A soprano finlandesa Tarja Turunen, figura de destaque internacional, moradora de Buenos Aires, conversou com exclusividade com nós sobre seu novo álbum, Colours in the Dark, sua maternidade e seus numerosos projetos.
Quem atende o telefone é Marcelo Cabuli, empresário, dono da Nems (que a edita na região), e o produtor que propôs que o Nightwish viesse para cá e a acabou fazendo ficar.
Rapidamente ele passa para a senhora da casa, que responde com voz suave: "Tudo bem, e você?". Ninguém diria que esta que fala é Tarja Soile Susanna Turunen, a mesma das colaturas no Fantasma da Opera ou dos altos e baixos de "Elbereth, Lórien" em Wishmaster. A que se faz ouvir muito é Naomi Eerika Alexia Cabuli Turunen, a filha de um ano de ambos.
Seu espanhol é bastante bom, além de uma ou outra conjugação ou concordância de gênero. Sua combinação de gírias argentinas, o sotaque finlandês, e o R forte lhe dão uma forma única de falar. Tão argentina é a linguagem que aprendeu que tem medo que se for para a Espanha, não entenderia nada. "Se estou nervosa não sai nada", brinca.
Produção
E: como foi o processo de produção do Colours in the Dark: a composição, a gravação, a mixagem...
T: Demorei mais ou menos dois anos e meio para compor, porque estava viajando muito com meu álbum anterior, o "What Lies Beneath". Então quando vinha para casa, ou em algum lugar do caribe que me desse liberdade, silencio, escrevia musicas para este disco. Depois começamos a grava-lo em junho do ano passado. Mas eu estava grávida, nos meus últimos meses, e trouxe meu baterista, Mike Terrana, e meu guitarrista, Alex Scholpp, da Alemanha. Aqui em Buenos Aires tenho Julián Barret, outro guitarrista. Então começamos aqui.
A produção levou muito tempo, por causa do nascimento da minha filha e tudo o mais, e eu tive uma tour de natal no fim do ano. Comecei a produzir de novo em fevereiro, e terminamos o mix em maio, em Austin, Texas com Tim Palmer.
E: desde o “Henkäys Ikuisuudesta” já se passaram sete anos. Quanto sente que cresceu como solista, como intérprete, como frontwoman e como a cabeça deste projeto?
T: É simples: tudo que vivi e aprendi com a música na minha vida tem a ver com a minha música, porque tudo é experiência. Nos meus trabalhos com músicos internacionais, tenho tido muita sorte de ter músicos incríveis e talentosos trabalhando comigo. Estou muito feliz como solista e também como mulher: houve muitas mudanças nos últimos anos, e para melhor.
Ter uma carreira internacional é incrível, de verdade. Não há muitas mulheres fazendo algo parecido. Estou assim, aprendendo todos os dias.
E: Por que gravar no estúdio El Pie de Buenos Aires?
T: Por causa de minha gravidez, porque não podia mais viajar com aquela barriga, e El Pie é um estúdio no qual já trabalhei muitas vezes. É o único estúdio de Buenos Aires em que posso gravar vocais, porque tenho que ter algo como uma sala, um ambiente normal, não uma "caixa" onde geralmente se gravam vocais, um ambiente seco. Tenho que ter um ambiente que soe, porque estou gravando sem fones de ouvido: tenho um alto falante a minha frente e canto ao vivo. Então preciso que a voz ressoe.
E: O que Tim Palmer trouxe para o álbum?
T: É muito talentoso, um produtor importante, mas me respeita e nós já trabalhamos juntos em meu álbum anterior. Queria trabalhar de novo com ele: Tim trabalha muito bem com vozes, mas o que fez neste disco foi incrível. Há músicas que ele produziu muito a minha voz, com arranjos que realmente ajudaram. Mas também tive que insistir um pouco nas guitarras, queria elas bem pesadas, e Tim não é um produtor de Heavy Metal, então tive que insistir um pouco ali. Ele também é uma ótima pessoa.
