Como é a vida de uma brasileira na Finlândia?
F: A adaptacão na Finlândia como brasileira não é exatamente a mais fácil do mundo O clima é completamente diferente e o relógio biológico de qualquer brasileiro fica desregulado: o inverno é muito escuro com apenas 6 horas de luz por dia em Dezembro (de luz, não sol!) e o verão é o completo oposto com luz do dia por 20-24 horas (o que eles chamam de noite branca ou o sol da meia-noite). Pra nós brasileiros, luz significa dia e escuridão noite, então dá pra imaginar o sono incontrolável que sofremos no inverno e no verão ninguém consegue dormir. Com o tempo, claro, a gente se acostuma, como tudo na vida. O frio nem se fala, mas pelo menos dentro de casa é bem quentinho e então o segredo é estar sempre bem agasalhado! A flora finlandesa também é diferente, então muitos estrangeiros sofrem alergias na primavera com o pólen. Trabalho também não é fácil de se arrumar, a não ser que fale a língua, então muitos brasileiros aqui acabam sendo pequenos empresários muitas vezes por falta de opção. E como a língua é uma das mais difíceis de se aprender no mundo, já viu né?
Há quanto tempo você mora aí?
F: Esse mês faz 15 anos que moro aqui cheguei aqui, dia 19 de maio de 2000. Nossa, como o tempo voa!
Por que você decidiu mudar de país?
F: Eu estava estudando um ano nos Estados Unidos quando conheci meu ex-marido que é finlandês. Nos apaixonamos e fiz vestibular pra entrar na Faculdade de Helsinki e como consegui passar, me mudei de vez pra cá e continuei com meus estudos.
Onde você morava aqui no Brasil?
F: Eu nasci e cresci em Belo Horizonte, onde morei até 1999, quando então fui estudar nos EUA.
Tem algum estado que você ainda quer visitar?
F: Ainda não conheço o sul do Brasil, nem o norte do Brasil, então ainda está nos meus planos.
Sabemos que a cultura finlandesa é bem diferente da cultura brasileira. Em seus primeiros meses na Finlândia, qual foi o maior choque cultural que você sentiu?
F: Os finlandeses AMAM o Brasil, então a recepção de brasileiros aqui é muito boa e uma vez que se faz amizade com finlandeses é pra vida toda. O maior choque cultural foi que os brasileiros não param de falar um minuto e os finlandeses são o oposto, prezam o silêncio. Então acostumar com isso foi muito difícil porque eu achava que as pessoas é que não queriam conversar COMIGO e me perguntava que será que tem de errado comigo porque ninguém queria conversar! Mas aos poucos fui percebendo que a cultura é diferente e pronto, as pessoas são diferentes, mas isso não quer dizer que elas sejam frias, uma vez que se conhecem os finlandeses eles são tão carinhosos como um brasileiro. O importante é continuar sendo positiva e entender que o silêncio deles não é nada pessoal contra você, é simplesmente a cultura diferente. Quando vou ao Brasil agora, às vezes quero ficar em silêncio e percebo que como na nossa cultura isso é visto como falta de educação. Na Finlândia as pessoas não gostam muito de “small talk”, mas quando elas realmente conversam com você, você pode ter certeza de que é muito especial porque eles não contam da vida própria pra qualquer pessoa. Também há variações de uma região pra outra: o sul da Finlândia é mais assim caladão, mas já o norte e a Karjala (de onde a Tarja e Miia são) lá eles adoram conversar!
Que dica você daria pras brasileiras que pretendem morar em outros países?
F: Primeiramente ter uma cabeça aberta pra cultura e aprender a língua é o passo número um. Acho que muitas pessoas sofrem porque querem que o lugar seja igual o Brasil e nunca vai ser, então, a pessoa tem que entender que a vida dela agora é em outro lugar e quando mais rápido ela se adaptar, menos sofrerá e mais estará ajudando a si mesma e a sua relação com os outros. Ter confiança em si própria também é muito importante. Acreditar que as coisas vão dar certo e sempre pensar positivo: eu vim pra cá sem nada e aprendi a língua, estudei, e há 11 anos vivo de das aulas de inglês na minha própria empresa. Sou muito grata pela vida que tenho, mas trabalhei muito pra isso e ainda trabalho muito, então a pessoa tem que acreditar que tudo é possível, porque é mesmo!
Você tem vários vídeos cantando estilos de músicas diferentes, qual seu favorito?
F: Música pra mim não tem limites, gosto de cantar de tudo, desde que me faça feliz e que dê felicidade a quem esteja me ouvindo.
No que você se inspira para a criação dos vídeos das músicas infantis?A experiência de dar aula para crianças influencia no seu processo criativo?
