O amor fez eu me abrir

Tarja Turunen fala sobre viver entre dois países, sua falecida mãe, o natal argentino e como Marcelo a encantou

Tarja Turunen, 29, anda lentamente para o palco do Helsinki Kulttuuritalo. Um sorriso em seu rosto e um olhar terno em seus olhos. Seu cabelo está mais claro que durante os anos anteriores e uma maquiagem suave enfatiza suas características. A soprano lembra apenas um pouco a cantora do Nightwish que preferia cabelo preto e maquiagem de palco agressiva.
Tarja está usando um terno preto de alta qualidade. Ao redor, ela atou um lenço que brilha em vermelho e dourado. A cantora volta seus olhos para o teto do salão e começa com a canção Kuin Henkäys Ikuisuutta. A platéia está quieta.
Há casais de meia idade, bem como adolescentes góticos na platéia. Há pelo menos dois fãs do Japão, um casal de fãs da Califórnia e uma garota que vê Tarja pelo seu aniversário de 25 anos.
Enquanto a banda troca os suportes de palco, Tarja se volta para a platéia. Ela fala no dialeto da Carelia do Norte, sorri para a platéia e pergunta se a noite atingiu as expectativas.
Depois das canções de John Lennon e ABBA, Tarja interpreta algumas canções religiosas e senta em frente ao piano por um momento. Finalmente, neve falsa cai do telhado do salão e Tarja canta em um vestido de veludo vermelho Walking In The Air, uma canção famosa pelo filme Snowman.
Quando o concerto de duas horas e meia termina, Tarja dá autógrafos para os fãs por mais duas horas e meia.
Faz cinco dias desde o primeiro concerto quando Tarja está novamente em Helsinki. Ela esteve de pé até as 11 horas na noite passada para o concerto para a Associação de Amigos dos Hospitais Universitários Infantis, mas já está pronta para a entrevista às 8 horas em seu hotel.
Tarja tem duas horas antes de sair para Joensuu, onde o próximo concerto será.

Você está habituada a cantar para dezenas de milhares de pessoas, e ainda assim pareceu estar nervosa em seu concerto de abertura.
- Eu estava realmente nervosa em meu primeiro concerto em Helsinki. Eu me encoragei pensando que um pouco de excitação é parte do concerto. Ajuda a se concentrar. Eu também admiti a meu marido que eu não ficava tão nervosa em cantar quanto em falar em Finlandês entre as canções. É tão mais natural falar com a platéia em inglês, porque eu estou acostumada a isso.

Qual é a diferença entre cantar em um concerto íntimo de natal e nos maiores estádios do mundo?
- Os salões parecem pequenos uma vez que eu estou habituada a cantar para as massas. No entanto, eu gosto da intimidade dos salões. É também uma atmosfera diferente nos concertos de natal. O natal próximo traz paz e sensibilidade.

Durante nove concertos você cantará por exemplo em Joensuu, Turku e Kuopio. Como você viaja?
- No país natal nos viajamos com meu marido em nosso próprio carro. Nós voltamos a Kuusankoski sempre que é possível. Em Joensuu nós ficaremos na casa do meu pai e encontraremos amigos e fãs em muitos outros lugares também.

Qual é o papel do seu marido Marcelo na turnê?
- Durante os concertos ele me ajuda no camarim por exemplo com trocas de roupas, supervisiona as atividades no palco e fora dele e lida com os outros funcionários relacionados ao concerto.

Sua turnê termina na Rússia. Por que você quis cantar também em São
Petersburgo e Moscou?
- Eu estive na Rússia pela última vez em 2003 com o Nightwish. Eu sei que há pessoas lá esperando que eu cante. Esse ano eu fui convidada para cantar na Rússia e fiquei muito feliz com isso. Depois, eu recebi ligações de outros países europeus também, mas a época do natal é
curta. Eu não posso ir a todos os lugares.

A turnê a mantém ocupada durante Dezembro. Você teve tempo de se preparar para o natal?
- Eu sou uma pessoa de natal, mas não começo a me preparar para ele com antecedência. Eu sempre fico em casa com a família, mas esse ano estarei longe da Finlândia. Nós iremos a Buenos Aires. Depois do natal meus irmãos virão à Argentina para férias e no dia do réveillon celebramos nosso quarto aniversário de casamento.

