(Capa)Tarja Turunen: Somente agora eu tenho tempo para chorar a morte da minha mãe

Uma canção para a lembrança de uma mãe.

Tarja Turunen canta para sua mãe em seu próximo álbum, cuja perda ela nem mesmo teve tempo para chorar durante os mais agitados anos do Nightwish.

Está um raro dia quente e bonito de outono do lado de fora. Quando entramos no estúdio um pouco escuro, parece que avançamos alguns meses à frente. Elfos vermelhos nas paredes, laços prateados e bolas vermelhas brilhantes na árvore de natal. É natal.

"Isso é uma surpresa do Marcelo pra mim" diz Tarja com um sorriso. "Quando começamos a gravar o álbum de natal, eu mencionei alto como coisas desse tipo ajudariam a entrar no clima."

O estúdio é familiar: lá Tarja tem gravado quase todo o material. Em agosto ela gravou o álbum de natal que será lançado em novembro.

"Nós temos uma boa equipe e tempo de suficiente. É ótimo trabalhar com Esa Nieminen. Eu fiz um single com ele alguns anos atrás, então eu não fico tão nervosa com ele. Eu sempre fico nervosa quando tento coisas novas, quando você tenta seu melhor, você acaba se excedendo."

O álbum de natal começa um novo estágio na vida da Tarja. Ela se apresentará como ela mesma - não mais como a cantora do Nightwish.

"O álbum de natal vindouro será versátil e diversificado. A música será calma e calorosa. Incluirá o tipo de música que eu gosto de ouvir no natal. Tem algumas canções clássicas, cantigas finlandesas, canções novas e cantigas bem conhecidas do público mundial."

A canção mais importante pra Tarja é "You would Have Loved This", que ela foi buscar nos EUA. Fala sobre a morte de uma pessoa muito próxima. E de como essa pessoa que se foi amava essa época do ano. Não só o natal, mas essa época mesmo do ano.

"A letra é tão tocante que eu chorei quando a ouvi a primeira vez", diz Tarja. "Trouxe minha falecida mãe pra perto de mim. É pra ela que eu estou cantando esta música."

Tarja nunca falou da morte da mãe antes. Já faz três anos. Antes de ela morrer, ela esteve doente por um longo tempo. Ela morreu de câncer.

"Só agora eu tenho tempo para chorar. Eu ainda tenho momentos onde sinto muito a falta dela. Ela era tão forte e ao mesmo tempo tão sensível", diz Tarja. "Agora eu tenho tempo para parar e pensar no que acontece voltar atrás. Só agora eu posso falar sobre a morte dela. Não faz tanto tempo assim."

"Por outro lado, nos anseios há também flashes de lembranças carinhosas e bons momentos. Daquela época eu tenho uma mistura de bons sentimentos com saudade e uma doce amargura".

Tarja reflete sobre como as pessoas são forçadas a guardar a tristeza e outros pensamentos desagradáveis nos cantos mais profundos de suas mentes. Lá eles esperam a hora certa de voltarem a luz - e a pessoa deveria aceitar o leque de possibilidades. “Eu tive de lidar com isso também.”

"Eu penso em como as pessoas estão em seus trabalhos, vivendo como se a vida fosse uma corrida, onde é impossível sair dela. A pressão que vem de fora é enorme e em uma situação de competição as pessoas têm que fazer mais do que elas são capazes. Ela tem que por suas preocupações e tristeza de lado conscientemente."

Tarja admite que as vezes é fácil para uma pessoa escapar do trabalho, por exemplo. Você tem que se desmantelar a tristeza de uma forma ou de outra, enfrentando o dia-a-dia.

"É fácil escapar do trabalho. Nessa hora amigos se fazem necessários, e eles são muito importantes. Eles estão lá por você para te ajudar. Descobrimos que há muita força dentro de nós mesmos quando precisamos dela."

Tarja está sozinha aos olhos públicos pela primeira vez.

"Eu estou começando de novo e sozinha, mas eu não me sinto sozinha ou deslocada. Eu tenho muitas pessoas ao me redor que me dão força. Eu carregada com nova energia e estou olhando para o futuro com a mente feliz. Eu sinto que posso dar mais aos meus ouvintes. Somente meu álbum solo que será lançado ano que vem será capaz de dizer quem é Tarja Turunen."

A garota interiorana Carélia do Norte surge com palavras de um delicado dialeto (N: originalmente ela usou "mie", uma variante de "minä" (eu em finlandês) que é usando apenas em alguns dialetos).

"Eu fico feliz quando eu mesma faço as coisas. Eu me sinto mais forte quando estou caminhando com meus próprios pés."

Tarja diz que sua base mais forte encontra-se na música clássica, mas admite ter um pouco do espírito rockeiro.

"Música clássica é minha raiz, mas eu tenho um lado rockeiro mais forte, que eu passei a conhecer mais profundamente em nove anos com o Nightwish. Minha música provavelmente terá elementos do metal. Eu encontro minha força nas cores, tons e emoções dele."

Tarja é conhecida como uma artista excepcionalmente exigente, que não aceita nada feito pela metade das outras pessoas ou de si própria.

"Se eu sentir que falhei no estúdio eu me repreendo severamente. Sou uma pessoa que exige ao máximo do meu talento. Eu acho que as pessoas sempre podem fazer melhor. Eu não quero pensar que estou pronta, porque então eu pararia de progredir."

