A voz que faz os anjos chorarem.

Tarja Turunen iniciou sua carreira solo com o lançamento de Henkäys Ikuisuudesta (sopro dos céus). Se trata de uma coleção de canções natalinas antigas e novas. "Show" falou com exclusividade com o anjo de Kitee para conhecer mais sobre esse projeto.

Por: Ignacio Andrés Amarillo

Enviado especial a Buenos Aires

Tarja Soile Susanna Turunen ("Cabuli", para o Registro Civil) se converteu em uma rainha mãe das Gothic Queens a frente do Nightwish, entre 1997 e final de 2005: sua voz lírica (formada como soprano na Academia Jean Sibelius de Helsinki, embora avance ao registro de Mezzo).

Deu a volta ao mundo, junto com sua imagem de princesa das neves, com seus vestidos de mangas longas e golas glamurosas.

Mas a garota que vem a entrevista, com franja, vestida de Jeans e maquiagem sutil poderia ser moradora de qualquer lugar; exceto por seus típicos traços finlandeses e porque se apresenta com um "olá..... Tarrrrja", com esses erres típicos finlandeses que conquistaram milhares de fans.

Tem (isso sim) olhos verdes mais claros dos que saem nas fotos, e uma branquíssima fileira de dentes, que faz questão de mostrar até as gengivas cada vez que ri (coisa que passa “batida”): simpática e espontânea, não demonstra ser uma das figuras destacadas da música da Europa.

Aos 29 anos (nasceu em 17 de agosto de 1977 em Kitee, Finlândia) decidiu iniciar sua carreira solo com um projeto com grande recepção: Um disco de canções natalinas. Intitulado Henkäys Ikuisuudesta (sopro dos céus), será lançado dia 3 de novembro, e com esse pretexto "Show" se aproximou da cantora para desentranhar um personagem de conto.

- A pergunta obvia: Por que gravar um disco natalino, um álbum de Natal

- Eu comecei com a idéia de fazer o álbum de natal já em 2003, porque é uma tradição muito especial: temos muitos artistas que fazem concertos na época de natal em igrejas, teatros, fazem turnês. Aqui é assim: vocês não fazem concertos em igrejas, o que é muito especial: na Finlândia temos aos montes.

Muitos artistas também fazem discos natalinos, são projetos paralelos que eles estão fazendo principalmente. Esse é meu o caso, é um projeto paralelo especial, e as musicas no disco são autenticas musicas natalinas; não é um som muito comercial, como Jingle Bells ou esse tipo de canção que se pode comprar no supermercado ou em grandes lojas: é muito tranqüilo, porque para os finlandeses o natal é tranqüilo. Aqui é "muy ruido" (ela fala isso em espanhol mesmo): muito comércio e explosões...

- É verão...

- Sim, mas lá é um inverno muito frio, 30º abaixo de zero, é realmente frio e silencioso.

- Como escolheu as canções?

- Em 2004, quando lancei meu primeiro single natalino, Yhden Enkelin Unelma (Um sonho de anjo) que foi composto por canções natalinas muito tradicionais na Finlândia, e estava pensando em fazer um disco. Mas não tinha tempo: estava com o Nightwish, fazendo shows por todo o mundo, fazendo meus próprios concertos solo.

Nesse tempo, comecei a pensar em canções que pudessem representar esse natal que eu mesma queria escutar. Essas canções que eu gosto de escutar no rádio: "Quais são essas canções?".

Fiz uma turnê no final de 2005, uma pequena tour: um par de concertos na Finlândia, dois na Alemanha, um em Barcelona e um na Romênia. Nessa tour eu estive cantando muitas canções que estava pensando em colocar no álbum. E ai, vi que as canções estavam funcionando como um todo, as quais as pessoas realmente gostavam.

Depois tomei minha decisão. "Okey vou usar essa, essa eu tiro". Era um grande pacote de canções entre as quais escolher da biblioteca musical de minha casa.

Também há duas canções novas. Uma delas é You Would Have Loved This (Você teria amado isso). A encontrei nos Estados Unidos; a gravadora me mandou um CD dizendo "Nós diga a que você gostar". A história é muito tocante, achei que encaixava perfeitamente no álbum. tem outra que eu mesma escrevi junto com o produtor Esa Nieminen.

- E Sinikka Svärd.

- Letra de Sinikka. Eu não estava pensando em fazer uma canção para esse disco. Perguntei ao Esa: "Tem uma canção nova para o meu álbum de natal?" Ele disse sim, tinha três ou quatro canções que tocou para mim: eu pensava "sim, ali, algo aqui, é linda". Comecei a fazer uma melodia faz muito tempo, para ver se criava algo, mas sempre a deixava para trás. Mas encaixava bem com algumas partes da canção de Esa. Então eu disse: “Fiz essa melodia para vocês juntarem e fazerem algumas mudanças”.

- Por que escolheu You Would Have Loved This como primeiro single?

- Pela história: é uma letra muito simples...

- Muito triste....

