Tarja Turunen, que achou um lar em outro país: “os últimos anos tem sido difíceis para a Finlândia.”

 

Um outro país, uma nova realidade de vida e dois novos álbuns. A vida de Tarja Turunen não diminui o ritmo, mesmo com uma década de carreira solo.

Um tempo para boas mudanças. Pode-se descrever o verão de Tarja Turunen com essas palavras. Em maio, ela fez as malas e se mudou com sua família da Argentina para a Espanha. No outono, sua filha irá para a pré-escola. No início de junho, ela lançou um álbum e, como se não fosse suficiente, lançará outro em agosto.

“A mesma loucura que minha vida normalmente é”, ela diz sorrindo na cobertura de um hotel em Camden.

Há uma agenda agitada também. Turunen e sua banda tem um show em Londres e um dia será dedicado a entrevistas à mídia global, a partir das 9 da manhã. Reviravoltas e correria não tem se ausentado da vida dela.

Faz uma década que Tarja iniciou sua carreira solo, após a saída do Nightwish. Com essa banda, Tarja é inicialmente lembrada por um bom motivo: ela esteve envolvida na criação de um novo gênero musical, symphonic metal, em que seu canto clássico conheceu uma banda de metal. Depois disso, ela deparou-se com um recomeço que chama de difícil.

Em 10 anos, ela gravou vários álbuns: rock, clássico, músicas natalinas e concertos. Depois do internacionalmente bem-sucedido concerto finlandês, em que das salas, a banda foi para arenas e, posteriormente, para os clubes, ainda há lugares para ir, especialmente na Europa continental e América do Sul.

“Estou absolutamente feliz e orgulhosa da atual situação. Já não sinto que devo provar nada a ninguém. Tenho minha própria vida e minhas próprias asas. Claro, tenho orgulho e sou grata ao meu tempo no Nightwish, mas hoje estou num lugar totalmente diferente daquela época.”

“Meus fãs dizem que sou viciada em trabalho. Há tantas coisas que são de minha responsabilidade”, ela comenta sobre sua vida como artista solo. “Sempre há algum projeto sendo trabalhado. Além disso, também tenho uma garotinha por perto.”

“Felizmente, há pessoas por perto, os membros da banda, o pessoal que viaja comigo e, claro, meu esposo, em quem posso confiar e que mantem essa louca associação unida. Isso me dá liberdade para ser artista.”

O recente lançamento do The Brightest Void é uma prévia do The Shadow Self, que será lançado em agosto.

A decisão foi feita porque Tarja escreveu, com os membros da sua banda e compositores convidados, muitas músicas que não se encaixariam no álbum.

“As músicas são muito pessoais e há muita emoção nelas. Por isso, não quis deixa-las de fora. Ao mesmo tempo, isso me deu a oportunidade de lançar diferentes tipos de músicas. Estava esperando o lugar certo. Mais trilhas sonoras de filmes. Tenho que chocar quem me ouve um pouco.”

A combinação entre os álbuns, de acordo com Turunen, é oposta, a jornada da luz para a escuridão, como os nomes dizem. The Shadow Self foi tirado de uma entrevista da cantora Annie Lenox.

“Nos últimos anos, tenho pensado a respeito da escuridão ou profundidade que me faz escrever. Quando me sento em frente a um piano, algo claro, misterioso e místico vem à tona. O que causa isso?”

“Então, li uma entrevista com Annie Lenox em que ela diz que “The Shadow Self” é nosso poder criativo. A escuridão em nós que nos faz escrever, faz a arte ser impactante. Um modo de transmitir tudo que sentimos, bom ou ruim, para a arte. Essa foi a resposta para meu questionamento.”

Os lançamentos dos álbuns e o tumulto em decorrência disso significa grandes mudanças para a família de Turunen. Eles estão vivendo em outro país. Nos últimos anos, Tarja morou, durante a maior parte do tempo, em Buenos Aires, Argentina, onde ela se tornou quase tão conhecida quanto na Finlândia.

“É algo realmente incrível, mas nunca me senti uma estrangeira em Buenos Aires, nem as pessoas me viam assim. Especialmente quando o idioma começou a ficar mais compreensível. A cultura se mostrou de forma bastante diferente”

“A cultura de Buenos Aires me deu espaço para respirar. Talvez a vida na Argentina tenha me dado liberdade para ser mais ousada!”, ela ri.

Em maio, a família mudou-se para Marbella, Espanha. O novo lar foi escolhido em parte pelo idioma em comum, em parte pelo clima e conexões.

“Sinto falta da luz, não tanto do calor. Não gosto de banho de sol, mas a luz afeta bastante como me sinto”, ela diz.


“Queríamos vir para a Europa porque as distâncias são menores aqui. Minha filha vai para a pré-escola no outono, mesmo sem ter completado 4 anos. É um sentimento horrível! Uma grande mudança nas nossas vidas, porque o pai vai ficar em casa com ela. Na Argentina, isso seria mais difícil. Minha família nunca me veria.”

Retornar à Finlândia, neste momento, é como retornar ao estrangeiro, mesmo que sua filha e esposo gostem de estar lá. “Talvez seja eu quem relute em voltar”, ela diz. Isso não significa que seu país natal foi esquecido. Família e trabalho a levam de volta e Turunen começa as manhãs lendo as notícias dos jornais online finlandeses. A conversa sobre o abismo financeiro e imigração pareceriam peculiares a um estrangeiro.

“Está acontecendo muita coisa na Finlândia. Os últimos anos tem sido difíceis. Numa escala maior, com certeza, isso tem acontecido na Argentina. Está uma loucura. O governo de lá mudou há pouco tempo e o país está no fundo do poço. Há pessoas trabalhando, lutando pela vida diariamente ou na rua, de verdade. A situação política da Argentina é, em parte, um motivo para nossa mudança.”

“As pessoas na Finlândia não estão acostumadas com as coisas não indo bem.” Ela compara a situação dos dois países. “Sempre tivemos uma vida segura e não estamos numa situação tão ruim, mas ultimamente, isso se tornou normal para muitas pessoas.”