O estremecer das cordas das guitarras elétricas, o suor pingando nos pratos de uma bateria e cordas vocais de forças inimagináveis fazem do metal um som que atinge gostos extremos: é reverenciado ou odiado.
Contudo, as facetas do gênero também são representadas pelo doce soprano da finlandesa Tarja Turunen, ex-vocalista da banda Nightwish, que já gravou seis álbuns desde que assumiu de vez a carreira solo, em 2006. O sétimo disco, The Shadow Self, vai ser lançado em agosto, e os fãs já estão ansiosíssimos. Ao R7, Tarja já prometeu que o Brasil vai ser um dos palcos da turnê de divulgação do disco.
— Eu amo o Brasil. É incrível como mesmo sendo finlandesa, me sinto em casa sempre que chego ao País. O público brasileiro não mede esforços para que eu me sinta realmente amada. Com certeza o Brasil vai fazer parte da turnê de divulgação do The Shadow Self — ainda não sei detalhes sobre datas — mas garanto que vou voltar. Me sinto livre por aí, é lindo, tudo no Brasil é lindo.
Sempre deixando escapar um assovio lírico enquanto pensava no que dizer, a cantora, hoje com 38 anos, afirmou que a música a rejuvenesce — e que, a cada dia, se sente mais disposta. Dona de um dos timbres mais marcantes do metal, Tarja contou um pouco de sua rotina de cuidados com a voz:
— Ser cantora lírica exige uma série de cuidados: eu preciso praticar diariamente, preciso treinar, porque se não o fizer, perco a prática. É como um esporte ou um hobby. A gente pode ter talento, mas o talento é como uma pedra, que precisa ser lapidada para se tornar uma obra de arte — explicou, ao enfatizar a importância de seu treinador no aperfeiçoamento diário de sua voz.
Sobre o novo álbum, Tarja promete algumas mudanças no enredo das músicas, desta vez focadas principalmente nos dualismos da vida. O nome do disco surgiu após a musicista ter lido uma antiga entrevista da cantora Annie Lennox, na qual a artista falava exatamente sobre esse tipo de enredo: as sombras da alma.
— Foi lindo quando vi essa expressão, Shadow Self (Sombra própria, em tradução livre). É exatamente o que trago nas novas músicas, o dualismo entre o céu e o inferno, o yin yang, a sombra em meio à luz. Em tudo há dois lados, e isso definiu muitíssimo bem o que eu quis trazer.
Tarja, apesar de relembrar os bons momentos que viveu na Nightwish, não deu esperanças aos fãs da banda sobre um possível retorno. Ela afirmou que nunca esteve tão feliz como agora, na carreira solo, onde tem toda a liberdade para fazer o que quiser — inclusive fugir um pouco do estilo do grupo, o power metal, para que o metal sinfônico se sobressaísse em suas músicas.
— Eu não sinto mais saudade, senti muita no começo. Agora passou, acho que porque atingi a plenitude que pretendia como musicista. Estou revigorada, e essa alegria tem contribuído muito para a qualidade dos meus trabalhos.
Banda finlandesa de death metal Amorphis se apresenta em SP no fim do mês. Veja entrevista exclusiva
A cantora contou, no entanto, que a responsabilidade também aumentou ao deixar de fazer parte de uma banda para ser a única à frente de si mesma. Segundo Tarja, ela é responsável por todos os assuntos que envolvem a carreira musical — desde a arte das capas dos álbuns até a composição das músicas.
PublicidadeFechar anúncio
A Finlândia e a música
Para quem não sabe, até o primeiro ministro da Finlândia, Juha Sipilä, é fã de metal. Do país, surgiram grandes bandas que compõem o gênero, como Nightwish e Amorphis. Tarja acredita que essa paixão se tornou cultural, uma vez que é disseminada facilmente pelo território finlandês.
— É raro você encontrar alguma criança que não saiba tocar algum instrumento, na Finlândia. O país não é grande, tem o tamanho de uma pequena cidade do Brasil, por isso é fácil que uma cultura se espalhe por toda a população. Por aqui é a música, à qual sou ligada desde meus cinco anos de idade. Eu morava em uma pequena vila, onde era conhecida como “a menina que cantava”. Aos 15 anos, me mudei para uma cidade maior para estudar em uma escola de música. Deixei meus pais e minha família em busca de um sonho. Não me imagino fazendo outra coisa.
Ao ser questionada sobre a possibilidade de não ter seguido a carreira de cantora, Tarja soltou um de seus ruídos afinadíssimos como se estivesse cantarolando uma de suas composições.
— Ah... Nossa, nunca pensei sobre isso. Se eu não fosse cantora, acho que seguiria algo no ramo das artes, porque não consigo ficar sem expressar meus sentimentos. Talvez o teatro, que é algo que eu amo; talvez a fotografia, que transmite muito os reflexos da alma. Ah, a fotografia... Como é linda.
Apesar de ser conhecida como a musa do metal, Tarja contou que seus maiores ídolos são artistas de bandas de rock clássico como Queen e Genesis. Segundo ela, esses e outros grupos a inspiram até hoje na hora em que vai compor suas músicas:
— Eu gosto de compor no silêncio, mas sempre levo essas bandas como fontes de inspiração. Tudo pode se tornar uma composição, às vezes algo que li, às vezes algo que estou sentindo. Normalmente priorizo meus sentimentos na hora de escrever, de compor, e essa inspiração pode vir a qualquer momento. Mas para que ela se desenvolva, preciso estar em um ambiente silencioso (risos).
Ainda sobre inspiração, a cantora contou que estar entre a natureza e conviver com o barulho dos pássaros são hábitos que exaltam seu instinto para compor músicas. Atualmente, Tarja mora em uma ilha no Caribe, onde consegue ficar em contato com todas essas riquezas naturais diariamente.
— O meio-ambiente é inspirador... Talvez seja por isso que eu tenha conseguido compor dois álbuns no mesmo ano (risos).
Tarja Turunen lançou o álbum The Brightest Void em junho de 2016, e o The Shadow Self vai chegar às lojas em agosto. No Brasil, ambos serão lançados pela gravadora Shinigami Records.