E: Olá Tarja, bem-vinda pela primeira vez a este estúdio, ao Linea Rock, para falar de seu novo álbum, o Colours in the Dark. A primeira coisa que eu percebi foi que, depois da frieza da primeira capa e da escuridão da segunda, agora é hora das cores quentes, muito vermelho... Há uma relação entre isso e as músicas do novo CD?
T: Ah, sim, tem tudo a ver. É muito importante para mim criar uma capa que represente a música em geral, e ela também tem um significado pessoal para mim. Então todas as cores que você vê na capa têm a ver com a capa e comigo. Estou vivendo uma vida hoje com cores por todos os lados. É um lugar muito bonito este para qual a música me trouxe, e acho que você pode ouvir isso em meu álbum também, porque eu finalmente me sinto em casa em relação à música também.
E: Em relação à musica, como você poderia descrever este álbum? E quais são suas diferenças para o anterior, What Lies Beneath?
T:Acho que é mais maduro, e é mais profundo, há uma profundidade maior...
E: Nas letras?
T: O lado sinfônico está muito presente, mas por outro lado, o rock, as guitarras agressivas, também, então acho que finalmente consegui produzir um álbum onde ambos estão exatamente em seus lugares, onde estou confortável. Deste modo, minha mão direita, meu lado clássico, e minha mãe esquerda, o metal, estão juntos e é um álbum muito complexo. Eu tomei alguns passos realmente muito corajosos em direção à algo que eu não tinha feito antes. É um álbum desafiador para meus fãs assim como foi para mim.
E: Sim, acho que todos os ouvintes vão ter que ouvir o álbum muitas muitas vezes, já que são 10 músicas, algumas delas com 7, 8 minutos de duração...
T: Sim, várias delas...
E: e em uma hora de música, é difícil concentrar tudo...
T: Sim, porque seria muito fácil, muito comum, fazer várias músicas de 4 minutos. E algo que é bem pessoal é que se eu já fiz algo, não quero me repetir. Isto é um dos pontos no qual eu me desafio na música. Eu quero ser uma cantora melhor, quero ter progresso nisso todos os dias, treinando, tendo aulas...
E: Ainda hoje?
T: Sim, ainda. Isso é necessário. Eu posso aprender muito da música, posso trabalhar para ser uma musicista melhor, mas nunca vou saber tudo. É impossível. E isto é uma parte incrível da música. Te faz trabalhar mais.
E: Sobre o título, qual o significado de "Colours in the Dark"?
T: Bem, tem a ver com a minha vida, cheia de cores, mas ainda embaixo de uma nuvem de escuridão, é aquele tipo de escuridão que ainda vive em mim, ainda que eu seja uma pessoa muito positiva, eu ainda gosto de imaginar no escuro, ainda gosto de descobrir o que há nas sombras...E é o que você ouve na minha música, há muitas histórias positivas, histórias sobre sonhos, mas também coloquei histórias tristes e negativas lá para você ler ou para se sentir como se eu estivesse falando de você, coisas muito pessoais. As cores estavam lá desde que comecei a escrever as músicas, eu escrevi por dois anos e meio...
E: Você escolheu o título quando terminou, por causa das cores?
T: Sim, pela primeira vez! Das outras eu sempre tinha o título. "My winter Storm" Sim, ótimo, "My winter storm"! Ou o "What lies Beneath", esse é o conceito, o tema, e agora eu terminei as gravações, terminei tudo, e daí decidi o título. Aliás, veio quando eu estava escrevendo a letra de uma das últimas músicas, veio na letra, "painting colours in the dark", que é o que eu estou fazendo com a minha música, na verdade.
E: Como no álbum anterior, a mixagem foi feita por Tim Palmer, que trabalhou com o U2, Pearl Jam, ele é bem conhecido por rock alternativo. Por que você o escolheu?
T: eu tive a oportunidade de trabalhar com ele em 3 ou 4 músicas do What Lies Beneath já, e me apaixonei completamente por seu talento e também por sua personalidade, ele é uma pessoa muito boa de trabalhar, e ele tem trabalhado com música finlandesa, bandas como o H.I.M, então eu senti que há uma conexão e também senti que ele estava legitimamente interessado em trabalhar comigo, ainda que ele tenha trabalhado com bandas muito maiores, ele colocou muito esforço e paixão na minha música. Desta vez, bem, da última vez eu já tinha dito "quero trabalhar com você no próximo álbum, por favor, por favor, por favor" e ele disse "sim, claro", e aconteceu e foi muito fácil porque ele é, primeiramente, muito rápido, e ele fez um trabalho ótimo com meus vocais, me surpreendeu novamente. Ele gosta de trabalhar com vocais e bons cantores em geral, assim não é preciso corrigir as gravações, mas é possível brincar com elas.