Música
E: Em "Victim of Ritual" é uma clara influência de "Bolero", de Ravel ...
T: Levou muito tempo para compor esta canção em particular, porque eu queria ter um pouco de música clássica. Faz anos que eu pego músicas clássicas e misturo com heavy metal. Por causa de minha experiência na música clássica, eu tenho muito viva essa parte. Eu queria encontrar uma música que poderia fundir-se com uma canção de rock.
Quando Anders (Wollbeck), um compositor da Suécia, que fez a música comigo, encontrou o "Bolero" foi fantástico como esse ritmo encontrou seu caminho sobre a música.
E: Em Lucid Dreamer há um ar mais contemporâneo...
T: Sim. Tem a ver com meu amor por trilhas sonoras. Escuto muitas e adoraria compor para um filme um dia. Também temos meu bebê gritando no meio da canção, é algo meio psicodélico (risos). Tive que gravar ela um dia, porque estava buscando sua voz, que é minha voz. Ela vai me odiar muito algum dia por ter feito isso (risos).
E: Por que "Darkness", de Peter Gabriel?
T: O amo, é meu ídolo. Faz anos que o escuto, tenho todos os seus discos, e muito respeito por seu trabalho, suas produções. Leva muitos anos para terminar um disco, é muito detalhista. Estive com ele uma vez, era incrível. Mas tinha muito medo de fazer uma canção sua, é difícil, por uma questão de respeito.
E: Em Mystique Voyage há versos em espanhol...
T: Há três idiomas que estou usando todos os dias: com minha filha, falo Finlândes. Aqui, falo espanhol. E inglês, quando estou fora. E é como uma viagem esta música.
Admirada
E: Anette Olzon (que foi a seguinte cantora do Nightwish) elogiou o disco. Como você reagiu?
T: Para mim, foi muito bonito o que ela escreveu. Não a conheço pessoalmente, mas foi algo muito forte para mim, não sabia que era fã de minha música, que tinha meus discos antes de começar a cantar com o Nightwish. Então foi algo como "uau", e queria agradece-la por isso.
E: Como está se preparando para a tour deste álbum? Vai ser diferente...
T: Haverá mudanças, mas não tantas quanto achava antes. Já viajamos muito com Naomi, a levamos para todos os lados. Meu marido trabalha comigo, então tem um de nós sempre com ela. A menina está feliz, está saudável (graças a deus).
Teremos um carro familiar, e a equipe e banda viajarão em outro agora na Europa, nesta primeira tour, começamos os shows por lá. Temos uma responsabilidade nova em nossa vida, mas é, tudo se pode (risos).
E: É uma figura importante na Europa e uma artista admirada em todo mundo, não tem um pouco de medo?
T: Sim... Me sinto privilegiada em poder trabalhar com meu primeiro amor, que foi a música, e ainda é. Estou feliz e canto com a minha alma. Não quero me estressar, nem fico tçao nervosa: aproveito todos os dias.
Outros Rumos
E: paralelamente, já o projeto com Mike Terrana, Beaty and the Beat. Como é isso de ter uma bateria, voz e orquestra?
T: É muito lindo, foram concertos incríveis para nós, Mike me disse muitas vezes que eram os melhores de sua vida, estava muito feliz. Eu pude cantar música clássica e rock, e o público adorou os shows. Em 2015 vamos começar esse projeto de novo, porque vou ter shows até 2015 com o CITD. Gravamos um DVD na república Checa, acredito que ele seja lançado ano que vem.
E: outro de seus projetos é com a obra de Paulo Coelho.
T: Outlanders é um projeto eletrônico meu. Não tenho pressa com ele. Walter Giardino (guitarrita do Rata Blanca) já gravou algumas de suas músicas. Estou procurando guitarristas, tenho contato com muitos famosos. É um projeto paralelo, adoraria sair em tour, mas não sei o que vai acontecer. Primeiro tenho que ter as músicas. Mas é divertido.
E: Você gravou um disco incrível com Harus, como segue sua carreira como camarista e lírica?