"Agora eu tenho coragem de ouvir minhas velhas gravações. Eu posso me sentir satisfeita com meu desenvolvimento. É relativamente fácil para qualquer cantora identificar seu próprio progresso imediatamente."

Tarja não tem vergonha das suas raízes em Kitee. Ela tem orgulho do lugar onde cresceu.

"Infelizmente eu raramente tenho tempo para ir a Kitee. Meus irmãos ainda vivem lá. Meu pai vive em Joensuu. Eu não costumo ir a Carélia do Norte só pra apssar um dia, gosto de passar um tempo por lá. Por sorte meus irmãos e outras pessoas importantes vêm nos visitar em Kuusankoski com freqüência."

"Eu nunca me canso de admirar a beleza natural da Carélia do Norte. Eu só posso admirar quão bela e límpida nossa terra é. A cordilheira, os lagos, as baias e florestas. Eu amo muito tudo isso."

"Eu gosto das diretrizes do leste finlandês. Você pode ir a casa de um amigo sem cerimônias. É só chegar e perguntar se tem caffé."

Tarja e seu marido Marcelo Cabuli têm uma casa na Finlândia, em Kuusankoski. A coisa mais importante lá são os amigos, que os receberam e até ajudaram a achar uma casa. Um lugar querido também é a casa em Buenos Aires, Argentina.

"A cultura é totalmente diferente lá, mas eu me sinto em casa. Franqueza, demonstração de emoções e conversar sobre qualquer coisa imediatamente me fazem bem. Eu basicamente sou uma pessoa muito tímida e reservada. Fico nervosa com muita gente a minha volta e por isso eu não faço amigos tão facilmente. A cultura latina me ensina muito."

Há muita especulação na mídia sobre a parte do Marcelo nos conflitos com o Nightwish. Tarja defende seu marido.

"Marcelo é quem me dá maior apoio. Sem seus cuidados, encorajamento e força, eu não estaria aqui neste momento, tão forte", diz Tarja. "Estar com um companheiro estrangeiro é esquisito para a cultura finlandesa. Mas do fundo do meu coração eu posso dizer que somos extremamente felizes. As pessoas provavelmente não entendem os quão bem nos damos. Ninguém sabe o quão forte é a conexão entre nós."

No começo Tarja e Marcelo tentaram passar algum tempo separados, mas isso não os agradou.

"É ótimo do jeito que está. Não quer dizer que vivemos uma única vida. Ambos temos liberdade de pensar e agir, mas também a oportunidade de compartilhar tudo. Nós damos espaço suficiente um ao outro."

Família é um sonho de ambos, mas agora não é a hora.

"Estamos juntos por seis anos. Às vezes brincamos que o homem da casa tá começando a ficar ultrapassado. Mas ainda não está na hora. Tudo acontece na hora certa, e é como tem que ser. Você não apenas encomenda bebês, mas eu espero e acredito que quando a hora chegar teremos uma criança."

Tarja é uma pessoa carinhosa e sensível. Seu visual gótico, dark e as caras sérias criaram alguma distância, que pode ser interpretado como arrogância ou orgulho.

Não há uma foto de Tarja onde ela esteja sorrindo como uma criança ou fazendo bolhas de sabão. Sentada no sofá, seu sorriso suave, ela fala solta e feliz, mas nas fotos é uma artista distante chamada Tarja Turunen. Mas ela prefere continuar assim para se preservar.

O fotógrafo admira seu rosto, que tem uma estrutra-esquelética quase perfeita, e muito fotogênica. Ela podia ser uma modelo.

"Mas eu sou dez centímetros mais baixa que o necessário", ela ri.

Você se sente uma estrela Tarja?

"Eu nunca me acostumei com as pessoas me seguindo com os olhos e os sussurros. Eu sei que eles não fazem por mal, é uma curiosidade natural e espontânea. Então eu lembro que as pessoas me conhecem como uma artista. É uma parte necessária de ser alguém público e você tem que se adaptar a isto. Isso não me incomoda mais."

"Eu não me sinto uma estrela. Eu estou feliz com o sucesso mundial, mas isso não me afetou como pessoa", analisa Tarja. "Eu ainda sou a mesma Tarja, com muito a aprender e ainda incompleta. Eu me sinto privilegiada porque eu faço algo que gosto. E eu sei que eu também não ganhei nada de graça. Sucesso exige um trabalho duro e um pouco de sorte."

Tarja pensa em si como pessoa.

"Eu sou uma típica leonina e eu sou muito mais energética que o Marcelo. Ele é mais equilibrado. Eu não quero ser o centro o dia inteiro, mas quero meu próprio espaço", diz Tarja. "Eu sinto fortes emoções. Eu sinto espasmos de gratidão, dor, amor e aflição. Marcelo é uma pessoa muito emotiva, mas ele sente as coisas mais na dele."

Tarja diz que Marcelo também a ensinou muito sobre franqueza. "Se em casa eu aprendia a não falar sobre as coisas, com Marcelo eu aprendi a me abrir. Nós colocamos os problemas sobre a mesa no mesmo instante - e falamos sobre eles imediatamente."

"Durante os anos passados eu fui me tornando mais cuidadosa. Quando eu faço amigos, eu dou meu melhor."