E: onde o álbum foi gravado?
T: Na verdade, ao redor do mundo. Hoje é muito fácil, porque muitos músicos profisionais tem seus estúdios em casa. Eu quis que o coração das minhas músicas fosse gravado em Buenos Aires, então eu trouxe Mike Terrana, o baterista, para lá, e Alex Scholpp, o guitarrista, e o outro guitarrista, Julian Barrett mora em Buenos Aires, então ele também pode trabalhar em seu estúdio. Então o centro das músicas foram gravados lá, e os vocais também em Buenos Aires. Doug Wimbish gravou em sua casa também, Kevin Chown, meu outro baixista, os teclados, a orquestra, tudo isso foi gravado em vários locais diferentes.
E: Há uma grande colaboração com uma orquestra sinfônica...
T: Sim, acho isso importante...
E: É difícil?
T: Sim, mas foi feito por pessoas em Los Angeles com as quais eu trabalho já faz anos, eles são ótimos, super talentosos, rápidos... Toda a equipe de produção hoje está na mão, muitos anos se passaram e finalmente hoje produzir meus álbuns é muito fácil porque depois de todo esse tempo nós finalmente falamos a mesma língua musical, e isso é incrível.
E: Em relação a Mike Terrana, que toca em quase todos os seus shows e álbuns, como você entrou em contato com ele? Faz muito tempo?
T: Ah, sim...
E: Ele é insano.
T: Ele é insano, e eu o amo. Nos conhecemos em 98, eu acho, ele estava pela primeira vez em tour na Europa com o Rage, e eu estava pela primeira vez em tour com o Nightwish, como banda suporte do Rage. Nos conhecemos na tour e quase todas as noites eu fui ver seu solo, e eu amava o jeito explosivo com que ele tocava, mas também vi seu lado de percussão e desde que comecei a pensar em minha carreira solo ele veio a minha mente, imediatamente. E felizmente ele aceitou trabalhar comigo e nós nos tornamos como irmão e irmã. Estamos trabalhando agora em um projeto clássico também, desde 2007 temos trabalhado intensamente juntos.
E: Voltando a falar do álbum, a primeira música que foi liberada foi Never Enough. Como surgiu a ideia?
T: Do vídeo?
E: Sim, sim.
T: Bom, você geralmente vê só a letra e é meio comum hoje em dia fazerem lyric videos, e para mim parecia tão, tão chato.
E: Acho que é melhor mesmo esperar e fazer um vídeo melhor...
T: Provavelmente! Então o que eu fiz, eu estava em tour na república checa, filmamos um DVD lá para o Beauty and the Beat, e tivemos a chance de permanecer vários dias no mesmo lugar lá e nós chamamos a equipe de filmagem, a mesma do ACT I, e eles foram lá pra filmar muito rapidamente algumas imagens de mim andando por lá e fazendo algumas coisas... Fizemos um Lyric Video em umas duas horas, comigo aparecendo nele, e acho que é mais legal assim do que um tradicional e chato, mas não é um clipe, de maneira alguma.
E: Também há um cover no álbum, Darkness, Peter Gabriel. Essa música é importante pra você? Por que você a escolheu?
T: Primeiramente, por causa dele, Peter Gabriel. Eu o adoro e tenho sido uma fã por muitos anos...
E: Do Gênesis ou da carreira solo?
T: Desde o Gênesis. E eu o conheci em 2007, na verdade, eu estava tipo, tremendo, foi um momento bem emocional para mim porque ele tem sido uma grande inspiração e eu escolhi esta música porque, bom, primeiro, a versão original é bem lenta no tempo, eu a acelerei, se você a comparar a original a minha é bem mais rápida. Mas eu senti que a música poderia servir para mim, ainda que nossos arranjes vocais sejam completamente diferentes, e eu queria achar a minha profundidade naquela música, eu senti que poderia ser bom, mas foi um movimento corajoso, porque sei que Peter demora anos para produzir seus álbuns e músicas, então eu tomei bastante tempo para ela, há muitas camadas gravadas, mas eu não levei anos, só quase um ano (risos).
E: O primeiro single é Victim of Ritual. E a capa é você coberta de tinta azul clara, meio contrastante com o vermelho da capa do álbum... Como você descreveria esta música?
