Nina: Antes de tudo, tenho que dizer que você é um dos meus maiores ídolos e eu tenho acompanhado sua carreira por muitos anos. Aprendi muito ouvindo sua música... E eu me pergunto, como você faz tudo isso? De onde você tira toda a energia, a inspiração, o tempo para fazer esses projetos maravilhosos que inspiram tantas pessoas ao redor do mundo?
Tarja: Obrigada! Me sinto privilegiada em poder ter uma carreira internacional como cantora e trabalhar com pessoas que me respeitam. O canto é algo em minha vida sem o qual eu ficaria doente. Estou vivendo meu sonho e fazer música me faz muito feliz. É maravilhoso se sentir livre com sua arte! Acho que é o puro amor que eu tenho pela música e por cantar que meus fãs sentem quando me veem ou me ouvem cantando. O que me inspira são as pessoas com as quais eu trabalho, os ambientes, e o fato de eu estar muito feliz com minha arte.
Nina: Estar em tour por tanto tempo... Com tantos homens... É um desafio, acho. Como você cuida da sua saúde física e mental, e especialmente de sua voz? Fica mais fácil com o tempo ou sempre é trabalhoso? Ou algum dia foi trabalhoso? :D
Tarja: Nunca é fácil estar em tour como cantora. Os climas mudam, há as diferenças de horários, e os desafios de ambiente exigem muito de você. Eu preciso treinar muito, fisicamente, durante várias semanas antes das tours e eu também tenho aulas de canto para ter certeza de que está tudo indo bem. Durante as tours eu tento não me cansar muito com outras atividades além de cantar, porque os shows exigem muita energia. Eu também continuo treinando minha voz, o que é muito importante. Tenho que ser honesta com você e dizer que na minha banda anterior, ninguém realmente entendia que eu precisava cuidar da minha voz e estar atenta ao quão frágil ela é. Era difícil praticar enquanto outros estavam fumando do meu lado ou quando eu não conseguia dormir porque os caras resolviam festejar. E também o fato de eu ser mulher foi esquecido muitas vezes. Não que eu precisasse que alguém abrisse as portas para mim ou me servisse como uma rainha, mas eu precisava que eles percebessem que eu sou uma mulher que ás vezes precisa de um pouco de privacidade. Nós éramos jovens na época, mas eu ainda acho que você pode ser jovem sem necessariamente ser estúpido. De qualquer modo, hoje em dia a situação é completamente diferente. Meus músicos homens tem experiência, são inteligentes e ótimas pessoas. Me divirto muito, e nunca tive problemas como no passado.
Nina: Como é um dia normal para Tarja na tour e em casa?
Tarja: Em tour eu acordo bem tarde, já que não durmo bem em aviões e ônibus. Sempre perco o café da manhã! Almoço, cuido do meu bebê, e me preparo para a passagem de som. Depois disso eu começo a arrumar meu cabelo, maquiagem e roupas para o show. Aqueço minha voz de novo logo antes do show e passo as músicas na minha cabeça. Depois do show eu tomo um banho, como uma salada e aproveito as últimas horas do dia com minha filha antes de ir dormir. Quando estou em casa gosto de ser a dona de casa para meu marido e a mãe para minha filha. Limpo, cozinho e cuido de mim mesma. Também tenho aulas de canto, ensino meus alunos e me exercito bastante.
Nina: Recentemente eu escrevi minha tese sobre mulheres no metal com um capítulo sobre você. Você sempre se sentiu bem-vinda no metal assim como seus colegas homens? Como era essa sensação quando você começou sua carreira e como é agora?
Tarja: Acho que todo mundo no metal me achou estranha no começo, já que eu tinha um passado tão diferente. De qualquer maneira, me respeitaram como eu sou. Sempre houve confiança entre mim e minha audiência, já que eu sempre fui bastante franca com eles. Não sabia muito sobre metal quando entrei para uma banda de metal, mas a experiência abriu meus olhos.
Nina: Eu assumo que como artista você se sinta livre para fazer o que quiser... Ou pelo menos me parece desta maneira, talvez eu esteja errada, mas há algo que você ainda queira alcançar?
Tarja: Eu adoro desafios em geral e estou sempre pronta para começa-los sempre que há uma chance. Talvez algum dia eu ainda queira participar de uma ópera e ensaiar para um papel de verdade, mas isso só pode acontecer quando eu não tiver mais nenhum compromisso.