Tarja Turunen e a Tempestade de Inverno

É uma coincidência que o álbum solo de Tarja Turunen seja lançado quase ao mesmo tempo em que o primeiro álbum do Nightwish sem a Tarja. Certamente você vai encontrar sinais do Nightwish no álbum My Winter Storm de Tarja, mas há também novos experimentos e há finalmente a chance de combinar influências clássicas com heavy metal.

My Winter Storm parece demais uma trilha sonora de filme e Tarja conta que ela buscou essa sonoridade para o álbum. O álbum foi gravado na Irlanda, Espanha, Suíça, Alemanha, Finlândia, mas o toque final foi dado nos Estados Unidos, em um estúdio especializado na criação de trilhas sonoras.

Tarja Turunen começou a planejar seu álbum há alguns anos atrás, antes mesmo de ser demitida do Nightwish. Tarja tinha uma forte visão de qual tipo de música ela queria fazer, mas essas idéias não eram fáceis de explicar. O elemento mais importante na música é sua sonoridade.

- Por trás de tudo isso estão trilhas sonoras que eu amo, diz Tarja.

- A respeito de filmes recentes, eu vejo de tudo, mas com certeza mais fantasia, terror ou thrillers. Eu assisto a poucos filmes de amor. Eu sou uma pessoa que gosta de sensualidade, mas eu não preciso vê-la na tela.

- Toda vez que eu vou ao cinema ou assisto a um filme em casa eu sinto a maravilhosa sensação de sentir sua música. Mesmo que seja apenas um violoncelo tocando ao fundo, eu consigo captar. Eu sempre me perguntei qual o segredo técnico na sonoridade dos filmes. Eu tenho uma grande coleção de trilhas sonoras e quando eu me interessei por elas e comecei a colecioná-las. Eu comecei a comprar vários CDS diretos dos EUA. Eu provavelmente não ouvi nada além de trilhas durantes os últimos anos. Eu percebi que boas trilhas têm praticamente as mesmas pessoas trabalhando nelas. Eu comecei a pensar se haveria alguma chance de entrar em contato com elas.

- Quando eu falei com a gravadora sobre isso, eles primeiro ficaram assustados. Você tá falando de trilha sonora, nós nem temos canções de verdade ainda. Este primeiro momento foi de pânico. Foi muito difícil demonstrar minha visão através de explicações verbais. Eu soube logo de primeira que eu queria algumas canções bem pesadas, mas por outro lado eu queria algumas canções onde se obtivesse uma atmosfera bela e silenciosa. Foi difícil explicar, como unir esses dois extremos e achar um equilíbrio para o álbum. Graças a Deus a gravadora achou Daniel Presley para ser meu produtor, ele entende a mim e a meus pensamentos.

- Eu já tinha feito algo com um pouco de trilhas sonoras com o Nightwish, a canção Walking in the Air que é parte da trilha da animação Snowman é adorável. Snowman é uma tradição e eu chorava e ficava irritada quando eu perdia a exibição em algum natal. É uma história extremamente bonita e tocante, realmente adorável.

- Entretanto o Nightwish já tinha sua própria sonoridade, que claro, tinha alguns elementos, mas ainda sim era uma sonoridade própria da banda. Eu aceitei a idéia, agora eu sou livre para fazer a música que eu quero, mas por outro lado, foi um grande desafio. Este álbum acabou sendo um embrulho colorido e bonito que traz consigo várias imagens mentais. Eu estava considerando a idéia de lançar ao mesmo tempo um DVD que traria as canções ilustradas. Mas isso levaria mais tempo.

- Eu vejo imagens e histórias nas músicas. É triste que hoje em dia... Poucos artistas conseguem contar uma história através de um álbum. Embora My Winter Storm não seja um álbum conceitual eu tentei priorizar a importância da imagem na música. Se em um filme a pessoa ouve a música e assiste às imagens, então nesta história eu sou a narradora que cria as imagens com minha voz e letras...

Um coral de 74 Tarjas

My Winter Storm tem algumas pessoas de primeira classe por trás. Daniel Presley, o produtor, já trabalhou com Faith No More e Jewel. O álbum foi trabalho no estúdio de Hans Zimmer em Los Angeles. E não há porque reclamar dos músicos. O guitarrista Alex Scholpp do Farmer Boys é um velho conhecido e o baixista Doug Wimbish toca com o Living Colour e já tocou com Madonna, Joe Santriani, Rolling Stones e muitos outros. Tarja em pessoa convidou o baterista do Seal, Earl Harvin, que já trabalou com Pet Shop Boys e Air. O tecladista Torsten Stenzel trabalhou com Nelly Furtado, Moby e Tina Turner.

