A diva do metal finlandês respondeu a perguntas dos leitores da “Komsomolskaya Pravda na Bielarrúsia” e convidou a todos para o concerto em Minsk no dia 4 de março.
Tarja, no verão passado, você fez um dueto com Kipelov. Me diga, como nasceu a idéia para esse dueto?
“Kipelov entrou em contato comigo antes deste outro projeto, mas naquele momento era impossível. Quando nos demos conta desse grande festival 'Rock In Volga', decidimos cantar juntos essa música, e foi muito interessante.”
Você gravará esse dueto em estúdio com Valery Kipelov?
“No momento, não há planos para gravá-la.”
Você se lembra do seu primeiro amor e seu primeiro encontro?
“Claro! Eu tinha 10 anos, ia para a escola e me apaixonei por um garoto que tinha os olhos castanhos mais lindos do mundo. O meu primeiro encontro foi mais tarde, quando eu tinha uns 13 anos. Nada de sério aconteceu nesse encontro, só demos as mãos, mas foi muito romântico.”
Como você vê a Bielarrússia?
“Só fiz um concerto em Minsk antes, mas gostei muito. Havia milhares de lindos fãs que me acolheram em seu país, e o show foi um sucesso. Lamentavelmente, não tive muito tempo para ver Minsk pessoalmente. Espero mudar isso dessa vez.”
Tarja, o seu marido é da Argentina. De qual clima você gosta mais, o frio da Finlândia ou o quente da Argentina? E o que você descobriu de interessante na cultura latinoamericana?
“Prefiro as quatro estações do ano na Argentina. Todas elas são mais quentes do que as finlandesas. Todas. Na Argentina, as pessoas são mais abertas, é mais fácil para elas aceitar as culturas diferentes, é mais fácil perceber os problemas cotidianos. Sem dúvidas, a comida é muito saborosa, com muitas influências da cozinha italiana, espanhola, portuguesa e árabe. O tempo é muito melhor do que no norte da Europa. Adoro o povo da Argentina, poder viver no país deles e falar de lá como meu segundo lar. Eles são muito amáveis e solidários.”
Quando se compara o rock ao Olimpo grego, você seria sem dúvidas a deusa principal Hera. E qual dos homens roqueiros merecem o título de Zeus do rock?
“Peter Gabriel, apesar de que toca música pop e não rock.”
Tarja, em certo momento, esteve envolvida com o boxe. Agora, não quer entrar no ring contra ninguém?
“De modo algum! Eu fui a um combate de boxe e algumas semanas mais tarde, a articulação do meu dedo se rompeu. Essa fase passou.”
Eu soube que, quando pequena, você frequentava o coral da igreja. Diga-me, nos últimos anos, como o seu crescimento pessoal e sua experiência de vida mudaram sua fé em Deus?
“A julgar pelas minhas recordações de infância, nossa família não era muito religiosa, apesar de que fui batizada, fomos à Igreja em todos os natais, e minha mãe me ensinou orações. Eu diria que a Igreja nunca ocupou um lugar importante na minha vida, mas acredito em Deus.
Tarja, se você descobrisse raízes na Bielorrússia e encontrasse parente bielorrussos, você os convidaria para a sua casa? Quanta gente vai à sua casa?
“Tenho uma família pequena, e estamos em constante comunicação, especialmente por parte de mãe – primos, uma tia e um tio. A minha casa na Argentina está longe da Europa, por isso é muito difícil e caro chegar até ali, mas eu sempre digo à minha família que são bem-vindos, se vierem me visitar. Se eu encontrar familiares na Bielorrússia, direi o mesmo.”
Tentei encontrar um nome análogo ao seu em russo: Daria, Tatiana, Thaís. De qual você gosta mais?
“Thaís tem uma sonoridade interessante!”
Se você tivesse que escolher, o que gostaria de ter: o dom de ler os pensamentos de outras pessoas ou a capacidade de ficar invisível quando quisesse?
“Eu escolheria a oportunidade ficar invisível. Seria genial! Não me importa o que os outros pensam. A mim, parece que a capacidade de ler as mentes só pode prejudicar a saúde mental de seu dono – há pessoas tão estranhas.”
Se pudesse escolher qualquer papel de qualquer ópera, qual você gostaria de interpretar?
