Em 21 de outubro de 2005, O Nightwish entregou uma carta aberta à Tarja Turunen, sua vocalista por nove anos. Nela, a banda insinuou que a vocalista teria sofrido uma mudança de atitude. Que ela não era mais a pessoa que eles outrora conheceram. Mas ainda, ela informava que seus serviços não eram mais necessários.

Nos meses que se seguiram, sua vida virou de pernas pro ar. Sua família foi arrastada para um dos mais dramáticos do mundo do entretenimento em seu país natal, Finlândia, enquanto seus ex-companheiros de banda começavam a buscar sua sucessora antes mesmo que os jornais pudessem vender a manchete. Foi uma situação que, nas próprias palavras dela, se tornou uma bagunça.

Hoje, entretanto, Tarja Turunen é o retrato vivo de saúde e felicidade. Sentada em um escritório em Londres, ela está pronta para falar sobre seu álbum solo de estréia, My Winter Storm. Conversando e rindo com um entusiasmo infeccioso. É um álbum que levou quase dois anos para ficar completo, um álbum que ela diz ter precisado fazer depois dos acontecimentos que se seguiram ao fatídico dia de outubro. Mas importante talvez, este seja o álbum que vai pôr um ponto final em seu passado.

Onde você encontrou a inspiração para o álbum?

Foi uma gravação bem pessoal pra mim. Bastante emocional, mas também positiva. Eu passei por alguns problemas muito difíceis em minha vida, com amigos, família e obviamente com minha carreira. Mas as pessoas à minha volta sempre me inspiraram. Um escritor brasileiro chamado Paulo Coelho (escritor de temas espiritualistas famoso pel'O Alquimista) foi uma grande inspiração também. A forma dele de ver a vida, sempre lutar pelos seus sonhos, é algo que eu estou fazendo neste álbum.

Por que você quis gravar o Cd em vários lugares?

Às vezes é possível ouvir um álbum e dizer que ele parece escandinavo, mas eu quis fazer um álbum universal. Um dos lugares onde gravamos foi Ibiza. E eu me apaixonei pelo lugar. Eu nunca quis ir lá - eu achei que lá fosse a ilha da festa, cheia de pessoas dançando em tudo quanto é quanto, mas eu vi que era totalmente diferente. Era um lugar tão inspirador, eu e Daniel (o produtor) escrevemos seis canções lá em apenas uma semana.

Qual o significado do título?

Na verdade, ele vem de uma canção chamada I Walk Alone, o primeiro single. Uma das linhas "My winter storm holding me awake is never gone". Exatamente assim que eu me sinto. Eu vi a tempestade como essa explosão massiva de energia. Se você for pensar, uma tempestade é algo ao mesmo tempo belo e assustador, mas também é poderoso.

O álbum te ajudou a curar a ferida depois de deixar o Nightwish?

Música é uma terapia, é algo que ajuda bastante as pessoas, e eu acho que é uma forma de deixar os sentimentos fluírem e se libertar. A situação com o Nightwish foi algo repentino, mas eu acho que talvez fosse algo pelo qual eu precisava passar. Levou bastante tempo para me recuperar.

Que tipo de impacto isso teve inicialmente na sua vida?

Na Finlândia isso tomou proporções ridículas. Tudo foi uma loucura. Estava em todos os noticiários e foi algo muito comentado na Finlândia. Eu sempre fui o tipo de pessoa que sabe separar a vida privada da vida pública. Há certas coisas que só pertencem a mim e há coisas sobre as quais eu posso falar abertamente. Mas isto foi algo que afetou não só a mim, mas minha família e meus amigos também. A imprensa tentou falar com eles, e isso foi algo que eu realmente não gostei.

Como você agüentou?

Foi bem estressante. Foi algo pelo qual minha família jamais teve que passar, e de repente eles foram arrastados para isso. É algo que eu não desejo a ninguém. A fama sempre foi uma parte importante da minha vida, mas nunca foi algo que a atrapalhasse. Eu fui parte da banda por nove anos, e claro, foi motivo de interesse para muita gente. Eu me importo mais com as pessoas a minha volta do que comigo mesma.

Na época pareceu que você soube da demissão ao mesmo tempo em que o público.

Pois foi. Na verdade uma noite antes. Poucos segundos antes da carta ser postada, meu telefone tocou constantemente. Eu sentia vontade de vomitar.

Isso foi mais como perder alguém querido do que apenas deixar a banda?

Eu acho que sim. Foi bem estranho. Às vezes na vida se perde pessoas que se ama. Eu perdi alguém a quem eu amava muito. É algo que se for inesperado, é ruim do mesmo jeito.

Quando eu falei com Tuomas recentemente, ele descreveu a separação como uma grande loucura. O que você acha que ele quis dizer com isso?

Porque isso se tornou público, talvez. Ou talvez pela forma como isso foi tratado na mídia. Não sei o que ele quis dizer, mas obviamente não foi algo bonito! (risos)

Você já falou com algum de seus ex-companheiros desde então?

Não. Não mantemos contato.

Você gostaria?

Eu vejo isso como um barco bem distante, mas vamos ver o que o tempo trará. O tempo é algo que cura todas as feridas, de um jeito ou de outro. Talvez seja hora de perdoar, mas jamais esquecer.

Isso tudo é algo que parece não ter fim?

Eu provavelmente vou ter que enfrentar essas perguntas por um longo período, mas eu sou bem clara. É hora de seguir em frente. Quase dois anos se passaram e eu não estou de joelhos respondendo coisas pessoais sobre o que aconteceu entre mim e a banda. Eles têm coisas pessoais que deveriam continuar pessoais.

Você olha pra trás com um sorriso no rosto ou com o coração pesaroso?

Eu tenho tanto orgulho de tudo que eu fiz com o Nightwish. Tanto orgulho e felicidade, mas também gratidão por todas as experiências que compartilhamos. Algo que me ensinou bastante, e embora obviamente passemos por experiências ruins também, para mim foi algo fantástico. Eu sou muito contente por ter sido parte disso.