Meninas apressadas
Na família de Tarja Turunen há muita arrumação de malas, pouca rotina e uma mãe muito forte. "A melhor coisa é ver a alegria kareliana de viver na Naomi."
Duas malas pequenas que estão sempre com elas. As roupas favoritas de Naomi, vestidos, camisetas e leggings, são colocadas em uma das malas. A outra mala é só para bichinhos de pelúcia. As malas fecham, click. Pronta!
É hora de partir - para Tóquio ou Toronto, para o Caribe ou Kitee, por uma noite ou duas semanas, que Naomi, que fará 4 anos este ano, não se lembra. Ela só sabe que ela, mamãe a papai estão indo pro aeroporto de novo. Quando eles chegam no destino, há sempre uma cama nova, uma novo clima e um prato novo de comida. A vida de Naomi não é nada parecida com a vida das outras crianças de 3 anos. Ela já viajou ao redor do mundo algumas vezes e assistiu vídeos do Moomin em backstages de casas de shows e arenas, por causa de sua mamãe.
A mãe da Naomi tem mais de um milhão de seguidores no facebook e shows esgotados no mundo todo. Para alguns ela é uma deusa completa. É por isso que Naomi não se assusta mais quando vê fãs gritando em volta de sua mãe no lobby do hotel.
Quando isto acontece, Naomi apenas coloca as mãos no ouvido e pergunta "Eles tem que gritar tão alto?" "Mãe, vem pro escorregador!"
É difícil dizer não para os olhos castanhos-chocolate. Tarja Turunen olha para a floresta colorida dentro do playground, o escorregador tem uma queda mais íngreme.
- Talvez a calça jeans da mamãe rasgue.
Naomi olha para sua mãe pedindo, mas sem dizer nada. Ok, diz Tarja.
No topo do escorregador, Naomi senta na frente de Tarja. Ela abraça Naomi. É possível sentir a velocidade, as duas gritam.
Depois, Naomi quer brincar nos blocos gigantes. Ela lembra exatamente onde eles estão, já que o HopLop em Turku já é familiar durante a primavera.
Tarja, e seu marido argentino, Marcelo Cabuli e Naomi finalmente passaram mais tempo que o normal em um lugar só. A família não tem mais uma casa na Finlândia, mas o trabalho de Tarja como treinadora no TVOF tem os mantido em Turku.
No playground fechado, Naomi pode passar horas brincando quando a mãe está trabalhando e o pai cuida dos negócios no laptop ao mesmo tempo que consegue observar Naomi.
Não importa qual é o país do playground, Naomi vai até as crianças e faz amizades. Começa a brincar de esconde-esconde ou a montar coisas juntos. Desta vez também não há exceção. Tarja a observa de longe e admira.
- As crianças avançam na vida com tanta emoção e sinceridade, com intuição. A Naomi faz amigos num piscar de olhos, sem nenhum ensaio. Eu sou tão reservada, parte pela minha posição, que ver o comportamento dela é maravilhoso.
Naomi nasceu em um hospital em Buenos Aires, na Argentina, um mês antes do esperado. Ela ganhou força numa incubadora por alguns dias. Depois disso, a família passou alguns meses em casa, se acostumando com a nova vida.
Mas depois disso, eles não pararam mais. Naomi tinha 4 meses quando voou para a Finlândia pela primeira vez. Tarja continuou a trabalhar, shows e turnês, então Marcelo e Naomi foram com ela.
- Temos tido muita sorte. Às vezes penso em como poderia ser estar em turnê pelos últimos 3 anos e meio se a nossa filha fosse diferente? Se a Naomi só quisesse dormir na cama dela ou exigisse comidas conhecidas em alguma hora.
Este nunca foi o caso. Pelo contrário - nesta família não há muita rotina.
- Nós escovamos os dentes todas as manhãs e todas as noites, mas noite para Naomi pode ser meia-noite, Tarja diz rindo.
Ela sabe que o estilo de vida boêmio é abominável para alguns. Mas tudo isso funciona para eles e é isso que importa.
- Por quê deveríamos nos estressar em saber se nossa filha vai dormir às 9? Nós não precisamos de horários assim. Quando tiver que ser assim, nós vamos nos ajustar. Será só uma pequena mudança comparada à loucura que Naomi se acostumou.
Os melhores momentos são de manhã. Normalmente a tarde da família se estende até a noite, então eles acordam quando tem vontade, usualmente depois das 10. Se eles não precisam acordar cedo, as manhãs nunca tem correria e os três ficam na cama.
- Ficar deitada na cama ao lado de Naomi é a melhor coisa pra mim e Marcelo.
Não só pelo trabalho da Tarja, mas os anos na Argentina ajustaram o ritmo diário deles. Em Buenos Aires, ninguém janta antes das 9. Quando Tarja chega na Finlândia com sua família, os amigos a lembram de não levar Naomi aos restaurantes muito tarde para evitar olhares tortos.
As instruções que os amigos finlandeses de Tarja receberam para a nutrição durante a gestação e em como tomar conta de um bebê pareceram estranhas para ela.
