Parte 01
IDEIA DO PROJETO
TARJA: A ideia de tocar ao vivo com uma orquestra sinfônica, coro e Mr. Terrana na bateria foi originalmente minha. Mike fez uma gravação com a bateria sobre peças clássicas que eu achei ótima. Eu poderia imaginar isso em um palco com uma orquestra real como parte de um conceito maior. Acredito que este tipo de combinação de instrumentos, particularmente, tocando principalmente música clássica, é muito original. Eu já fiz colaborações com orquestras antes e eu podia prever um grande resultado.
MIKE: Eu tive a ideia de gravar uma versão da "1812 overture" como um tributo para Cozy Powell há 4 anos. Eu gostei tanto que resolvi gravar um CD inteiro de músicas clássicas, que ficou conhecido como "Sinfonica".
Eu tinha realizado muitos shows solo em toda a Europa e América do Sul tocando as peças clássicas de "Sinfonica" e as pessoas parecem gostar da mistura do rock de uma bateria poderosa com a música clássica.
Um dia, durante uma pausa da estrada, Tarja e eu estávamos discutindo os nossos interesses na música clássica e ópera e decidimos montar um show chamado "Beauty and the Beat".
Me pareceu bem natural, porque a Tarja é muito conhecida por interpretar concertos de música clássica por conta própria; Eu no entanto era novo para o mundo clássico e sendo um baterista de rock autodidata, não tinha certeza de que meu estilo de bateria se encaixavam com a orquestra. Depois de finalizado o conceito, decidimos que precisávamos fazer um programa de teste para ver se ele iria funcionar ao vivo. Isso aconteceu na Bulgária em 2011, num show lotado para tocar em um lindo anfiteatro antigo.
COMO VOCÊ PREPAROU PARA O PRIMEIRO SHOW?
MIKE: Para nos preparar para o primeiro show, fizemos dois dias de ensaio com a orquestra, o que no início não foi fácil para mim. Este show iria servir de modelo para todos os outros shows da tour de Beauty and the Beat por isso era muito importante para nós.
TARJA: Estava treinando duro vocalmente durante muitas semanas antes do primeiro show. Eu também fiz aulas de canto com meu professor de canto em Buenos Aires para certificar-me de que eu estava no caminho certo. Eu precisava encontrar roupas novas para este show também, então confiei nos designers locais argentinos para isso.
Enviei as partituras que eu tinha para a orquestra e coro, com antecedência, então tiveram o material na mão antes dos ensaios reais começaram em Plovdiv com Mike e eu. A orquestra tinha ensaiado as canções sozinhas sem os solistas por algumas semanas. Quando chegamos à Bulgária, tivemos dois dias de ensaios com eles. Foi muito emocionante para todos! Percebemos durante os ensaios o quão exigente e desafiador o programa real seria, mas todos nós gostamos do desafio. Conversei com o maestro todas as questões de tempo em cada uma das canções com antecedência e a certeza de que estávamos todos na mesma página.
ASPECTOS TÉCNICOS DO SHOW
TARJA: Para mim é impossível cantar música clássica, com monitores de ouvido ou um microfone de mão, porque eu quero ouvir a minha voz natural e também quero ter as mãos livres enquanto canto. Nesses concertos eu usei dois calços onde eram misturado os instrumentos da orquestra que eram necessários, para eu ouvir a afinação e ritmo corretamente. Também ouvia a minha voz com algum reverb. Para as peças clássicas, eu usei um microfone que é projetado para este tipo de apresentação, da marca chamada Schoeps. É um microfone que não seguro na mão, nem é fica muito perto da minha boca, mas em vez disso é a mais ou menos 30 cm de distância na minha frente. Usei um microfone de mão para conseguir mais definição na voz para as canções de rock. O volume da minha voz é um pouco mais baixo naquelas músicas, comparando com as peças clássicas.
Sempre foi um desafio nestes concertos para obter o som definido igual aos ensaios, mas é pra isso que servem os ensaios!
Eu tinha que planejar cuidadosamente o repertório e a ordem de execução para estes concertos. Enquanto que precisávamos manter o interesse do nosso público e não ficar muito difícil para mim cantar. É vocalmente muito desafiador fazer as mudanças entre peças clássicas e as de rock . Eu estava contente de ter a oportunidade de relaxar e me concentrar em minhas peças seguintes no backstage enquanto Mike estava realizando seus números solo.
MIKE: Primeiro de tudo a bateria acústica é muito alta, então eu tive que adaptar o tom da bateria e o estilo para o nível dinâmico da orquestra, isto envolveu abaixar o tom da minha bateria usando a fita para amortecer as batidas.
Também tive que estar muito consciente da minha força quando tocava. Você não pode tocar bateria acústica com a mesma intensidade com uma orquestra como você faria em uma banda de rock. Isso levou algum tempo e prática.
