E: De onde você fala, Argentina ou Finlândia?
T: Na verdade, estou no Sul da Espanha, porque meu marido e eu estamos procurando um lugar pra viver. Vamos viver na Argentina por mais um ano e depois mudamos pra Espanha. Eu passei a gostar muito da cultura latina nesses anos em Buenos Aires, e também é uma cultura muito próxima à Europeia já que a maior parte das pessoas tem descendentes dali, então que me fez me sentir confortável.
E: Recentemente você lançou o TSS, que me parece o álbum mais variado da sua carreira, estou certo?
T: Tem toda razão. Além de ser o mais versátil, é o mais avassalador. Eu tinha vontade de obter um som mais potente da minha banda. Queria uma banda forte e compacta como suporte para minha voz. Por outro lado, acredito que tanto no nível de composição como no de produção, tudo está em seu lugar. Creio que com o passar do tempo, me sinto mais confortável e mais realizada quando tenho uma nova música completa, e me divirto mais com o processo criativo.
E: Houve um esforço coletivo paraa composição deste álbum ou o processo recaiu inteiramente sobre você?
T: Obviamente sou a compositora principal, mas os temas mais pesados eu escrevo com Alex Scholpp e Julián Barrett. São grandes guitarristas que entendem perfeitamente meus desejos e minhas necessidades artísticas, já que trabalhamos juntos há vários anos. Também sigo trabalhando com colaboradores que compuseram o primeiro tema importante da minha carreira solo, "I walk Alone", assim que temas como Innocence ou Diva tiveram sua ajuda. Mas eu descobri minha veia criativa, e isso me faz me sentir mais completa, já que com o Nightwish eu só era uma cantora. Desde jovem eu compunha, mas nunca pensei que chegaria a ser compositora em si.
E: Você tem as redeas de sua carreira solo desde 2004, continua a incorporar sons e dinâmicas inovadoras?
T: Não há coisas que me pareçam novas. O certo é que este álbum me resultou muito natural, na relação de produzir e dirigir os músicos com que conto. Conto com alguns novos, mas é alucinane como a tecnologia hoje em dia nos ajuda a trabalhar em um projeto multinacional colocando tudo em comum. Tudo mantem um selo de identidade, mesmo que eu trabalhe com pessoas de muitos países do mundo, gravando, produzindo, saindo em tour... Claro que tenho que me preocupar como artista solo, mas sem a ajuda de todos eles não seria capaz de levar isso adiante. Por isso me rodeio de pessoas boas.
E: Em "Demons in You" há um toque alternativo e moderno. Sentia a necessidade de explorar outros estilos?
T: Para ser sincera, se me custa arranjar tempo para escutar música por escutar música, imagine como é difícil encontrar tempo para ouvir artistas novos. Minhas maiores influências vem de música sinfônica, tanto clássica como de trilhas sonoras. E na hora de escutar metal, prefiro o alternativo e industrial que se faz nos Estados Unidos, porque gosto do som pesado dos riffs que conseguiram as bandas de lá. São riffs que grudam na primeira e tem muito groove, então para mim o maior desafio é justamente combinar essas duas influências. Por outra parte, minha voz ocupa um grande espaço das mesclas finais, então tive que trabalhar duro para encontrar um equilibrio entre todos os elementos para que tudo se escute bem e um não se sobressaia em detrimento do outro.
E: Como surgiu a colaboração entre você e Alissa White-Gluz nesse tema?
T: É uma música que fala do nosso lado mais escuro, o lado que temos medo de ver e que só nos damos conta que existe quando nos irritamos ou nos alteramos. Eu também tenho esse lado escuro, e ele também é o lado que me leva a criar música. A luz e a escuridão, o Ying e o Yang, todas as forças contraditórias, tanto do universo como de nosso interior, me inspiraram para criar essa música. Pensei que precisava de uma voz oposta a minha, que é uma das mais limpas e claras dentro do panorama do metal. Nós só havíamos nos visto uma vez antes, no Wacken, mas foi a primeira pessoa em que pensei como uma segunda voz para essa música, tanto no nível gutural como no melódico. Espero que no próximo verão possamos nos encontrar em algum festival para cantar essa música.
E: Como foi contar com a voz de seu irmão Toni em Eagle Eye?