- Na Argentina você pode se adaptar às coisas mas a Finlândia as pessoas levam as autoridades mais a sério. Isso é um pouco engraçado.
Às vezes uma mãe de primeira viagem ainda precisa de conselhos. A insegurança de Tarja têm diminuído pelo fato de Marcelo já ter criado dois filhos que são homens agora. A experiência dele criou segurança para ela quando Naomi ainda era bebê.
Tarja sempre quis receber conselhos de uma pessoa em especial, sua própria mãe. Mas a mãe dela, Marjatta, faleceu em 2003 em decorrência de um câncer. Por muito tempo Tarja ainda tinha o telefone dela porque era muito difícil apagar.
- Depois que Naomi nasceu, eu entendi de um novo modo como é uma perda grande, não tê-la aqui. Tem um vazio muito grande dentro de mim. Tantas vezes eu disse pro Marcelo que queria ligar pra minha mãe, que queria que ela estivesse aqui.
De alguma forma ela está. A foto da vovó fica em uma prateleira na casa em Buenos Aires e Naomi frequentemente acende uma vela à frente da foto. Às vezes quando Tarja começa a preparar as melhores tortas karelianas da Argentina, ela diz a Naomi como a vovó usava a mesma receita.
- Eu fico muito feliz quando vejo o reflexo de minha mãe na minha filha. Naomi tem a mesma leveza dela, a alegria kareliana de viver e a mesma risada explosiva.
- Minha mãe ainda é como um ídolo pra mim. Eu queria poder encontrar o lado positivo de tudo e ser grata por todos os momentos, como ela podia.
Tarja se vê como uma mãe durona. Às vezes o trabalho a estressa tanto que ela pode explodir com Naomi ou dizer "não" de uma forma meio tensa.
- Eu tenho vergonha quando não consigo pensar duas vezes e entender que uma criança é apenas uma criança. Felizmente, Marcelo é o oposto de mim, calmo e relaxado. Ele sempre equilibra a situação nos meus momentos difíceis e aparece na hora certa para dizer "ok, deixe passar". Paz na terra e no céu.
Durante os últimos anos, o estresse e o sentimento de falta de rotina têm aumentado. A família viaja por 8 meses do ano e agora está começando a pesar. Tarja diz que às vezes a sobrecarga faz o seu cabelo cair.
- Eu notei que não estou mais nos meus vinte anos. Naquela época eu podia fazer qualquer coisa, agora eu não tenho energia nem para ir à academia. Viajar têm começado a desgastar tanto a mim quanto ao Marcelo. A Naomi deve ser a única de nós que lida melhor com as viagens constantes.
Algo precisava mudar, eles tiveram que entender. Naomi, que fala finlandês, espanhol e inglês, começará na escola aos 4 anos, que é a idade padrão para os países que tem o idioma espanhol. A vida na estrada não pode continuar normalmente.
- Queremos que Naomi tenha uma experiência normal de ir pra escola e a estabilidade de ter amigos de classe. Que ela possa convidar os amigos para brincar em casa e ir à festas de aniversário.
Por isso a família está procurando por uma casa no sul da Espanha. Algum lugar que eles possam viver vários anos.
Quando o novo lugar for encontrado e Naomi começar ir à escola, Marcelo ficará em casa. Tarja vai continuar viajando mas os vôos dentro da Europa duram apenas algumas horas.
- Eu não ouso pensar como seria se eu tivesse que abandonar a música. Sem a música eu não seria feliz e assim a família não seria feliz também.
Tarja confia completamente que Marcelo e Naomi ficarão bem em casa sozinhos. Provavelmente ela é que vai sentir uma saudade terrível nas filas do aeroporto.
Tarja está mais ansiosa em passar tempo com sua família em casa e encher a lava-louças com a Naomi, que está bem animada com os serviços domésticos.
- Eu adoro passar aspirador de pó. Eu não tenho que pensar em nada mais do que a poeira do chão, é tão terapêutico! Quando não se tem tempo para a vida num cotidiano, até aspirar o chão se torna um luxo.
Nos finais de semana que Tarja não conseguir voltar pra casa, Naomi e Marcelo irão encontrá-la em algum lugar do mundo. Então eles estarão juntos em ônibus de turnê ou backstage novamente.
A Naomi ainda tem aquelas duas malinhas, mas uma sempre volta vazia quando eles vão pra casa: os bichinhos de pelúcia sempre são doados para as crianças de hospitais locais.
No próximo show, Tarja irá receber mais bichinhos. Naomi curte eles por algum tempo e depois os empacota para crianças que precisam mais do que ela. A coisa mais importante para ela é poder abraçar a mamãe e o papai. Não importa o continente ou fuso-horário.
Pedaços da vida
Verão: "Finlândia e sorvete de alcaçuz."
Bebê: "Milagre."
Preto: "Cor favorita,a única cor no meu guarda-roupas."
Aeroporto: "Como uma segunda casa, mas eu não gosto."
Loja de brinquedos: "As crianças nunca conseguem ter tudo o que querem."
Torta kareliana: "Com manteiga! Não há nada melhor."