Também foi tecnicamente complicado conseguir a mistura correta no fone de ouvido para este tipo de projeto. Todos os instrumentos foram misturados e então divididos em subgrupos que foram enviados para meu mixer. É muito importante ter uma boa dinâmica de equilíbrio entre todos os instrumentos de orquestra, caso contrário você não ouve a peça na sua forma correta, tornando difícil tocar junto.
Todas essas variáveis tinham que vir juntas perfeitamente para que eu fosse capaz de tocar e executar as peças com a melhor das minhas habilidades. Uma tarefa mais fácil de dizer do que fazer; no entanto, sempre gostei de um bom desafio e eu gosto de tocar todas as formas de música. Acredito que é importante como artista, para empurrar-nos em diferentes áreas, a fim de crescer e evoluir.
Devo dizer que aprendi muito sobre música e dos músicos clássicos e condutores envolvidos com o projeto. Foi uma experiência muito interessante e fantástica e espero fazer tudo de novo em um futuro próximo.
Parte 2
COMO FOI TRABALHAR COM UMA ORQUESTRA?
MIKE: Orquestras não tocam normalmente no tempo que as bandas de rock ou metal. Eles são livres na sua interpretação das peças, e eles contam com o condutor para o correto andamento, dinâmica e intensidade. As orquestras basicamente nadam no tempo, não tocam com um tempo perfeito como um metrônomo. Isso obrigou-me a fazer um compromisso. Tive que tirar uma média entre meu feeling para pegar o ritmo e a dinâmica dos condutores. Por favor, tenha em mente que em uma banda de rock que você toca com 3 ou 4 pessoas, no âmbito de uma orquestra você está trabalhando com 80 pessoas ou mais. É muita informação para considerar, então para trabalhar desta forma, você deve ter orelhas grandes! Eu tive que ouvir, assistir e tomar minhas sugestões do condutor. Normalmente numa banda de rock, o baterista é o maestro. Novamente, não sendo um músico de formação clássica, eu tive que aprender estas coisas no local.
O maestro é o homem que dirige o show no palco e a maioria dos condutores da tour eram amáveis e tinham a mente aberta ao meu conceito de bateria misturada com as peças clássicas. No entanto inicialmente houve alguns momentos de confusão, por causa do volume da bateria. Um dos maiores problemas é que as peças que eu toco são famosas e não precisam de bateria. Elas soam perfeitas sem bateria de rock moderno. Então eu acho que para muitos minha interpretação dessas peças foi um choque. Normalmente os segundos dias de ensaio sempre foram os melhores e tivemos que nos conhecer e tocar juntos.
No final os condutores, orquestras, coros, tudo tinha que ajustar em conformidade. Nem todas as orquestras são iguais: algumas são melhores; algumas têm mais ou menos experiência. O condutor também pode modificar o desempenho de uma orquestra. Havia muitas variáveis envolvidas que mudou com cada show que fizemos, cada show foi excepcionalmente diferente e desafiador.
TARJA: Eu já tinha trabalhado com diversas orquestras, antes do projeto "Beauty and The Beat", então para mim tocar com uma orquestra ou coro não foi uma experiência nova. De qualquer forma, cada orquestra soa e atua de forma diferente e cada condutor funciona de forma diferente. Demora sempre algum tempo para se adaptar à mudança como solista e você tem que estar pronta para direcionar as pessoas com as coisas que você precisa.Este conceito de ter a bateria tocando junto com uma orquestra trouxe um novo desafio para todos nós, por causa da questão de ritmo. Não usamos faixas durante o concerto, então como sempre existem diferenças em andamentos, porque a orquestra não toca como um baterista é acostumado. Tantas vezes tivemos dificuldades em ouvir uns aos outros corretamente ou acertar o ritmo, mesmo no meio da canção, mas conseguimos muito bem. A de Zlin realmente é uma grande orquestra, e foi um prazer ser suas solistas durante três noites para as gravações de vídeo.
VAMOS FALAR SOBRE A GRAVAÇÃO DE DVD
TARJA: Há uma tensão extra ao redor quando você sabe que você está gravando e filmando o concerto. É engraçado, mas não há nenhuma maneira que você possa esquecer isso e apenas se concentrar em fazer o show, como de costume. Toda a gente da equipe, inclusive eu estava nervoso com a situação, mas no bom sentido. Todos queriam fazer o melhor.
Não tínhamos qualquer ensaios de câmera, então a equipe de filmagem realmente trabalhou duro durante o concerto.
MIKE: Estamos muito feliz por ser capaz de ensaiar e gravar o DVD no centro de convenções, um local muito lindo e novo em Zlin, Republica Checa. A orquestra e maestro eram profissionais jovens, de mente aberta, então estávamos tendo um bom começo. Foram dois dias de ensaio marcado com a orquestra e o coro antes da gravação do DVD. Nós também adicionamos algumas peças novas para o show, entre eles um medley de Led Zeppelin, assim levou algum tempo para resolver as transições de canção para canção.
