E: Bem vinda de volta Tarja. Você está no meio de um período bem intenso agora, no meio de uma tour mundial, nesse sábado com o show final no Malvinas, mas amanhã com mais um show em outro país! É muito!

T: Sim. Montevidéu, Uruguai, amanhã e depois de amanhã o Malvinas.

E: E o que estará apresentando o quê? Qual o repertório?

T: O mesmo, o show é do meu novo álbum, ou, bem, quase, porque já passaram três anos! (risos) Quase três anos em tour.

E: Uma tour que te levou por todo o mundo.

T: sim. Creio que passamos por 32 países, 98 cidades e fizemos quase 110 shows.

E: E continentes, quantos? Só faltou dizer isso (risos).

T: Europa e América, dois, só.

E: E sempre com a mesma banda? Digo, foi assim tão longe com os Asspera ou na Europa esteve com outros músicos?

T: Não, na Europa eram outros músicos e todos são autônomos, desde o começo da minha carreira solo. Não tenho uma banda, tenho músicos, alguns trabalham comigo já faz anos e tem outros artistas com quem trabalham também, então tenho que coordenar minha agenda, meus horários, com muita antecedência.

E: E imagino que a escolha desses músicos deve ser complicada.

T: Bom, é, mas... Eu tenho tido muita sorte com os músicos. Gente muito boa, com quem trabalho hoje. Depois da saída da minha ex-banda, foi tão tremendamente horrível, mal, me sentia tão mal que não tinha confiança nem em mim, nem sabia o que ia acontecer no meu futuro, e tinha que encontrar gente com quem trabalhar e graças a deus encontrei boas pessoas.

E: Quando diz da saída de sua última banda, se refere ao Nightwish?

T: Sim, ao Nightwish.

E: Já passaram não sei quantos anos mas-

T: Quase dez anos.

E: Mas o que foi de tão traumático? Falta de companheirismo?

T: Tudo foi ruim. Me mandaram uma carta, depois de... Trabalhei com eles quase nove anos. Me deram uma carta depois do último show.

E: Uma carta de demissão?

T: Sim. "Obrigada por tudo, mas tchau". Na manhã seguinte, quando li - próxima manhã porque tínhamos terminado uma tour mundial como a que estou terminando agora, uma tour muito comprida e grande, porque tínhamos tocado em várias arenas, era uma tour enorme, e eu queria festejar com a minha família, com todos os amigos, e não abri a carta. Não queria abrir, fiquei tipo "que merda é essa? Por que me deram isso? Ok, tchau, nos vemos pela noite, festejaremos todos juntos". Eles foram embora. De manhã eu abri a carta, e ao mesmo tempo vi que a carta estava na internet para todos que quisessem ler.

E: Colocaram na internet antes que você pudesse ter lido??

T: Sim, todos. E me disseram... Não quero comentar, mas me disseram muita merda.

E: Claro. Quer dizer, eu não sei, mas em geral quando se começa a trabalhar com bandas muito jovem há também um relação pessoal, como uma amizade, não? E brigas. E é uma fraude muito grave, o que nos conta.

T: Sim, mas... Ah, já passou. Já foram dez anos, e eu estou muito melhor hoje em dia, graças a deus que acabou (risos).

E: Você está cantando bem melhor!

T: Sim!! Obrigada!

E: Mas seria bom que de tudo isso soubesse a cantora atual do Nightwish, não? Para estar preparada.

T: Ela sabe.

E: Sabe?

T: Sabe. Já mandei uma mensagem.

E: Bom, deixemos o mal para trás e vamos falar de coisas boas. Esse sábado vai fechar a tour em Buenos Aires. Quando vimos as imagens promocionais pensamos "Tarja e Asspera é algo como a bela e a fera", não?

T: Do jeito que eu gosto! (risos).

E: E sabemos que ambos são bons músicos, mas juntos, vai ser bem diferente...

T: Não vai parecer nada com o que estamos escutando agora! (risos) [o Ave Maria en Plein Air estava tocando no fundo da entrevista].