T: Ele já havia feito coros esporádicos nos meus discos anteriores. Tem sua própria banda de metal progressivo na Finlândia (Burnclear, anteriormente cantava no Celesty), tem uma voz maravilhosa e é multi-instrumentista, então quis dar a ele a oportunidade de mostrar pra mais gente o que é capaz de fazer.
E: Temas como Undertaker e Calling from the Wild são mais mais sinfônicos do álbum, no que parece prevalecer o que você aprendeu em sua época do Nightwish. O que pode dizer sobre eles?
T: Dado que tenho uma formação clássica, a música sinfônica é muito importante para mim. Sigo me aprofundando nela. Talvez as pessoas não saibam, mas eu continuo treinando minha voz, tendo aulas de canto e tratando de progredir como cantora lírica. Progredir nesse aspecto também me faz ser uma melhor cantora de rock e me expressar melhor. Neste cd, minha voz torna a soar diferente, e é por tudo isso, além de por toda a experiência nos palcos e do fato de eu me cuidar muito. A faceta sinfônica da música e meu amor por música clássica nunca desaparece, sempre será parte de mim. Como minha mão direita. Por outro lado, também tenho a faceta do rock. Ambas estão em harmonia em minha vida, e se refletem em poder estar tocando no Wacken e poucos dias depois estar tocando com uma orquestra sinfônica tocando música clássica. Meu objetivo absoluto é harmonizar ambas as facetas. Em meus álbuns, a música clássica e sinfônica sempre estará presente. Muito presente.
E: podería trazer à Espanha a orquestra também, não pensa nisso, agora que vem viver aqui?
T: (Risos) Sim. É um desafio muito grande. Fiz concertos clássico em muitos países, então por que não na Espanha? Adoraria vir com um projeto. Seria incrível.
E: Você dá bastante espaço para os músicos de sua banda mostrar o que são capazes de fazer, como fica claro em Innocence.
T: Meus músicos são brilhantes, então por que não deixá-los brilhar? Eles fizeram coisas enormes por minha carreira, aprecio seu trabalho e aprecio a eles. Sabe do quê? Quando temos um show, esses caras sentam no camarim e começam a discutir o que podem fazer melhor. É incrível, eles compartilham comigo a motivação de fazer as coisas melhor e progredir. Eu sou uma cantora muito peculiar no sentido de que quando trabalho, coloco 100% de mim em toda situação. Não importa se foi um dia bom ou ruim. Eu já fui muito perfeccionista e não podia parar nesse sentido. Também é algo negativo, tem que ter um ponto onde você possa dizer "ok, está bom o suficiente, já deu". Aprendí isso com o passar dos anos. Era muito dura comigo mesma no passado, chorava depois de todos os shows porque havia cometido um erro aqui ou ali. Era horrível. Com a experiência e o tempo, um aprende a perdoar a si mesmo, a se dar conta de que não há como ser perfeito em nenhum aspecto da vida. Meus músicos são super talentosos e eu lhes dou espaço em minha música porque sem eles, não soaria igual nunca.
E: Love to Hate e Supremacy são dois dos temas mais obscuros do disco. Acredita que a escuridão seja parte inerente da sua música?
T: A escuridão vive em mim, ainda que eu seja uma pessoa alegre. É isso que me inspirou no The Shadow Self, e que me deu o próprio título. Me dei conta de um lado escuro em mim. Por quê? Me pergunto, "que diabos? sou a pessoa mais alegre do mundo!"
E: Pode descrever essa escuridão?
T: É uma escuridão bonita, que me dá a capacidade de criar música. Quando me sento em frente ao piano, saem melodias melancólicas, misteriosas e envolventes. Sempre é assim, não como um cântico alegre. A melancolía que vive em mim é essa bonita escuridão e penso que essa força criativa está em todos os artistas. Um pintor, por exemplo, volta toda sua dor ou toda sua felicidade para os quadros. Nós artistas, temos essa sorte de poucos, assim que quando me sinto mal, coloco em uma canção todos os maus sentimentos.
E: Se não fosse a música, seria uma pessoa infeliz?