Todos os 3 shows foram esgotados... e o 2º show foi gravado para o DVD. Eu estava um pouco nervoso antes do show até pensei que eu fiz muitos DVDs antes, mas nunca com uma orquestra. Também estava cantando, o que também é uma coisa que não faço normalmente com as bandas de rock que eu toco.Então eu me lembro sentado no camarim, sozinho e pensando: "você vai mesmo fazer isso?". E... Eu fiz! Também não é tão fácil de tocar bateria, vestindo terno e gravata. Muitos bateristas de jazz no passado costumavam tocar neste estilo. Agora que eu completei 15 shows tocando bateria de terno eu tenho um novo respeito por eles.
Parte 03
IMPRESSÕES DA TOUR
MIKE: Após o DVD fizemos mais 12 shows na Rússia, República Checa, México, Lima, Peru, Finlândia, Estônia, Romênia e Polônia. Claro que quando você viaja você tem todos os tipos de obstáculos diferentes: linguagem, mentalidade, política, mas na maioria dos casos as experiências de trabalho no exterior e trabalhar com novos artistas é uma experiência prazerosa e gratificante. Acho que é uma educação que você simplesmente não pode comprar. São as experiências do mundo real, que verdadeiramente nos molda em quem nos tornamos. A tour do Beauty and the Beat foi muito diferente da maioria das tours de rock ' n roll eu tenho experimentado.
Estávamos voando para as cidades, e ficando em hotéis muito bons onde ensaiamos em condições muito confortáveis.Os locais também muito bonitos, teatros ou salas de concerto. Em uma turnê de rock você dirige um ônibus direto depois do show para o próximo show, mas em uma turnê dessa natureza ficamos 3 dias em cada cidade.Então depois do ensaio você pode desfrutar da cidade e relaxar um pouco. Todas as orquestras e maestros foram diferentes, mas todos eles foram brilhantes no então isso manteve as coisas interessantes.
TARJA: Viajar com Beauty and The Beat foi relaxante, mas por outro lado, também um trabalho difícil. Viajamos muito entre os países e cidades e sempre teve dois dias de ensaios com cada orquestra antes do concerto. Eu tinha que continuar treinando minha voz durante essa turnê, desde que o programa foi um verdadeiro desafio para mim e eu tinha que manter o foco em minha técnica de canto.Os dias de ensaio eram geralmente muito longos e entretanto também estávamos fazendo promoção, entrevistas e sessões de autógrafos. Então a turnê não significa só concertos.
Na Romênia infelizmente fiquei muito doente e precisamos adiar o concerto um par de semanas, mesmo tentando até o último minuto fazer o show como planejado. É muito difícil para mim manter-me saudável o tempo todo e especialmente se estou realizando música clássica, é impossível para mim cantar o programa corretamente, se eu pegar uma gripe leve. Durante shows de rock, cantei várias vezes estando doente sem o público nem perceber, mas os concertos de música clássica são diferentes e exigem vocalmente mais de mim.
Mesmo assim, a turnê de Beauty and the Beat foi realmente uma experiência maravilhosa. Aprendi muito trabalhando com condutores, coros e orquestras diferentes. Também o fato de que sempre realizamos concertos em lugares bonitos, grandes teatros ou salas de concerto, nos fez sentir felizes que pudéssemos levar nossa música pra tantas pessoas.
O QUE O FUTURO RESERVA PARA O PROJETO 'BEAUTY AND THE BEAT'?
TARJA: Nosso principal objetivo com esses tipos de concertos é que o público mais jovem experimente a beleza e o poder de uma orquestra sinfônica e coro. Esperemos que servirá como uma introdução à música clássica para alguns de nossos fãs.
MIKE: Esperamos que o lançamento do DVD vai ajudar a promover o conceito de fusão rock e música clássica. Realmente é música para as massas e para todas as idades, então eu acho que devemos apelar para uma grande parte da população de audição de música. Nós também esperamos tocar muitos mais concertos em todo o mundo.
CONCLUSÃO
MIKE: A gravação do DVD Beauty and the Beat foi uma ótima lembrança! Nós conhecemos muita gente legal ao longo do caminho e fizemos muitos amigos em lugares distantes. Eu adoro trabalhar com Tarja, é sempre um grande prazer. Eu também gostaria de agradecer-lhe pela oportunidade e por confiar em mim para tocar com ela neste ambiente musical clássico. Eu me vejo principalmente como um baterista de rock, então devo dizer que este DVD tornou-se um marco em minha carreira. Estou muito orgulhoso e honrado de ser parte disso e de ter feito algo novo, fresco e emocionante.
TARJA: Eu tenho só boas recordações desta experiência. Estou muito feliz que nós trabalhamos duro para conseguir este DVD, porque no final ele mostra que valeu a pena. O concerto parece e soa bem e todos nós podemos ter orgulho disso. Espero que continuemos a fazer as pessoas felizes com a música, assim como a música nos faz feliz todos os dias.