T: Tenho muitos projetos e muitos shows. Em dezembro, depois da Tour de rock, descanso por duas semanas e começo com uma tour de natal na Finlândia com Harus, mas Igrejas e teatros muito bonitos. Depois vai ser lançado meu primeiro disco de música clássica, o de Ave Marias: vocês vão escutar minha voz real na música clássica. Tenho a sorte de poder trabalhar com uma gravadora que apoia também este lado, o de cantora lírica.
Em família
E: por que decidiram que Naomi nasceria na Argentina?
T: Eu quero estar aqui. Meu marido adoraria estar na Finlândia, mas encontrei mais liberdade para viver minha vida na Argentina. Na Finlândia não tinha mais isso, e me sentia mal. Não sei se passaremos toda a nossa vida aqui, mas agora sinto que é o nosso lugar, e quero que minha filha tenha essa cultura. Ela sempre vai ter a cultura finlandesa, não quero que ela perca a possibilidade de dizer "ok, vou pra Finlândia, tchau mãe". É uma riqueza ter duas culturas na minha vida, e quero o mesmo para minha filha.
E: Nasceu em Agosto, vai ter personalidade forte, como a mãe...
T: Vamos brigar muito no futuro (risos). Já tem suas coisas: tem um ano e já estou vendo o que vem pela frente.
E: Quero ser o empresário, de qualquer maneira...
T: Não sei, mas obviamente ela gosta de música, já vejo: todos os dias seus pais trabalham com música, e ela gosta, ela se tranquiliza. Vamos ver no que dá.
E: Marcelo de fez torcedora do San Lorenzo...
T: Minha filha já tem o passe! Quando chegou gritei como louca (risos).
E: Viggo Mortensen e o Papa são os fãs mais internacionais ...
T: Não conheço Viggo pessoalmente, adoraria.
E: Só falta você gravar uma música para o clube...
T: Sim, algum dia, pode ser legal.
E: Sete anos atrás te perguntamos o que mais e o que menos gostava na Argentina. Qual seria a resposta hoje?
T: O que eu mais gosto é o sol, o ar. A energia que o sol me dá é muito importante, porque no inverno ainda tem sol aqui. Na Finlândia quase não existe sol, ficamos muitos meses sem sol, é duro.
O que mais me irrita é a corrupção. Não entendo como veem as coisas aqui, a política. Não chego a entender, meu país é muito diferente neste sentido.
Ouvinte e convidada
E: que artistas acha interessante hoje?
T: Não sei, não tenho escutado muita música moderna, não tenho tempo. Quando escuto músicas é de artistas que estão no mercado há muitos anos, como Peter Gabriel. Meu metal vem dos estados unidos mais do que da Europa, então o novo disco do Avenged Sevenfold está no meu computador agora.
É difícil a vida do músico hoje, os negócios da música estão seriamente feridos. Os CDS não vendem muito, e isso é um problema que os artistas encontram. A Internet é algo que tivemos que aprender a usar.
E: Com quem você gostaria de poder dividir o palco ou o estúdio que ainda não o tenha feito?
T: Ah! Tive a sorte de trabalhar com Jose Cura ou Scorpions, artistas totalmente diferentes (risos). Quero continuar vivendo este sonho meu, porque há incríveis artistas com que eu gostaria de trabalhar. Vou cantar como Living Colours (nota: a entrevista foi realizada antes de 12 de setembro) no Gran Rex. É uma banda muito importante porque conheço os músicos, alguns trabalham comigo.
E: Nos shows de La Trastienda se animou para cantar músicas de Charly García.
T: Adoro Charly.
E: Tem pensado mais sobre isso ou sobre outras músicas de compositores Argentinos?
T: Gosto muito do rock ou do pop argentino: Soda Stereo, Serú Girán, Charly García; Há muitos que escuto. Me perguntaram várias vezes quando farei um álbum em espanhol (risos). Não sei, mas adoro cantar para meu público quando estou aqui, escolher uma canção para eles, preparar surpresas.