A maior estrela do rock finlandês, Tarja Turunen, se apresentará no festival polonês Woodstock 2016

A maior estrela da cena do rock, a soprano conhecida como Tarja, tornou-se um dos rostos finlandeses mais conhecidos no mundo da música.

O caminho à frente de Tarja Soile Susanna Turunen Cabuli certamente não era óbvio com sua humilde origem. Ela nasceu em 17 de agosto de 1977, na vila de Puhos, Finlândia, perto de Kitee; a irmã do meio entre dois irmãos. Uma garota Kareliana de olhos verdes, nascida numa vila de quinhentos habitantes.

A música marcou sua vida desde cedo. Seus pais se lembrariam com humor que Tarja aprendeu a cantar antes de começar a andar, e gostavam de recontar suas destemidas façanhas para subir à mesa nas festas em família, para se apresentar as parentes...às vezes, com letras bastante inventivas. Era claro que drama e palco eram coisas que Tarja já entendia muito bem. Não levou muito tempo para que ela percebesse seu chamado, o que não era inesperado.

“Eu não tinha outras garotas para brincar até ir para a escola, porque não tínhamos vizinhos, então desde cedo fui bastante independente. Eu amava teatro e artes em geral e queria ser artista. Lembro que toda vez que alguém da nossa família ou amigos vinha nos visitar, eu estava performando peças com meus brinquedos atrás da grande TV que tínhamos na nossa sala de estar. Eu criava as histórias rapidamente. De qualquer forma, a música sempre prioridade para mim. Meus pais me apoiaram bastante e compraram meu primeiro piano quando eu tinha 6 anos; ainda o tenho.”

Encorajada desde cedo, Tarja começou seus estudos de música com 6 anos, e os continuou num instituo de música em sua cidade natal, até ingressar na Savonlinna, aos 15 anos, onde vivendo por conta própria e com uma dieta magra, frequentou a escola secundária sênior de música e arte. Lá, ela foi a primeira aluna aprovada em todas as provas de canto com notas máximas – as maiores da história da escola – uma conquista que arrancou lágrimas dela e dos seus professores.

Nightwish começou como um projeto informal, acústico, ao redor de uma fogueira. Música suave, ambiente, composta por dedilhados de guitarra. O bombástico e majestoso timbre de Tarja apagava os instrumentos, e logo a guitarra acústica foi substituída por uma elétrica. Posteriormente, bateria juntou-se ao mix. A primeira demo da banda foi suficiente para faze-la ganhar um contrato com Spinefarm records. Em 1997, eles lançaram seu primeiro álbum, “angels fall first”. A reação dos ouvintes e da mídia foi bastante positiva, e Nightwish logo estava fazendo seus primeiros shows ao vivo. Para Tarja, o mundo do metal era um território desconhecido, dominado por homens, em que ela era uma completa estranha. A soprano que conquistaria os corações de uma nação não sabia absolutamente nada sobre o mar em que estava mergulhando, mas mergulhou de qualquer jeito.

“Nunca pensei em cantar numa banda de metal. Meu sonho sempre foi ser cantora, mas meus estudos sempre foram voltados para música clássica, pensei que era meu caminho. De qualquer forma, sempre amei desafios e fui corajosa, então pensei: por que não tentar? Era encorajador ver a reação dos ouvintes do primeiro álbum do Nightwish e como as pessoas aceitaram o fato de que eu era uma cantora clássica treinada cantando metal melódico. Não era algo que acontecia sempre na época!”

A partir de então, Nightwish era uma ocupação séria – gradualmente, os estudos de tarja foram varridos para longe pelo sucesso da banda, e sua motivação para as atividades acadêmicas foram levadas junto. Apesar de sacrificar seus estudos, a jovem mostrou uma admirável determinação em arranjar tempo para outros compromissos. Naquele verão, ela cantou como parte do coro da Savonlinna no festival de ópera, trocando os riffs do Nightwish pelas melodias de Verdi e Wagner.

“Lembro que fui a cantora mais jovem do Opera Festival Choir, com 18 anos. Eu estava tão assustada por fazer parte do magnífico talento e som desse famoso coro. Fiquei encantada quando ouvi o coro masculino cantar sua parte na ópera de Wagner, Tannhäuser, pela primeira vez. Sentada, com lágrimas nos olhos, ouvi silenciosamente seu ensaio. Eu estava com tanto orgulho deles! Foi um verão maravilhoso e de uma experiência incrível pra mim, que estava disposta a aprender tudo sobre ópera.”

Parecia que o que Tarja realmente precisava aprender sobre ópera era como incorporá-la ao metal – uma tarefa nada fácil. O gênero “symphonic metal” ainda era pouco explorado, e Tarja se tornou uma figura inesperada, alguém que vinha da música clássica. Ela se viu de cara a um compromisso incerto enquanto lutava para balancear dois estilos contrastantes em sua voz, carreira e vida.