- Sim, muito emotiva. É sobre a perda de alguém muito querido. O single anterior tinha duas canções muito conhecidas, muito tradicionais. Então eu disse "Okey, agora que tenho essa canção nova vou colocá-la no single, pois é algo novo": para mim, para o natal, para a gente na Finlândia e aqui na Argentina. Além do mais é em inglês, não é novo para mim, mas é novo para vocês. Creio que é uma canção com uma boa atmosfera.

- Por que Kun Joulu On (Quando é natal) não está no disco?

- É uma canção tradicional finlandesa muito famosa: é provável que a toque nos meus shows. Desafortunadamente apenas na Finlândia e Rússia! (risos). Vou tocá-la, gosto muito dela, mas penso que é suficiente colocá-la no primeiro single e deixar de fora do álbum.

Retornei a colocar a En Etsi Valtaa, Loistoa (Não quero poder, nem ouro), pela maravilhosa letra e melodia de Sibelius: é uma das mais sagradas canções tradicionais. Precisava estar no álbum, pois quando alguém a canta em uma igreja todos terminam chorando. É muito religiosa, tem a ver com os desejos, com Deus e com o próprio natal, com os bons sentimentos. Espero que minha humilde interpretação seja fiel a Sibelius. Não quero fazer uma versão exagerada/grandiosa, pois é uma música muito simples.  

- Você gravou uma canção de ABBA em espanhol, é a sua primeira experiência com o idioma. Como chegou a esta versão?

- Obviamente estava muito nervosa por fazer isso (risos). Meu marido (o argentino Marcelo Cabuli, líder/dono da gravadora Nems) esteve comigo no estúdio, me corrigindo quando fazia algo errado. Por outro lado, o espírito da canção me ajudou muito com a interpretação que fiz. No final, fiquei muito feliz com o resultado: quando a escutei, não disse "oh, que ruim". Espero que soe real para quem a escutar.

- A versão em espanhol foi feita por Buddy e Mary McChrskey para ABBA na Argentina. Como te ocorreu escolhe-la?

- Escutei o disco em espanhol de ABBA, a versão estava ai. Em casa temos uma grande coleção de músicas de/o ABBA.

- Você gosta de ABBA?

- Meu marido é um grande fan deles. Além do mais, conhecemos a maioria de suas canções, porque eles são da Suécia e na Finlândia elas passam muito. Tínhamos a versão em inglês e a em espanhol, e tive uma idéia louca: "vamos colocar uma parte em inglês e especialmente algumas partes em espanhol, vamos tentar fazer algo diferente". Procurei a permissão de Benny Andersson para fazer isso, e a tive (risos): não foi um problema. É algo refrescante para as pessoas.

- Para as pessoas da Finlândia.

- Sim, para as pessoas daqui pode ser algo divertido, mas penso ser algo especial da minha parte para vocês. Isso espero.

- Quem foram as pessoas que colaboraram com esse projeto? Esa Nieminen...

- Esa esteve desde 2004, com o single Yhden Enkelin Unelma. Ele esteve produzindo e me ajudou a fazer os arranjos das canções para os músicos clássicos. Também estiveram alguns amigos meus que já conhecia da música clássica, como minha pianista Sonja Fräki, e a flautista Emilia. Algumas pessoas que convidei ao estúdio tocaram um par de horas. Então usei músicos de seção: tocaram no estúdio e agora me acompanharão na tour. levarei uma banda comigo na turnê, e músicos clássicos: é uma linda combinação de pessoas sobre o palco.

- Acredita que estas canções trarão alguma inocência para nossos tempos?

- O natal sempre tem sido uma época especial para mim, que sempre vivi com minha família. Vivi com eles por muitos anos, mais tarde comecei a ver-los duas vezes por ano, e o natal sempre tem sido uma das vezes que estamos juntos, cantamos canções juntos, comemos juntos, desfrutamos de estar juntos. A música é uma grande parte disso, sempre foi uma tradição: eu tocava piano e minha mãe (que faleceu há alguns anos) cozinhava.

Kitee está a leste da Finlândia, e é muito relaxante voltar lá (embora não seja fácil ir de visita por dois dias: está a 400 quilômetros de Helsinque). Ainda por cima, pode comer o que quiser, não importa se está fazendo dieta ou não (risos). O Papai Noel também vem ver as crianças, o que é realmente emocionante, porque na Finlândia realmente acreditamos nele.

O que busquei com esse álbum é essa tranqüilidade, essa paz, esse sentimento bom, pois toda essa loucura que está passando por nossas vidas, pressão, estress no trabalho, está nos matando.

Vai ter um tipo diferente de sentimento, vai emocionar de alguma maneira: é uma mensagem de natal.

UMA VIAJEM DE KARÉLIA DO NORTE AOS PAMPAS.

- Como você segue sua carreira?

- Ao mesmo tempo estou trabalhando em minha carreira e em meu disco solo. No meu cronograma para o próximo ano tenho a previsão de lançar o álbum: antes de qualquer coisa, faze-lo antes de lançá-lo (risos). Ainda não sei o momento exato em que vai sair. E logo depois disso sairei em turnê: com sorte virei aqui. Tenho planejado muito fazer isso, ainda quando demora dois anos a ir onde quero.