- É verdade que Hans Zimmer e as pessoas de seu estúdio foram uma maravilhosa ajuda, diz Tarja.

- Eles já compuseram para filmes com o Gladiador e Piratas do Caribe e isso foi muito construtivo e uma experiência instrutiva entrar às portas do Remote Control de Hans Zimmer. Eu sou muito grata por isso.

- Eu sei que esse álbum é a penas o início da minha carreira solo. Agora eu preciso saber o que eu tenho de fazer para alcançar meus objetivos. Isto se chama pesquisa de campo. No estúdio de Hans Zimmer e finalmente vi o que pode ser feito durante uma mixagem. Quando você tem três Pro Tools a sua disposição você tem a possibilidade de trabalhar milhares e milhares de faixas ao mesmo tempo e fazê-las soar como se fosse mais do que um amontoado de sons.

- Na canção Lost Northern Star nós tivemos 74 faixas vocais. Eu disse que eu queria uma canção com tantos vocais líricos quanto possível e nós gastamos muito tempo nisso. Foi uma loucura total para mim, passar o dia ouvindo a mixagem dessas faixas.

- Foi maravilhosa a ajuda do produtor, Daniel Presley (que é parente de Elvis), neste desafio. Deus! Nem me perguntem qual o grau de parentesco dele com o Elvis. Eu não lembro! Bem distante, mas é um nome de peso. Embora ele nunca tenha conhecido pessoalmente o Elvis.

- Daniel surgiu porque eu comecei a falar sobre o que eu queria com a gravadora. Eu disse que precisava de ajuda, eu não conseguia administrar tudo sozinha. Foi um pouco exaustivo descobrir que tipo de cara seria e como seria sua visão do álbum. E quando eu já tinha uma clara idéia de que precisávamos de alguém para nos dizer que não estávamos fazendo a coisa da maneira certa, então a gravadora me apresentou ao Daniel e ele veio assistir meu concerto de natal em Helsinque ano passado. Foi muito importante para mim que ele tenha vindo ouvir ao vivo.

- Daniel é o produtor com quem se pode falar constantemente, dentro e fora dos estúdios. Havia uma tempestade de idéias em ambos os lados e ele foi o único que veio pedir a opinião da artista antes de fazer qualquer coisa. Eu o respeito bastante por isso. Nós tivemos algumas conversas difíceis ocasionalmente, porque era uma coisa nova para ele trabalhar com esse tipo de som.

- No meio de tudo isso nós tínhamos de lembrar de não nos excedermos. Quando a banda tava gravando na Irlanda eu estava lá dizendo para eles tocarem o mínimo possível, por favor. Eu tinha sempre de lembrá-los que quanto menor a coisa, maior seria a sonoridade. E em algumas ocasiões nós tínhamos uma vontade louca de tocar mais e mais e então tínhamos um amontoado de faixas que se tornou uma mistura caótica.

- A produção do álbum começou no começo de Junho quando fomos a Irlanda e nos conhecemos pessoalmente. Foi uma época empolgante. Todo o processo de gravação foi rápido, durou em torno de três meses. A gravadora fez um cronograma um tanto interessante para o álbum.

- Eu queria ter feito o álbum na Finlândia, mas não foi possível. Seria bem exótico para os músicos. Mas o estúdio na Irlanda era um lugar absolutamente maravilhoso, Deus, uma velha fazenda no interior. Eles nos alimentaram bem e todos nós ganhamos uns quilinhos a mais durante essas três semanas. Foi realmente relaxante sem aquele barulho de cidade. Tínhamos paz para caminharmos por aí. Foi um período bem pra cima.

- Gravamos os vocais em Ibiza. Ibiza é um lugar bem estranho! Eu nunca me imaginei indo lá nem para cantar nem pra passear. A ilha tem muitos turistas e eu não estava interessado nessas coisas. Primeiro fomos lá com os compositores, tínhamos um time de compositores e alugamos uma casa. Eu cantava na sala e na cozinha com o produtor e o cara do som. Eles sentavam no mesmo lugar, próximo a mim e gravavam. Foi uma ótima experiência, bem descontraída.