O lançamento do primeiro álbum foi seguido, em 1998, pelo primeiro álbum de sucesso do Nightwish, oceanborn, platina em vendas, que impulsionou a carreira da banda fora da Finlândia, levando-a à Alemanha, como suporte do trio alemão de metal-heads Rage.

Outra indicação da sua grande notoriedade: Tarja pode balancear a tour do oceanborn com um projeto secundário, em 1999, quando foi convidada a fazer uma apresentação solo com o balé de rock “evankeliumi”, na casa de ópera nacional finlandesa.

“Cantar no salão principal da casa nacional de ópera foi uma grande experiência marcante. Todos os participantes do projeto estavam nervosos antes da première, inclusive eu, porque não tivemos muitos ensaios e recebemos o que iríamos cantar poucos dias antes da primeira performance. Foi magnífico por parte da ópera nacional aprovar um balé moderno baseado em heavy metal no seu programa sazonal. Posso assegurar que esse tipo de coisa não acontece em todas as casas de ópera!”

O show foi dirigido pelo famoso coreógrafo Jorma Uotinen e escrito por Kärtsy Hatakka, da banda finlandesa Waltari. Certamente a produção foi singular (Tarja também usou uma fantasia única), que foi bem recebida pela audiência, com ingressos esgotados em todas as noites.

No começo de 2000, Nightwish foi finalista no festival Eurovision, com a música sleepwalker. Apesar de uma vitória esmagadora na votação do público que acompanhava pela TV, Nightwish ficou em segundo, para o alívio de Tarja.

"Preciso confessar que eu realmente odiava que o Nightwish estava participando do Eurovision. Eu fui contra a ideia desde o inicío. Eu estava me apresentando no "Evangelicum" quando eu recebi a ligação de que a nossa música estava indo para as finais na Finlãndia. Eu estava chorando, já que pensei que seria o maior erro da minha vida fazer parte disso. Eu não queria que as pessoas lembrassem de mim pelo Eurovision. No fim, eu fiz minha parte e cantei a música no evento que eventualmente acabou fazendo com que mais gente conhecesse o Nightwish. É uma música que eu nunca mais vou cantar ao vivo..."

Tarja, previsivelmente, achou tempo para incluir em sua agenda projetos paralelos a todas as tours. Ela fundou um novo projeto com o produtor alemão Torsten Stenzel e o guitarrista Argentino Walter Giardino, ambos os quais, como Tarja, vivem longe de seus países natais, dando nome a colaboração seu nome: Outlanders. A música que fizeram leva o mesmo nome, e tem suas palavras tiradas de trabalhos do escritor Paulo Coelho. Tarja apresentou a música no dia de Paulo Coelho, 26 de Novembro, em Helsinki, com a benção do próprio autor.

"Paulo tem sido uma das maiores inspirações em minha carreira. A música foi uma forma de dizer quanto ele signfica para mim."

Com o empurrão de Kalevi Kiviniemi, ela gravou um álbum clássico, "Ave Maria", uma coleção de peças em torno de um mesmo tema, composições antigas e atuais, famosas e pouco conhecidas, entre as quais a da própria Tarja, de Ave Marias. O álbum em si, com Kalevi no orgão, Marius Järvi no cello e Kirsi Kiviharju na harpa, aguarda lançamento.

"Esse é o meu primeiro lançamento puramente clássico. Foi desafiador escolher entre as centenas de Ave Marias as que combinavam com o álbum. Na verdade, há milhares em existência! Eu amo música de câmara e acho que minha voz combina bem"

Em 2013, fruto de longos meses de trabalho, foi lançado o terceiro álbum de estúdio de Tarja. Com a arte feita em uma dramática sessão de fotos na India e um processo de gravação que a levou ao redor do mundo, Tarja fez só uma promessa: o álbum surpreenderia. Agora, com dois álbuns de estúdio, Tarja se sentia segura para experimentar e quebrar algumas regras.

Se vê grande, animado, agressivo, cheio de felicidade, até desconfortante - Colours in the Dark foi, como o festival das cores que inspirou sua base, uma celebração: uma kaleidoscópica junção de elementos se juntando contra um plano pesado. Tarja abraçou o caótico com uma paleta de contrastes - ocres eletrônico e industrial, destaques teátricos e progressivos, sombreamentos de nu-metal e rock dos anos 80, e uma pitada do oriente - tudo costurado com o tom quente e rico do timbre de seus vocais. O resultado foi uma jornada através do espectro cromático. Sem uma âncora de um caminho estruturado, Tarja foi capaz de explorar águas mais profundas. "Colours in the Dark" foi o barco que a levou lá.

Em suas primeiras semanas, CITD conseguiu um vibrante #5 na Finlândia e russia e um #6 na Alemanha. A tour mundial se espalharia pelos próximos anos, mas não era a única coisa que Tarja tinha em mente para o futuro - como de costume, as mangas enormes de Tarja estavam cheias de surpresas.

Agora a história de Tarja continua no festival Woodstock Poland, onde ela apresentará músicas de seu próximo álbum de heavy/rock, a ser lançado no verão de 2016.