E: Sim, esse é outro perfil, claro. E suponho vocês vão estar juntos, que já se conhecem...

T: Já faz muitos anos, somos amigos... com os músicos do Asspera, já trabalho com eles faz tempo. E quase todos gravaram para o meu novo álbum, todos os que saíram comigo nesta tour gravaram para o novo álbum. Há outros músicos também, mas sim, os conheço e nos divertimos muito. Sou Sussana Asspera agora, ok?

E: Ah, você tem uma personagem Asspera também!

T: sim! Sussana Asspera!

E: E vai usar máscara?

T: sim, tudo!

E: Ah, esse era outra dúvida, o concerto vai ter o seu repertório ou vai ter repertório com a temática Asspera também?

T: Vamos ter dois shows. O do Asspera primeiro, depois o meu, e estamos preparando surpresas nos dois concertos.

E: Isso é dizer que obviamente os Asspera tocam com você, e você também vai aparecer no show deles?

T: Também!

E: Vai ser impagável (risos). Te explicaram o significado de todas as músicas? Conhece o espanhol completo?

T: Não! (risos). Infelizmente não, mas tive que aprender umas coisas. Loucuras.

E: Coisas que não sabia dizer em outra língua, né?

T: É. Se bem que as pessoas me dizem por aqui "ai, você já fala como alguém de Buenos Aires, não tem que falar esse espanhol! Você é uma mulher finlandesa, por que fala assim?".

E: (Risos). De qualquer modo, são dois shows então. Foi toda a tour assim?

T: Não, só esse caso mesmo, é uma festa total, minha tour mundial termina ali e queremos festejar muito. É uma party!

E: Muito bem. E depois o quê? Digo, termina uma tour mundial e vai terminar um cd, certo?

T: Sim, estou na produção, agora estamos mesclando meu novo álbum, que vai sair ano que vem, por volta de Agosto ou Setembro. Mas ficarei duas semanas em casa, em Buenos Aires, e daí tenho outra tour na Europa, minha tour de Natal.

E: Ah, sim, que tem a ver com esta outra produção, certo? o Ave Maria.

T: É.

E: Nos explique um pouco sobre esse projeto, porque aqui há o nome de vários outros compositores, são diversos ave marias...

T: São vários. Tem um de Piazzola, também. Era o mais difícil de cantar.

E: Então você cantou 12 Ave Marias diferentes?

T: Sim, e há uma minha também. A última do disco. Gravamos na Igreja na Finlândia, muito linda, do arquiteto Alvar Aalto, que é muito conhecido. Nessa Igreja, tudo é dele, até o Órgão é desenho dele. É um disco bem sério, de música de Câmara, e adorei, é meu primeiro disco de música clássica puramente.

E: E dá pra conseguir o disco na Argentina?

T: Sim, sim, mundialmente dá pra encontrar.

E: E isso dá pra considerar como música Sacra, sim?

T: Sim, sim.

E: Vou dizer os nomes de todas porque certamente há gente que conheça...

T: Sim. Das mais conhecidas, há duas. As pessoas no geral não conhecem muitas versões de Ave Marias, só uma ou duas, mas há quase quatro mil!

E: E você tem sentimentos religiosos? É uma pessoa de fé?

T: Hm, não. Espiritual, é mais...

E: Tem que se conectar com esse repertório de algum modo...

T: Sim, mas já faz anos que... Minha voz soa melhor em música de Câmara, porque foi o que estudei por muitos anos. Não estudei ópera, estudei isso que estão escutando. É isso que me fascina, tenho tour assim todos os anos, em Igrejas e teatros.

E: Então sua conexão não é uma questão de fé, mas mais musical?

T: Sim.

E: o outro disco que temos aqui é o Luna Park Ride, que é de uma apresentação de Tarja no Luna Park. Isso é de quando?

T: 2011.

E: E pelo que eu estou vendo aqui tem uns Asspera aqui também...