É algo especial para mim. Meu primeiro disco solo vai ser diferente para mim, tornando tudo com responsabilidade, tratando de dar as pessoas tudo o que posso; evidentemente tenho muitas pessoas ao meu redor.

No momento, estou procurando por canções para o álbum, estou escutando músicas todos os dias. É muito interessante, aprendo muito: ao ser musicista é sempre lindo aprender coisas novas, é maravilhoso. Como cantora também. Hoje tive minha aula de canto e aprendi coisas novas. Estou muito feliz com as pessoas que estão trabalhando comigo para o futuro.

- Foi convidada de honra da presidenta Tarja Halonen. Sendo uma figura proveniente da música finlandesa. Você nunca foi convidada para gravar o Hino Nacional (composto por Fredrik Pacius e o poeta nacional Johan Ludvig Runeberg) ou outra canção nacional?

- É difícil gravar o Hino Nacional sendo uma cantora nova. Sei que aqui uma artista fez uma gravação....

- Charly García. Teve muitos problemas.

- Sim. E isso é algo que eu amaria NÃO ter (risos). Foi uma grande honra ser convidada, e teria um outro convite no futuro :). Algo que já estou fazendo é ser uma embaixatriz da música finlandesa em outros países. Por isso estive fazendo o Noche Escandinava, e vou voltar a fazê-lo no futuro, com sorte vamos poder ir à Ásia, mas não tem nada concreto. (Tarja dominando o mundo \o/)

- Tem planos de participar de uma ópera completa?

- Sim, claro, tenho sonhos de fazer algo como isso, mas não acho que seja a hora. Antes de tudo, não acho que estou preparada; além do mais, quero me dedicar a minha carreira solo, para mim, é um passo para um novo mundo.

- Que óperas você canta em seus sonhos?

- Têm muitas... Por suposto, amo muito Mozart.

- A Flauta Mágica?

- (risos) Temos um importante festival de ópera (Savonlinna), onde estive cantando esse verão. Desde que era menina que vou, e vi a Flauta Mágica muitas vezes, assim eu sei o que vai acontecer (risos). Seria lindo cantá-la. Por que não?

- Que coisa você gosta mais na Argentina e qual a que menos gosta? (essa pergunta tá manjada já)

- Tive que aprender muito quando cheguei ao caos de Buenos Aires. Até quando não aprendi o idioma e não me animei a falar em um negocio (?), me sentia só, apesar de que estava com meu marido, sua família e amigos. Agora estou em outro lugar. Isso veio com o idioma.

Amo as pessoas, mesmo quando vocês mesmos se põem para baixo. A Argentina está passando por uma situação triste: Supondo que vemos na rua todos os dias gente pobre (ela ainda não viu as ruas do Brasil), os políticos estão loucos, disparando-se uns aos outros como há alguns dias atrás. Isso nunca vai acontecer na Finlândia.

Estou realmente triste com o que está acontecendo, vocês estão sofrendo muito, em um ponto parece que a solução não existe, mas existe. Entristece-me a situação de corrupção do país (se ela viesse aqui ia MORRER de tristeza); eu mesma como uma pequena pessoa, preciso confiar na pessoa que me oferece algo, mas como confiar? É difícil. Realmente amo as pessoas, todos os dias.

E posso conseguir tudo o que quero, apesar desse caos, esse tráfico. É muito diferente em Helsinque, lá as pessoas se olham nos olhos, sorriem para as outras. (isso no sentido de confiar uma nas outras, no sentido de corrupção etc.).

- Beijam umas as outras....

- É raro para mim porque (risos, estendendo a mão), sou tímida, e é algo divertido de aprender.

- Mesma pergunta para a Finlândia.

- Eu gosto da tranqüilidade, é vazio, o espaço não está contaminado como aqui. Realmente gosto do ar fresco. Quando vou a minha casa, fecho os olhos e tem um completo silencio. "Não há nada", digo. Amo isso.

Na posição em que estou, é muito difícil viver minha vida sem ser notada. Não importa se é uma vovó de 84 ou um garotinho de nove. Minha vida aqui é muito mais livre. Na Finlândia estão todos me seguindo. Sacrifiquei minha privacidade, ainda que não quisesse fazê-lo. Mas venho aqui ou vou a outra parte fora da Finlândia e é lindo. Mas, todavia, desfruto viver na Finlândia.

- Conhece algo da cena musical da Argentina? Tem alguma preferência?

- Sim, não muito realmente. Não gosto da Cumbia (risos), horrível (em espanhol).

- Nós somos da capital da Cumbia....

- Desculpa (risos). Alguém pode me perguntar "Como explicaria aos finlandeses o que é a Cumbia?". Oh Deus! Como explicar? (risos)

Aprendi muito com Marcelo, meu marido, sobre Gustavo Cerati, Charly García..... o de Cerati antes....

- Soda Stéreo. (?)

- Sim, sou fanática pelas boas e velhas bandas. E da cena rock, claro, Rata Blanca. Com sorte faremos algo juntos no futuro. Havia um plano para Rata e eu nesse mês, mas eles estavam em turnê e não pôde acontecer.