E: O que te levou ao Heavy Metal e o que você gosta neste estilo?
T: foi louco, no começo, ser parte de uma banda de heavy metal era uma espécie de desafio para mim porque nunca fui metaleira, não havia realmente escurado metal. Foi uma grande mudança em minha vida, mas gostei do que escutei na música e disse "bom, por que não posso fazer isso?". E logo, depois do segundo demo com o Nightwish, estávamos com 3 discos. Tudo foi muito rápido, eu continuei na universidade e queria continuar estudando, inclusive me mudei para a Alemanha para continuar com a minha carreira lírica porque tudo que tenho é minha voz e a queria cada vez melhor. Ainda hoje trato de fazer isso, poder combinar minha voz lírica com o metal, meu amor por música clássica é incrível. O equilíbrio entre metal e música clássica me levou anos e estou sempre disposta a enfrentar desafios.
E: Parte destes desafios incluem ser uma mulher em um ambiente predominantemente masculino?
T: Nunca tive problemas com isso, mas desde o começo eu fui muito diferente de outras mulheres no metal ou do rock. Havia estudado como cantora clássica e tenho uma voz quase que única nesse sentido. Mas as pessoas sempre me respeitaram, os homens sempre me respeitaram e nesse sentido nunca tive problemas. Mas para ser honeste, houve momentos em que ser mulher me afetou, e me refiro a segurança. Eu era a única mulher em um grupo de 30 homens, todos os fãs me viam rapidamente, sempre era a primeira. Essas coisas aconteciam no começo da minha carreira, as pessoas tratavam de me cercar e me agarrar. Mas fora isso, sempre fui respeitada e nunca pensei "preciso ter mais bolas pra cantar como mulher". Tenho bolas, estão ali, nesse sentido sempre estive bem.
E: Ser uma artista internacional implica não só que a sua música está em vários países mas que também tem participações com outros músicos de estilos variados. Como foram essas experiências?
T: Tive o enorme prazer de trabalhar com tanta gente incrivelmente talentosa. Só para mencionar alguns: Scorpions, Mike Oldfield, também fiz um dueto com Within Temptation e cantei com José Cura. São artistas muito diferentes e é isso que a música te faz sentir: emoção. Quando algo te mobiliza e quando se faz música com o coração, então está certo, não é preciso explicação. Assim, quando me perguntam hoje o que sou, cantora de clássico ou de heavy, respondo: bem, sou uma cantora e amo o que faço.
E: Aqui na Argentina você gravou com o Beto Vazquez (Ex Nepal, atual Infinity). O que você lembra disso?
T: Isso foi há muitos anos, lembro-me de ter tido uma pequena briga com meu atual marido que me pressionava para fazer o projeto, mas eu não tinha feito nenhuma colaboração com ninguém ainda e era como "Da onde? Argentina?? Tão longe!!" mas logo que escutei a música e me deram liberdade para fazer o que eu queria foi muito divertido, fizemos muitas coisas boas.
E: Com essas experiências, que análise faz do metal argentino?
T: É difícil dizer por que eu produzi meu CD e muitas das coisas foram gravadas aqui em Buenos Aires porque estava nos últimos meses de gravidez e não podia viajar. Então trouxe meu guitarrista da Alemanha e meu baterista da Itália para gravar aqui, também gravamos minha voz aqui no estúdio El Pie, o espaço para cantar é enorme. Assim é muito difícil dizer porque quando escuto uma banda loca, o primeiro foco é o som. Algo que escutei por aqui é que o som do metal é muito aberto. É algo a que eu presto muita atenção, há grandes músicos na Argentina e amo quando bandas tomam como inspiração algo como, por exemplo, o tango, ou seja, algo da cultura local junto com sua música. Isso é que faz diferença e eu realmente gosto. Gosto de bandas como o Asspera e sou bem amiga dos músicos do Rata Blanca.
E: Que diferenças você vê nos públicos de metal mundialmente falando?
T: Se você vai a países nórdicos como Finlândia, Suécia ou Noruega, as pessoas são bem calmas. Eles apreciam a música, não me entendam errado, realmente ama que os visite e sua música já que é parte de nossa cultura - as pessoas estudam música e a levam muito seriamente, ser músico é uma profissão respeitada, mas o público é tranquilo. Como audiência, exige muito do artista. Mas logo que você vai para a Europa Central e do sul as pessoas se mostram mais agitadas e passionais, é quase tão louco quanto a América do Sul.
Mas devo dizer que o público Argentino e Búlgaro são os mais loucos que já tive, é minha melhor audiência. Não sei por que, mas na Bulgária é igual aqui: as pessoas cantam os solos de guitarra, é absolutamente fantástico. Acredito que qualquer artista concorde comigo, tenho certeza porque é verdade: vocês são completamente loucos, realmente mostram o amor que tem.. E não tem ideia de quanto isso significa para nós.
E: e no que diz respeito ao impacto cultural do metal?
T: a Finlândia tem muitas bandas de metal. Quando uma banda de metal importante lança um álbum, imediatamente estão no topo das paradas e também é muito comum escutar metal nos rádios, as pessoas estão costumadas nesse sentido, é um país metaleiro. Há outros países, como a Noruega e a Suécia, em que acontece o mesmo, creio que tem a ver com vivermos na escuridão por metade do ano e só podermos nos expressar através da música. Não estamos abertos a falar de nossas emoções em geral, então se fala através da música ou exterioriza-se sua paixão através da música, e o metal tem isso.
É claro que aqui na Argentina o metal é muito menos comum do que em outros países. Eu como artista tenho o prazer de ajudar nessa difusão, abrir as portas para que minha música seja escutada por mais gente. Quando ouve meu álbum, percebe que não é um álbum completamente metaleiro, há canções que não têm nada a ver com metal, há canções semelhantes a trilhas sonoras. É isso que amo fazer e tenho a liberdade de fazê-lo.