Você passará o natal com a família de seu marido?
- Nós estaremos com os pais de Marcelo no natal. Na Finlândia, o natal é uma celebração religiosa e pacífica, mas na Argentina as pessoas saem
às ruas. Fogos de artifício explodem e as pessoas ficam agitadas. Um natal argentino é como o réveillon finlandês. Embora eles gostem de presunto e vão às igrejas lá também.
- Eu ajudarei a mãe do Marcelo a cozinhar entre outras coisas. O vôo
para Buenos Aires é tão longo que não faz sentido em eu trazer casseroles* de natal finlandeses comigo.

Que tipo de memórias você tem dos natais com a família?
- Nos sempre tivemos as mesmas tradições. Nós desenterramos velhas notas de natal e no fim tocamos piano e cantamos juntos. Nós comemos presunto e casseroles*.
- Para mim, o natal sempre foi em particular uma celebração da família Turunen. Eu frequentemente sinto falta da minha família, e o natal é a época do ano em que estamos juntos. Mesmo nos anos mais ocupados eu venho para casa para o natal.

No ano novo você verá seus irmãos na Argentina. O que vocês farão?
- Nós passaremos a primeira semana em Buenos Aires. Eu os levarei às lojas, a uma casa de tango e a um parque de animais onde você pode acariciar até mesmo um leão. Nas próximas semanas nós viajaremos por outras partes da Argentina.

Este ano você teve tempo de executar o seu sonho de muito tempo de um álbum de natal. Como você organizou isso?
- Eu não pude fazer um album de natal inteiramente tradicional, embora haja muitas canções religiosas finlandesas. Eu tentei também inculuir algumas canções conhecidas mundialmente. Uma das canções preferidas para mim é You Would Have Loved This de Cori Connor.

Sobre o que é essa canção?
- É uma história triste de perder alguém querido para você. A idéia é pensar sobre aquela pessoa na época do ano que ele ou ela gostava. Então, não necessariamente é uma canção de natal. Eu quis dedicá-la à minha mãe, que faleceu há três anos, já que ela adorava o natal. Nós tínhamos uma ligação especial.

Você começou a cantar muito jovem em sua cidade Kitee. Sua mãe a trouxe para práticas de coro e campo. O quão isso a influenciou a se tornar uma cantora?
- Minha mãe teve uma grande influência na minha carreira. Ela me encoragou para a música, assim como meu pai. Quando eu era pequena nós vivemos em uma pequena vila chamada Puhos, 15 quilômetros do centro de Kitee. Meus pais ainda assim davam um jeito de me levar para as práticas de coral e aulas de canto todos os dias.

Sua mãe era musical também?
- Ela tinha uma bela voz cantada, mas seus pais não a encorajaram para a música. Eu sei que ela gostaria de ter aprendido a tocar piano. Cantar era importante para ela. Ela fazia isso sempre que podia, então eu fui levada a hobbies musicais. Mamãe não queria que eu me sentisse mal por não estudar canto.

Você está de algum modo vivendo o sonho da sua mãe?
- Eu estou vivendo meu próprio sonho. Eu estudei música e dei duro. Em todas as casas de espetáculo eu tenho uma foto da minha mãe e uma pequena vela para me lembrar dela.

Seu marido conheceu sua mãe?
- Eles se conheceram por três anos. Mesmo que Marcelo e minhã mãe não tivessem uma linguagem mútua, eles se aproximaram. Minha mãe foi como uma segunda mãe para meu marido. A morte dela foi tão dura para Marcelo como para mim.

Seu marido argentino se tornou uma parte sólida de sua família. Quando você encontrou Marcelo pela primeira vez?
- Nós estávamos em turnê pela América do Sul com a banda, e Marcelo era o nosso gerente de turnê. Nós nos encontramos pela primeira vez num almoço. Marcelo tinha cabelos curtos na época. Eu me lembro de pensar que ele era muito quieto e tímido para um latino. Eu não sabia que argentinos eram sérios na escala sul-americana. Depois do encontro ele foi esquiar nos Andes e eu fui fazer compras. Realmente não foiamor à primeira vista.

Quando o amor começou?
- Marcelo esteve em turnê conosco na América do Sul por algumas semanas. Embora ele fosse responsável por gerenciar os funcionários, ele sempre tinha tempo para mim. Marcelo tomou para si a reponsabilidade por meu bem-estar e segurança. Depois da turnê eu voltei à Finlândia muito confusa. Parecia insano que a meio mundo dali estava a pessoa certa para mim. Você pode dizer que as meias estavam girando em meus pés**.

