10 anos depois do Nightwish, Tarja Turunen está mais forte que nunca!

Rotulada como “diva”, ela continua provando que seus críticos estão errados.

“A coisa toda foi um choque, porque veio do nada – eu não esperava algo do tipo, muito menos meu esposo”, diz Tarja Turunen, conversando conosco, por telefone, de Berlin. Ela relembra o momento, há uma década, em que foi publicamente demitida por um dos gigantes do metal sinfônico, Nightwish. “A terra estava chacoalhando, tudo estava chacoalhando, e nós choramos por duas semanas.”

São 9 da manhã na Alemanha, e a cantora finlandesa está no primeiro dia da campanha promocional dos seus dois novos álbuns solo, The Shadow Self e The Brightest Void, este que é um tipo de prévia daquele. 
Ela chegou na Europa ontem à tarde, após voar por 13 horas do Caribe, onde ela, seu esposo-empresário e a filha do casal, de três anos, Naomi, estão vivendo. A vida, para a ex-vocalista do Nightwish, é bastante diferente do que já foi um dia. Atualmente, ela é a mais bem-sucedida cantora do seu país natal.

“Nightwish sempre será uma grande parte da minha vida. Isso foi muito importante e me deu a chance de ser uma artista solo, de ter uma carreira por conta própria, visto que eu nunca escrevi nenhuma música com a banda.”

Nascida em um pequeno povoado próximo a Kitee, Finlândia, Tarja começou a aprender piano aos 6 anos, com a mãe do líder do Nightwish, Tuomas Holopainen, antes de estudar música na renomada academia Sibelius e juntar-se ao Nightwish, com 19 anos. 
Sua chocante demissão por carta, 9 anos mais tarde, fez com que ela começasse uma carreira solo, unindo, de forma bem-sucedida, clássico e metal. Desde então, ela tem cantado por todo o mundo e em lugares de prestígio, como no Palácio Presidencial Finlandês; e com a Orquestra Romena. Ela foi a técnica vencedora, por duas edições, da edição finlandesa do popular The Voice, ao lado do ex-vocalista do Hanoi Rock, Michael Monroe.
Recentemente, Tarja tornou-se a primeira vocalista premiada com o próprio emoji pelo Ministério Finlandês de Negócios Estrangeiros, tomando seu lugar ao lado de ícones como o ex-presidente e ganhador do Nobel da Paz, Martti Ahtisaari e o jogador de futebol Jari Litmanen.

Em 2016, Tarja é uma confiante e glamorosa soprano, muito diferente daquela garotinha com grandes bochechas que cantou no primeiro álbum do Nightwish, Angels Fall First. 
Trazer o Nightwish à tona depois de tantos anos pode parecer supérfluo, mas sem a banda que conquistou discos de platina ela, talvez, não teria chegado onde está. Apesar da saída turbulenta, Tarja permaneceu diplomática e demonstrou compostura na mídia, mesmo que a notícia tenha chegado ao Parlamento Finlandês, com o então primeiro ministro Matti Vanhanen sendo questionado sobre o ocorrido. 
Tarja postou, online, uma sincera resposta e manteve a cabeça baixa até que as nuvens escuras tivessem passado. Ela quase não falou a respeito do acontecido nos meses seguintes ou revelou como foi passar por uma situação tão chocante.

Quando a questionamos a respeito daquele período da sua vida, a voz de Tarja, geralmente animada, torna-se o contrário. Fica claro que as memórias daquele dia são vívidas.

“Eu tinha que sair da Finlândia, então peguei um vôo para a Argentina (país de origem do seu esposo) no dia seguinte, mesmo lá, fui cercada pela mídia. Eu estava sentada no avião chorando, e todas as TV’s estavam sendo desligadas. As notícias diziam “Tarja foi demitida do Nightwish!”. Isso me perseguiu todos os dias das semanas seguintes. As câmeras estavam na minha porta, em Buenos Aires. Eu não podia nem sair do meu apartamento. Não foi fácil.” 

Pode Tarja pensar em algo que tenha provocado sua demissão?

"Bem... pode ter sido qualquer coisa, já que nada estava bem na banda já fazia alguns anos." Explica, escolhendo cuidadosamente as palavras. "A relação entre os membros da banda já não andava bem já muitos, muitos anos. É tudo que posso dizer e tudo que quero dizer. O Nightwish deixou de existir depois de seu terceiro álbum [Wishmaster, em 2000]".

É algo difícil de pensar, dado o enorme sucesso de 2002 com o Century Child e em 2004 com o Once, assim como com os álbuns posteriores a sua saída. Mas o período a que se refere foi de grande agitação interna. O baixista Sami Vänska foi demitido e substituido pelo "viking" Marco Hietala. Em 2003, Tarja perdeu sua mãe para o câncer e teve que enfrentar essa dor. Neste mesmo ano, se casou com seu empresário, Marcelo Cabuli, que seria a quem o Nightwish culparia depois pela "mudança de comportamento" de Tarja - uma acusação que ambos já negaram veementemente.