F: Meu trabalho com as crianças (sou professora de inglês para crianças de 3-9 anos) em si é minha inspiração pro vídeos. A ideia de fazer os vídeos surgiu quando eu pensei que seria ótimo os pais participarem em casa junto com as crianças de um pouco da alegria que as crianças experimentam nas nossas aulinhas.
Quais são seus ídolos na música brasileira? E internacional?
F: Fui aprender a gostar e apreciar a música brasileira mais depois de morar aqui! No Brasil eu escutava e cantava muito rock internacional e fui realmente me apaixonar pela musica brasileira depois que morava aqui. Os clássicos da bossa nova como Tom Jobim, Leila Pinheiro e dos dias de hoje, gosto muito de Seu Jorge, Ana Carolina, Maria Gadu. Eu também escutava muito Zeca Baleiro nos meus tempos de estudante nos EUA, adoro a voz dele.
Quando você percebeu que cantava lírico? Já estudava para poder cantar assim?
F: Eu percebi que tinha voz para o lírico quando minha mãe me colocou na aula de canto lírico aos 15 anos. Achei fantástico ver que minha voz era tão aguda e na época eu me apaixonei pela voz do Edson Cordeiro e ao escutar Maria Callas pela primeira vez me apaixonei por música lírica. Não estudei como gostaria porque primeiro meus pais não tinham dinheiro pra sempre pagar as aulas e a escola de música. Aqui faço aulas de canto com Teija Palolahti que é e foi a minha melhor professora até hoje, que realmente me fez perceber do que minha voz é capaz e sempre me apoiou em tudo.
Por que você decidiu participar do The Voice of Finland?
F: Já há anos meus amigos e família falam que eu deveria participar, e uma amiga minha muito querida (e minha vizinha de 75 anos) que gostava muito que eu cantasse pra ela, morreu de câncer no ano passado. Quando ela estava muito mal no hospital ela falou pra que eu nunca parasse de cantar. Quando ela faleceu, sua família me pediu pra cantar Ave Maria de Schubert em seu funeral e apesar de ter chorado muito, durante a apresentação de Ave Maria de Schubert senti uma energia muito forte e no dia seguinte ao funeral, mandei minha voz pro programa! Foi como se minha amiga dissesse pra mim: “Vai que agora você tem que mostrar isso pra outras pessoas também”. O apoio da minha melhor amiga e da minha mãe também foram muito importantes na minha decisão de entrar pro programa. Minha mãe sempre me apoiou e é a minha maior incentivadora.
Em algum momento você achou que ninguém viraria a cadeira enquanto você cantava? O quê você sentiu quando a Tarja turunen virou a cadeira para você?
F: Quando entrei no palco, nem me lembrei de que existiam cadeiras que tinham que virar. Entrei com a atitude de agora é minha apresentação e realmente senti a energia do publico e da musica e nem me lembrei que cadeira alguma tinha que virar. Eu estava com meus olhos fechados quando a Tarja virou a cadeira e escutei o publico gritando e pensei: “Uai (como boa mineira!), mas por que todo mundo está gritando? A música ainda não acabou!!!” e foi aí que abri os olhos e vi a Tarja e então pela primeira vez desde que pisei no palco entendi o que tinha acontecido. Foi um momento surreal, chorei muito de emoção. Ainda bem que existe edição de imagens, porque eu grudei na Tarja e chorei de soluçar. Só de pensar no momento começo a chorar de novo!
Como foi a experiência de aprender um pouco mais com a Tarja? Você já conhecia o trabalho da Tarja antes do The Voice? Tem alguma música favorita?
F: Minha experiência com a Tarja ficará guardada pra sempre no meu coracão. É pena que durou tão pouco! Qualquer pessoa que mora na Finlândia conhece a Tarja e o que ela representa. A primeira vez que escutei a voz dela no ano 2000, pensei: “Uau, ela faz o que eu sempre sonhei em fazer, unir o rock ao lírico”. Minha música favorita dela é “Into the sun”, que pra mim é a descrição da minha vida aqui: após meu divórcio, perdi tudo e recomecei do zero. Essa música me dá a ideia de recomeço, de ter coragem mesmo não sabendo o que vai acontecer. Fico feliz que pude em pessoa dizer isso pra Tarja e toda vez que escuto essa música me emociono.
Gostaria de enviar uma mensagem para os seguidores do fã clube Tarja Brasil?
F: Um beijão grande a todos as fãs da Tarja, obrigada pelo carinho durante o programa e continuem adorando a Tarja, que é uma pessoa, profissional e mãe fantástica e merece só mesmo tudo de bom! Beijos!