Quando se encontraram pela próxima vez?
- Um mês depois ele veio visitar a Finlândia. Eu levei Marcelo para o leste da Finlândia de carro e ele ficou impressionado com toda a paz e o espaço que temos.

Você se casou na corte administrativa de Helsinki em 2002 e teve uma grande festa de casamento em Kitee no verão um ano e meio depois. Como Marcelo a pediu em casamento?
- Nós estávamos em uma ópera em Buenos Aires. Durante o intervalo Marcelo se ajoelhou no nosso camarote e me pediu. Logo depois nós fomos procurar as alianças.

Agora você tem lares tanto em Kuusankoski quanto em Buenos Aires. Como você divide seu tempo entre os dois países?
- Nós sentamos no começo de cada ano e fazemos um plano mês a mês. Atualmente nós provavelmente passaremos mais tempo na Finlândia que lá. É importante ficarmos por mais tempo na Argentina também. Eu quero que ele mantenha laços com seu país natal. A ligação é importante também porque meu marido tem um escritório e um trabalho lá.

O que ele faz da vida?
- Marcelo tem uma pequena gravadora de cujos negócios ele cuida daqui também. É bom ir lá de vez em quando. Às vezes Marcelo vai à Argentina sozinho.

Por que você escolheu fazer de Kuusankoski sua casa na Finlândia, se você não tem família nem parentes lá?
- Nós não queríamos mudar pra Helsinki, mas para a algum lugar a uma distância razoável de carro de lá. Nós visitamos vários lugares procurando apartamentos. Minha grande amiga, a cantora Marianna Pellinen mora em Kuusankoski e nos ajudou a achar um apartamento. Através de Marianna, nós formamos um círculo sólido de amigos em Kuusankoski. Sempre que estamos lá, podemos nos visitar e tomar um café e fazer uma sauna.

O quão diferente é sua vida cotidiana em Buenos Aires e em Kuusankoski?
- Até agora eu fico em Buenos Aires enquanto estou me preparando para um grande concerto por vir. Normalmente, eu me encontro com minha professora de canto, vou à ginástica e me concentro em cuidar de mim.
Eu também tenho alguns estudantes na cidade, para os quais ensino canto.

Você tem seus próprios amigos em Buenos Aires?
- Eu conheço os amigos de Marcelo. Há algumas poucas pessoas que
conheço da ginástica e nós nos encontramos vez por outra.

Como é sua casa em Buenos Aires?
- É nó 14º andar de um prédio. Marcelo quis arte finlandesa lá, então temos imagens das estações finlandesas em todas as paredes. Também temos uma cozinha finlandesa que achamos acidentalmente numa loja de móveis argentina. Não temos uma sauna, mas Marcelo sonha que se algum dia mudarmos, teremos uma sauna em nosso novo apartamento. Ele se tornou cada vez mais finlandês nos últimos anos. Ele até mesmo conseguiu seu próprio professor de finlandês em Buenos Aires, através da embaixada.

Sua casa na Argentina tem coisas que lembram a Finlândia. Você tem coisas argentinas na casa de Kuusankoski?
- É decorado de maneira finlandesa também. Eu às vezes digo ao Marcelo que nós deveríamos ter algo da Argentina aqui, mas ele não liga muito. Para mim, a coisa mais importante em um lar é a atmosfera calorosa.

As pessoas a reconhecem em Buenos Aires?
- Ser reconhecida lá é diferente de aqui. Você realmente tem atenção! Fãs começam a rir, cantar e pular. Os fãs mais ativos normalmente sabem onde eu estou. Quando eu chego em casa, frequentemente há um buquê de rosas na porta.

Viver entre dois países deve ter suas vantagens.
- As melhores coisas da Finlândia são a serenidade, os amigos e as distâncias curtas. Nós estávamos fazemos jogging*** uma noite em
Kuusankoski e admiramos o silêncio. O barulho nunca para na Argentina. Você pode ouvir o barulho do trânsito da nossa casa lá. Normalmente na primeira noite na Finlândia, nós vamos dormir maravilhados com o silêncio de lá.
- Na Argentina, eu sou fascinada pela positividade da vida e versatilidade dos suprimentos. É maravilhoso fazer compras lá. Eu também gosto da comida argentina simples como carne temperada com sal e limão e o vinho tinto da região de Mendoza.