Sob o Poder do Veneno

O velho clássico de Alice Cooper foi escolhido para ser o cover no My Winter Storm. A própria Tarja admite que a idéia seja estranha. Uma mulher cantando Alice Cooper e uma mulher que admite não ser uma fã ardorosa de Alice Cooper. O maior dos hits de Alice Cooper é familiar a ela claro, mas Tarja jamais ouviu os álbuns da banda em casa.

- Um dia eu estava dirigindo de Kuopio até Helsinque tentando me manter acordada eu sintonizei uma rádio de rock. Honestamente, Poison tocou cinco vezes naquele dia, conta Tarja.

- Eu disse que não podia ser real. Eu estava no palco quando eu pensei em que cover eu faria, porque eu queria porque queria um. Eu tinha várias opções, mas nenhuma me agradava. Então essa canção tocou cinco vezes na rádio e eu achei que ela poderia ser cantada por uma mulher... caramba, por mim! Eu apresentei a idéia à gravadora e eles disseram que foi a melhor idéia em anos.

- Quando começamos a trabalhar em cima de Poison na Irlanda, minha idéia era que deveríamos nos manter o mais fiel possível ao espírito original da música. Por outro lado, queríamos nos afastar daquela imagem de música dos anos 80 para fazer a canção se encaixar no álbum e no meu jeito de cantar. Havia muitas coisas a se considerar. A banda estava de saco cheio da música e então se formou uma verdadeira relação de amor e ódio. Eu batia palma e animava os rapazes quando eles tentavam tocar Poison no estúdio e os encorajava a fazer o melhor possível. A banda só reclamava, eles odiavam a música. Nosso guitarrista, Alex, fez uns arranjos para a música e se tornou bem difícil se livrar das constantes modulações. Sem contar que a versão original tinha vários backing vocals. Baseado nisso, depois do primeiro refrão, parece que centenas de vocalistas entram em cena. Uau! Desmond Child teve bastante trabalho!

- Quando eu entreguei a canção pra mixagem eu disse que seria bem assustadora. No começo as pessoas não iam notar que se trata de uma canção do Alice Cooper. Era essa a intenção. Gravamos alguns backings na Finlândia. Havia meu irmão, minha amiga Tea e o produtor Daniel. Por um dia nós rimos de cair no chão. Tínhamos uma empolgação, mas estávamos tão exaustos. A canção saiu bem legal. Faz-te sorri.

- Agora que estaremos em turnê, Poison com certeza será um dos pontos altos da noite. Mas ainda temos que ver como as coisas vão ficar no palco. Não é fácil fazer o álbum funcionar ao vivo. Fazer 74 Tarjas cantar ao vivo, assim como no álbum, não é fácil. Mas claro que os concertos serão baseados no álbum. E claro, eu vou cantar músicas do Nightwish. Eu não vejo razão para não fazê-lo. Há algumas canções do início de carreira que seria muito bom cantar agora que minha voz já canta de forma melhor.

- Por sorte Alex e Doug estarão comigo nos shows. Infelizmente Earl, nosso baterista, já tem shows agendados com o Air. Os violoncelos serão tocados por Max Lilja e Markus Honti, com quem eu já trabalhei nos concertos de natal. E meu irmão mais novo também virá comigo na turnê, Toni Turunen. Ele vai tocar a bateria eletrônica, teclado e cantar, se for necessário. Na bateria teremos Mike Terrana. Eu chamei o Mike e disse que a hora estava chegando, já que ele havia me dito várias vezes que se eu precisasse que era só chamar.  Embora o álbum não seja metal, tem algumas canções bangers.

- Tocaremos em lugares pequenos no fim do ano na Europa e tocaremos na Finlândia também. No Sami Hyypiä Arena de Kuusankoski. Eu acho que nunca houve um concerto de rock lá. Nós faremos o lugar sacudir! Será oito de Novembro. Em Março/abril do ano que vem começaremos a turnê mundial. Esta parte está sendo planejada com bastante seriedade, mas ainda assim com um sentimento descontraído. Haverá algumas viagens rápidas e depois eu vou pra casa descansar um pouco.

- Eu notei que a agenda apertada do Nightwish me deixou com lapsos de memória. Eu não lembro de ter visitado certos lugares, eu só lembro de alguns momentos de alguns concertos. É terrível! Eu sou uma mulher de 30 anos e eu não lembro de algumas coisas!

A felicidade de mergulhar

No ano que vem Tarja se concentrará em promover o My Winter Storm com shows e atividades adicionais. Alguns projetos ligados à música clássica também foram programados, já que Tarja quer trabalhar um pouco esse seu lado.