“Há alguns papéis interessantes na ópera para um soprano lírico, mas eu não sou uma cantora de ópera. Quanto ao meu repertório clássico, gira mais em torno da música de câmara, e em particular lied (canção alemã do período romântico do século XIX), do que da ópera. Além do mais, eu gostaria de ter que passar por vários anos atuando realmente no cenário operístico. Espero que eu possa um dia, porque sempre trabalho muito com minha voz. Eu gostaria de interpretar Lauretta em 'Gianni Schichi', Tatiana em 'Eugene Onegin' e Pamina em 'A Flauta Mágica'.
Você vai voltar ao Nightwish?
“Não”.
Meu nome é Victor, tenho 60 anos de idade, mas suponho que não sou o mais velho admirador do seu talento. Sabe qual é o mais jovem dos seus fãs?
“Conheci a muitos fãs jovens, e inclusive pais que deram o meu nome às suas filhas! Uma vez, conheci uma menina que tinha só três anos, mas que gostava muito da minha música. Isso foi surpreendente e encantador.”
Tenho uma pergunta para você: Se aprofunde e se imagine em alguns anos, digamos uns 20. Como você se vê, e aonde? Talvez uma cantora com milhões de fãs no mundo todo? Talvez mudar de carreira e se tornar uma dançarina famosa? Ou vai levar uma vida tranquila e virar dona de casa?
“Acho que eu seria muito infeliz sem a alegria que me leva a cantar. Não gostaria de mudar radicalmente meus planos para o futuro, porque isso é o que a música está me dando desde o começo da minha vida, e realmente gosto do que faço. Creio que estarei mais envolvida no ensino do canto, e meus horários de concertas estarão um pouco loucos, mas espero que isso não me prejudique e eu continue evoluindo musicalmente. Quero, em algum momento, virar mãe, mas também não mudei meus planos na música. Não descarto cenários diferentes, mas continuo sonhando com a música e espero que isso nunca mude.”
Muitas bandas conhecidas estão tentando usar a música para promover seus ideais políticos/religiosos/sociais. Qual é a sua atitude quanto a isso? E como você acredita que seja possível mudar algo na sociedade e no mundo através da música, especialmente de modo extremo?
“A música muda vidas de pessoas todos os dias, e eu acredito nela. Por exemplo, mudou a minha vida! Quando você cria algo que não deixa a ninguém indiferente, que afeta a música tão profundamente, isso te afetará de modo positivo. Escutei muitas histórias boas de fãs, de como suas vidas mudaram, mas não tenho nenhuma relação com questões políticas nem religiosas, mas com a minha música, cheguei à conclusão de seus sentimentos. Eu acredito que uma pessoa pode fazer a diferença se acreditar em si mesma. Se ninguém o fizer, todo o mundo será muito miserável.”
Você vai trabalhar com estilos musicais totalmente inesperados (como o reggae, por exemplo)?
“Tenho alguns planos radicais. Tenho o projeto Outlanders, que estou fazendo com o meu amigo e produtor Tosten Stenzel. Se baseia na música eletrônica chill-out, e logo teremos notícias novas. O projeto já lançou uma música que escrevi há algum tempo. Foi inspirada no escritor Paulo Coelho.”
Não é preciso dizer que cada país é diferente do outro, não só no terreno, na arquitetura e na gastronomia, mas também nos fãs. Também está claro que é difícil identificar os fãs de um país em particular, porque os demais se sentem ofendidos. Mas eu gostaria de saber: como são os fãs neste pais, e como se diferenciam de seus “colegas” de outros estados?
“Não sabia o que esperar dos fãs da Bielorrússia quando cheguei a Minsk pela primeira vez, mas o concerto foi simplesmente genial. A recepção do público foi muito cálida, e me pareceu que o público esperava por mim há muito tempo. Me pareceu que o público se mostrou muito grato por termos vindo. Não sei com que frequência vocês têm shows e etc. Poderia estar errada, mas tive essa sensação. No show, tinha gente de todas as idades, não só os jovens roqueiros. Lembro que esse show foi em um terreno de hóquei e nos corredores era difícil conseguir contato com o público devido às barreiras, mas me apaixonei com eles. Em geral, os espectadores de cada país são muito diferentes – em um lugar tranquilos, em outro mais barulhentos. A mais notória é a da América do Sul."
Das pessoas na sua vida, a quem agradece?
“Minha mãe seria a primeira na lista, mas infelizmente não está mais conosco. Estou certa de que ela sabe o quanto agradeço. Além dela, meu marido, meus amigos que se preocupam comigo e todos os meus problemas, e os meus músicos.
Tradução: Guilherme Magalhães