto de me manter em forma. Fora os shows, que demandam muita energia em duas horas, eu mantenho uma rotina de exercícios, corro, nado, faço ginástica. Fico lisonjeada quando as pessoas olham para mim e gostam do que veem. Me sinto abençoada e grata.
Quando você começou a se sobressair no mundo do metal melódico tinha 20 anos e esse, sabemos, é um mundo no qual os homens são maioria. Sentiu algum tipo de preconceito por ser mulher? Acredita que as coisas foram mais difíceis para você por isso?
Nunca precisei lutar para marcar o meu território. As pessoas conhecem a minha voz, sabem que levo minha carreira muito a sério e o meu trabalho responde por mim. Vejo eles mais como companheiros e no metal tem disso, as pessoas são muito técnicas e valorizam quem conhece o que está fazendo. Conhecem a minha personalidade. Tenho acima de tudo o respeito deles. E o que ficou para trás ficou para trás e o que sou hoje é resultado das minhas escolhas.
2011 - Correio de Uberlândia
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