T: Victim of Ritual é uma música muito importante, tem uma letra muito forte sobre as vítimas de rituais. Muitos de nós vivemos sendo vítimas de rituais, muitas vezes sem perceber ou sem conseguir nos livrar deles, e até sem perceber como nos prejudicam. Muitas pessoas vivem nestes rituais e não conseguem se afastar. Então é uma música muito forte neste sentido, e muito positiva também. É uma música bem progressiva, e eu também coloquei uma peça clássica nela, o bolero de ravel, eu adoro brincar com este tipo de coisa na hora de escrever uma música, é bem desafiador. É uma música muito forte e ótima para abrir o álbum, quando eu a ouvi finalizada pensei "esta tem que abrir o álbum", porque é um choque, desde o começo, um choque. Eu adoro surpreender as pessoas! (risos).
E: você é a cantora mais famosa da Finlândia, e você influenciou grande parte do metal sinfônico. Mas quais são as suas influências?
T: Bom, como eu disse, Peter Gabriel, trilhas sonoras... Trilhas sonoras são uma grande inspiração, porque quando eu crio ou produzo músicas eu sempre crio uma imagem, sempre, em minha cabeça, sempre coisas fortes que se pode desenhar em sua cabeça. Eu adoraria escrever música para filmes algum dia, já é mais ou menos o que eu faço com o formato de minhas músicas, mas é, trilhas sonoras são uma grande influência. Também o metal americano, se tratando de guitarras, mais do que da Europa, e é claro, minha formação clássica.
E: Três anos atrás você foi aos palcos com o Scorpions, para o dueto "The Good Die Young". Sobre duetos, há alguém com que você gostaria de cantar no futuro, talvez em um próximo álbum?
T: Ai meu deus... Não é fácil... Bom, eu tenho muita sorte de ter agora um dueto na última música do meu álbum, Medusa, e agora foi gravado também por um homem, porque foi escrito como dueto. Eu queria um cantor específico, de uma banda americana, Justin Furstenfeldt, do Blue October, eu adoro sua voz, ela é muito colorida e emocional, se encaixava perfeitamente com a música.
E: Então você pediu para que ele gravasse com você...
T: Sim, e ele aceitou. Aliás, faz pouco tempo, eu ouvi sua versão ontem, me fez muito muito feliz. Mas para o futuro há ótimos cantores, incríveis artistas... é muito difícil, eu sempre quero fazer colaborações porque no geral elas te ensinam muito, então espero algo bom do futuro.
E: Última pergunta, para falar da tour. O álbum sai em agosto. Já há planos para a tour?
T: começo pela Europa, Europa central, em Outubro, primeiro vamos tocar por umas três semanas, depois temos uma pausa, no fim do ano tenho a tour de natal de novo, na Finlândia e talvez na Alemanha, e no começo do ano que vem começamos de novo com força total.
E: Você vai estar no próximo festival de verão...
T: Summer Festival, sim, no verão, e toda a tour levará dois anos, já estamos planejando os shows até 2015. Minha filha terá quase três anos e eu acabei de me tornar mãe, dez meses atrás, então ela vai ser um bebê viajante, já é, e é assustador o suficiente pensar que ela vai estar correndo por aí logo logo.
E: Os músicos que estão tocando com você no álbum vão estar na tour?
T: Sim, Mike Terrana, Doug Wimbish, Christian Kretschmar, Max Lilja, e Alex nas guitarras...Eu tenho mais ou menos um músico a mais para casa posição, caso algum deles não consiga vir, é por isso que eu tenho quase dois músicos por instrumento, e quero envolver todos no meu álbum, porque adoro todos, são todos parte da minha equipe, é uma banda ótima.
E: E para a parte sinfônica, haverá uma orquestra?
T: Isso é muito difícil, muito difícil. Impossível. Talvez haja alguns eventos onde possamos tocar com orquestra e coro, mas é quase impossível ter para este projeto, infelizmente. Mas eu tenho ótimos músicos e eles podem tocar muitas das camadas que estão no álbum.
E: É melhor tocar em um teatro fechado ou em algum lugar aberto?
T: Adoro tocar em teatros por causa da acústica, mas também por causa das pessoas...
E: Sentadas?
T: Eu adoro ver as reações do meu público, quando eles estão sentados eles podem ouvir e ver tudo, sem nenhum tipo de problema. Em um clube ou em uma casa de shows você precisa lutar por um bom lugar, e sempre se perde algo. Em um teatro o ambiente te faz confortável. E minha música tem um aspecto teatral, então é um bom lugar pra apresentar minha música. Mas se é um clube, um festival, uma casa de shows... Todo lugar afeta no show em si.