T: Sim, um deles, Julián.

E: E os demais aqui?

T: Doug Wimbish, no baixo...

E: Doug Wimbish, claro!

T: Do Living Colour. Mike Terrana na bateria, há alemães... Nos teclados o Christian, do lado de Mike, e um finlandês tocando o Cello, Max.

E: Várias nacionalidades. E saiu faz pouco tempo esse disco também?

T: É, um ano, por aí.

E: Muito bonito o lançamento também. Temos Tarja com uma camiseta da Argentina em uma das fotos.

T: Os fãs que me fizeram isso. Os fãs filmaram o concerto, e todas as fotos que veem são de fãs.

E: Muito bom. As pessoas te amam aqui, Tarja, não sei se se dá conta, mas desde que anunciamos sua visita hoje o twitter está lotado de gente esperando. Tem consciência disso?

T: é incrível o amor que recebo da Argentina. A paixão que tem por meu trabalho, e por mim como pessoa, e como artista, é incrível.

E: Além das entradas, estão pedindo que levem algum alimento não perecível ao Malvinas nesse sábado, certo?

T: Sim.

E: Isso tudo é para a ajuda aborígene, a ideia é dar uma ajuda a povos originais do país, creio que mais precisamente ao povo do Chaco.

T: Uhum.

E: E vocês sabem que a Tarja tem um marido Argentino que fez a crueldade de transforma-la em fã do San Lorenzo, né? Desnecessário.

T: (risos) ontem eu ganhei um minion do San Lorenzo! Estive provocando meu guitarrista com isso, porque ele é Boca Juniors, e ai, ai, ai...

E: Você vai ao estádio ás vezes? Continua indo?

T: Tenho saudades de ir, porque faz muito tempo que não estou por aqui, mas gostaria de ir. Já levei minha filha quando ela tinha um mês! (risos) pobrezinha! Mas em geral estou indo quando posso.

E: Quantos anos tem sua filha?

T: Agora tem três aninhos.

E: Três anos. Tem uma só?

T: Uma só! Uma tour mundial, já...

E: Era o que eu estava pensando, três anos de tour, ela praticamente viveu isso tudo...

T: E os estúdios, as gravações... Me viu em tudo, então conhece minha arte, minha música, meu trabalho em geral. E ela entendeu a vida que tem, não conhece outra, é a vida que conhece, e é uma menina muito aberta. É inteligente, fala com três idiomas - começa a falar, ok? Não fala bem nada ainda, mas com três idiomas te entende completamente e te responde.

E: Espanhol, inglês e finlandês?

T: é. Fala mais finlandês. É como seu idioma materno.

E: E já se dá bem com música, admito?

T: Com bateria! Vocês não acreditam como minha filha toca a bateria! (risos) É lindo, mas ela toca com força! O baterista do Asspera sempre quer ter ela nos braços e está ensinando como tocar, e me disse "wow"! Filmamos várias vezes, porque toca muito bem!

E: Não deve ser fácil, por ser tão pequena! E requere uma coordenação particular...

T: Sim!, E é uma criança, mas... Força!

E: Vai ser grande!

T: (Risos) não sei o que vai sair.

E: Puxou a mãe.

T: Não sei o que vai acontecer! (risos).

E: Bom, vamos encerrando por aqui...

T: Queria dizer que ano que vem estamos preparando uma surpresa para Buenos Aires, e vocês serão os primeiros a saber!

E: Escutaram, todo mundo? Nós vamos ser os primeiros a saber, ok? Aqui, nós dois, registrem isso, produção!

T: (risos).

E: E quando se refere a "nós temos...", quer dizer você e mais quem?

T: Eu e... Não posso falar muito! Mas vai ser algo grande.

E: Ok, ok, aguardaremos. Divirta-se muito nesse sábado, Tarja!

T: Muito obrigado!

E: E cuidado com as feras!

T: Sim! Mas tem que vir, todos, vai ser uma festa muito grande.