Quando você está na Finlândia, do que sente falta da Argentina?
- Eu às vezes sinto falta do entusiasmo dos argentinos. Eles não levam as coisas muito a sério, e não se estressam com coisas pequenas. Com os
argentinos eu aprendi a ver a vida de forma diferente e posso lidar melhor com o stress. Eu tive sucesso, golpes e mágoas na minha vida. Agora, eu apenas tento curtir o momento.

Como Marcelo mudou sua atitude perante a vida?
- Meu marido me ensinou a me abrir e falar. Ele lida com as coisas sem
transformá-las em problemas e pode falar abertamente sobre qualquer coisa. Eu não conheço o conceito de briga na nossa relação. Nós discutimos as coisas calmamente mesmo se houver alguém próximo a nós.
- Eu tive muita sorte na minha vida, já que sinto que vivo em um bom relacionamento.

Onde você se sente mais em casa?
- Minhas raízes são firmemente no leste da Finlândia. Por sorte meus irmãos ainda vivem em Kitee e meu pai em Joensuu. Esses são lugares onde meu real lar mental é. Eu não me sinto desgarrada desde que possa visitar o leste da Finlândia anualmente.

Você está casada com seu marido há 4 anos e as turnês pesadas com a banda acabaram. Você está planejando ter filhos?
- Meu relógio biológico ainda não está batendo! A hora de ter filhos certamente chegará algum dia. Eu não gostaria de ter filhos nessa situação de agora. Nós ainda vivemos uma vida movimentada e eu tenho muitos planos para minha carreira solo.

Você pensou quando gostaria de ser mãe?
- Eu não marquei "ter filhos" no meu calendário. Quando meus filhos chegarem à idade de ir á escola, minha vida tem que estar equilibrada. Você tem que estar apta a provê-los raízes e um lar aconchegante. Eu consideraria uma bênção ser mãe algum dia. Eu penso que serei uma boa mãe.

Você conseguiria dar um tempo na carreira por sua família?
- Começar uma família automaticamente criaria um intervalo. Eu também posso confiar nos recursos do meu marido. Ele me dá o máximo de apoio possível e eu certamente não me sentiria sozinha mesmo como a mãe de crianças pequenas.

O que você fará em seguida?
- Eu estou procurando por canções de diferentes compositores para meu novo album. Eu estou gravando com a companhia Universal da Alemanha e será um lançamento internacional. Na minha música, tentarei combinar diferentes elementos, como música clássica e rock. Irei ao estúdio em março, e a concertos em 2008.

Você já viu muito do mundo e fará apenas 30 anos no próximo agosto.
Como se sente em relação a isso?
- Eu sinto em meu corpo que já não sou mais tão jovem. Lugares se machucam e doem agora mais do que antes, e uma noite de pouco sono repercute facilmente. Mesmo assim, não acho que vou ter uma crise.

Onde você se vê daqui a dez anos?
- Nós ainda estaremos vivendo no eixo Finlândia-Argentina, mas eu terei dez anos a mais de experiência na vida. Certamente eu ainda cantarei.

Você alcançou fama mundial como cantora, e ainda pôde preparar uma carreira solo. Sobre o que você ainda sonha?
- Eu espero ainda poder cantar quando tiver sessenta anos. Por outro lado eu não sonho com coisas muito distantes, mas vivo o momento. A
vida me deu muito, mas também tirou coisas de mim. Eu tento fazer as
coisas a seu tempo. É bom ter os fatos em mente, e não almejar em excesso.

A TERÇA-FEIRA DE TARJA
9h
Acordar de manhã. Eu abraço meu marido e escovo os dentes. Eu desfruto do meu café e uma refeição light.
9:30h
Eu checo meus emails, entrevistas e passeio pela casa e pela cidade.
12h
Eu corro na esteira e suo.
14h
Eu almoço
15h
Um pequeno cochilo depois da refeição
16h
Eu começo a ensaiar e praticar canções.
19h
Intervalo para o café. Eu saio para encontrar amigos.
21h
Eu vou para a sauna e faço um lanche noturno.
23h
Nós dormimos em frente à TV.