"Tinha que terminar da maneira que terminou para que eu pudesse hoje ser mais feliz do que nunca e fazer minha própria música para meu próprio público." continua, filosoficamente. "Foi difícil superar, mas o que não te mata te deixa mais forte, acredito firmemente nisso".

Ano passado, Tuomas Holopainen disse à Metal Hammer que crê ser "altamente improvável" que fale com Tarja novamente em algum momento, mas a soprano não cortou laços totalmente com a banda. Em 2013, fez um dueto com Floor Jansen do cover que o Nightwish fez do clássico de Gary Moore, Over the Hills and Far Away, no MFVF da Bélgica. Ainda que a cantora holandesa seja hoje vocalista permanente da banda, neste momento só estava como substituta de quem havia substituído Tarja, Anette Olzon. Tarja inclusive apresentou Floor como "minha amiga de muitos amos", anulando qualquer indício de rivalidade entre elas.

"Pedi que ela cantasse comigo", diz Tarja de maneira casual. "Eu sabia que ela estava no festival com sua banda de então, o Revamp, e nos divertimos. Sempre mantive contato com Floor, na verdade. Nós concordamos por e-mail alguns dias antes".

"Ela é o único membro do Nightwish com quem você tem contato?"

Tarja ri. "Poderia dizer que sim! Sim, sem dúvida, o único membro!" Uma risada alegre põe fim as palavras da soprano, ainda que tome cuidado com suas respostas. Ela admite que chora facilmente, mas não se mostra sensível demais, algo que poderíamos esperar de alguém que se mostra tão passional nos palcos. De fato, parece ter controle total de seu destino, até menciona frases que parecem sair de livros de autoajuda. Foi necessária coragem para seguir adiante depois de ter sido humilhada publicamente e também para enfrentar a crítica e enfrentar novos desafios. Coincidentemente, o emoji de Tarja aparece ao lado da palavra finlandesa "sisu", que poderia ser traduzida como "ser perseverante".

"Eu tive que ser positiva. Não tinha outra opção." Diz com seriedade. "Perder minha mãe foi algo muito difícil. Ainda fico sensível quando falo dela. Éramos muito próximas e ela era uma das melhores pessoas do mundo. Mas a vida é dura, e temos que fazer o melhor que podemos com o tempo que tempos aqui, senão estamos desperdiçando tempo." Esse controle se entende para todas as áreas de sua vida, e ela confessa que é perfeccionista em casa. Nunca ninguém poderá encontrar uma foto dela chegando em casa bêbada as 4 da manhã em um taxi, ou com seu delineador escorrido e seu vestido da noite anterior ainda pode debaixo das roupas. Ela foge dos excessos do rock and roll, cuida de si mesma com uma dieta sem glúten e exercício físico e admite que ama fazer as tarefas do lar, que ela mesma descreve como terapêuticas.

Onde a cantora mais pode brilhar são seus concertos mais pesados. Sua carreira influenciou dramaticamente o som do metal gótico e sinfônico liderado por mulheres. Tornou-se uma pioneira no estilo, quase tanto como os diferentes artistas que ela inclui em sua lista de favoritos: Peter Gabriel, Queen, In Flames, Alice in Chains. Essa diversidade também pode ser apreciada na escolha de convidados que fez para o The Shadow Self e para o The Brightest Void, que incluem Chad Smit (Red Hot Chili Peppers/ Chickenfoot), Alissa White-Gluz do Arch Enemy, e seu companheiro coach do TVOF, Michael Monroe.

Tarja é uma diva no sentido tradicional da palavra: uma que está confortável cantando canções tradicionais de natal e covers de Shirley Bassey enquanto oferece concertos de rock se apresentando num vestido com imitação de pele desenhado especialmente para ela. Não lhe traz medo se envolver com coisas que pareçam cafonas ou fora de moda; somar pontos no cenário do metal não é algo que lhe passa pela cabeça.

"Adoro opostos", ela diz, e quase podemos escutar o sorriso através do telefone. "O rock me dá a liberdade e a música clássica me oferece a parte da crítica. Quando estou em um palco de rock, não preciso ser perfeita. Uso minhas habilidades como cantora clássica, mas esqueço da parte técnica em si. Me dedico a dançar e me divertir com minha banda. Mas quando estou frente à um público clássico, com uma orquestra, tenho que ser perfeita. Sempre fico nervosa."

Pergunte se atualmente ela é uma diva que só sabe atuar como uma prima donna que exige lírios em seus camarins, e ela responderá com uma enorme gargalhada "Ah meu deus, de forma alguma!"

Tarja poderá ter que lidar com o medo de palco ocasional, mas agora disfruta de uma vida que nunca teve com o Nightwish. Quase 11 anos depois de sua demissão, ela está fazendo as coisas em seus próprios termos e diz que não se arrepende de nada.

"Tudo é diferente agora. Tenho uma carreira, um público e um nome como artista", ela diz. "Sou livre, e é maravilhoso poder escolher o que quero fazer, como quero fazer e com quem quero trabalhar. Minha liberdade é algo de que jamais abrirei mão."