- Música clássica ainda é importante pra mim, diz Tarja.

- Quando eu não for capaz de fazer isso eu não vou poder me chamar de cantora lírica. Eu trabalho muito minha técnica. Quem dera chegar o dia em que eu possa dizer que eu canto sem nenhuma dificuldade. Seria uma experiência libertadora. Mas eu percebi que isso faz parte de mim. Uma parte construtiva e saudável. Eu percebi que quando eu saio de um palco de rock para um de música clássica eu levo muita energia comigo, mas isso não é tudo. Eu não me sinto uma artista completa fazendo só música clássica.

- Cantar deveria ser uma prática diária. Assim como tocar piano. Uma vez eu fui capaz de tocar Chopin, mas hoje em dia quando eu sento ao piano, eu mal consigo me acompanhar.

- Eu tenho uma professora de canto em Buenos Aires e no momento estamos fazendo um trabalho intensivo. É hora de aprimorar a técnica, eu treino todos os dias. Eu quero ter uma professora na Finlândia também, já que eu só vou a Buenos Aires duas ou três vezes ao ano.

- Quando eu vou a Buenos Aires eu fico pelo menos duas semanas porque é um longo caminho até lá. Não é um prazer ter que ir até lá. É um caos a cidade grande. Cuidar das coisas lá demora muito mais do que na Finlândia. Na Finlândia temos uma casa em Kuusankoski e é uma verdadeira base. Agora com essa correria eu tenho vivido uma vida de hotel, mas isso é só parte da minha vida. Meu lar é um Kuusankoski.

- Meu marido Marcelo se ajustou bem à Finlândia. Todas as vezes que viemos aqui, mesmo que esteja -35ºC e nevando, ele é o primeiro a dizer: que maravilha. Sou eu quem reclama do frio, mas ele não fala nada. E temos uma sauna em Buenos Aires, Marcelo aprendeu bem nossos costumes.

- Começamos a mergulhar pelo mundo todo, mas também nos lagos finlandeses. Esses mergulhos se tornaram uma fonte de energia, uma forma de recarregar as baterias. Uma forma de relaxar a mente é passar na praia ou não floresta, que é um lugar calmo e cheio de paz.

- Eu também leio bastante Paulo Coelho. Ele me inspirou bastante neste álbum. Muitas coisas nos livros dele me fizeram entender melhor a vida e a mim mesma. É engraçado o poder de um escritor. Ele escreve sobre libertar a mente e sentimentos positivistas em um nível mental e espiritual. Eu tenho pensado bastante sobre isso nos últimos anos.

Um novo começo

Tarja Turunen diz compreender que será bastante questionada sobre o Nightwish. Ela foi uma grande parte do Nightwish e a banda foi uma grande parte da vida dela. Ela não quer mais se preocupar com o assunto. Quando a poeira abaixou, ela pode dizer que sente orgulho de seus anos na banda e da música que fizeram.

- Claro que me magoou quando os jornais fizeram histórias sobre isso, admite Tarja.

- Eu sempre evitei falar sobre minha vida particular. Mas a confusão foi bem grande. Especialmente quando dizia respeito não só a mim, mas a minha também e as pessoas que me conhecem por décadas.

- Eu ouvi dizer que o novo álbum do Nightwish tem uma canção sobre mim e sobre meu marido. É um pouco confuso, mas eu sempre disse que as pessoas devem tomar suas próprias decisões e cuidar de suas próprias vidas. E agora eu sou uma pessoa mais feliz. Eu sou bem sucedida na minha carreira, em mostrar do que sou capaz.

- Não me pergunte sobre o próximo álbum, talvez eu ainda faça uma turnê por alguns anos. Quando o álbum for lançado, ele será lançado na Europa, Austrália, Nova Zelândia e América do Sul. EUA no começo de janeiro. Há lugares para ir. Promover e tocar. Ainda temos alguns anos, ainda mais que planejamos fazer tudo com calma.

- Eu ouvi algumas canções esses dias e eu acredito que meu futuro esteja baseado nele. É uma experiência bacana, mas claro você descobre coisas aqui e ali que poderiam ter sido feitas diferentes. Eu sempre fui muito crítica comigo mesmo, e o criticismo na te dá nenhuma liberdade. Eu lembro da vez em que eu pulei de alegria no estúdio, com lágrimas nos olhos quando ouvi os músicos tocarem, eu fiquei tão feliz. É um ótimo começo, estamos às portas de algo novo e desconhecido. É excitante ver com a garota vai se sair!