T: Ficaria muito infeliz se não tivesse música. Todos nós ficaríamos infelizes se não tívessemos música. Imagine um mundo em que não houvesse música em nenhum lugar, seria horrível. Música é emoção, sempre foi emoção sem fronteiras para mim. Encontrei maneiras de reunir estilos completamente diferentes como a música clássica e o metal. No que diz respeito a música, sempre tento manter-me muito aberta, porque sempre se pode aprender coisas novas.
E: Do que trata "Diva"?
T: Como te disse, gosto de escrever sobre dicotomias e contradições que governam nossas vidas, assim que enquanto na vida cotidiana chamamos de diva à pessoas dificeis de conviver, pessoas egoístas e de pouca consideração com os demais, no mundo da música clássica o termo se refere a pessoas muito respeitadas, ídolos à adorar. Estava no caribe e vi ancorado o navio que usam na saga Piratas do Caribe. Como sou uma grande fã do compositor da trilha sonora, Hans Zimmer, pensei em compor uma canção de tom irônico.
E: Como você acha que evoluiu, musicalmente falando, do começo de sua carreira aé hoje?
T: Aprendi muito sobre tudo: música, pessoas, eu mesma. Me tornei mãe, vivi em diferentes países e pude disfrutar de todos os momentos que a vida me ofereceu. Aprendi a aproveitar mais o faço, e isso pode se ver nos cds, porque tudo que faço acaba tendo a ver de uma maneira ou outra com a música. Creio que neste disco eu soe como uma mulher mais forte, mais madura, e mais segura de si mesma. Ainda assim, sou bem tímida na hora de conhecer gente nova (risos).
E: Escutou o último disco do Nightwish?
T: Talvez tenha escutado alguma vez o single, que nem lembro o nome, mas não estou realmente interessada em comprovar o que estão fazendo. Assim estão as coisas hoje em dia com a banda, não gasto muito tempo pensando no que está acontecendo lá.
E: Sabia que vão tomar um ano sabático em 2017?
T: Não, nem tinha ideia.
E: Até 2018 pelo menos não teremos novos lançamentos deles, então há quem aproveite esse contexto pra teorizar sobre uma volta sua ao Nightwish...
T: Por Deus, não! Por deus, não! Por Deus, não! (repete, rindo). Não, não, não, é algo que deixei para trás na minha vida e que não quero repetir, para ser sincera.
E: Então, mesmo com a projeção internacional que teve com o nightwish e com boas experiências, estima que o balanço final de experiências seja mais negativo do que positivo?
T: Claro que estou totalmente agradecida por todos aqueles anos e sou completamente consciênte da benção que foi uma oportunidade que marcou toda minha vida. Estava na universidade estudando para ser soprano, e foi um desafio enorme entrar e formar parte de uma banda de metal. Não é algo que tinha planejado, mas aconteceu e me mostrou um lado completamente diferente da vida e me levou à um lugar que nunca imaginei estar. Aprecio muito isso, não sei onde diabos estaria se não tivesse aceitado o desafio de me tornar cantora do Nightwish. Definitivamente me deu uma vida diferente. Assim que, sim, sou grata, mas não, não voltaria a ter essa experiência. Foram anos alucinantes juntos, e essas canções sempre estarão ali, e eu estou super orgulhosa do meu trabalho.
E: Infelizmente, parece que a última impressão foi negativa e apaga, se sobressai a tudo de positivo de antes.
T: (pigarreia) Temo que não posso mais contar muito sobre esse assunto, infelizmente. Vem aqui em casa que te conto tudo! (risos).
E: Já que vamos ser vizinhos, fica marcado. Mudando de assunto, já pensou em experimentar em outros estilos mais longe do sinfônico?
T: Já o faço nesse disco, mas não creio que poderia fazer um cd inteiro sem elementos sinfônicos, porque preciso ter um arranjo de piano ou cello para me sentir inspirada, para que me toque. Além do que, acho que minha voz soa melhor nesse tipo de melodia. Mas tenho um projeto paralelo de música eletrônica chamado Outlanders onde uso minha voz para criar paisagens sonoras, como um pintor utiliza seu pincel. É música relaxante e atmosférica, e espero poder lançar o disco em um par de anos. Para mim o que importa são as emoções, então se encontro um projeto que me faça sentir algo, por mais básico ou alternativo que seja, participaria.
E: Vai voltar a ter Mike Terrna ao vivo em sua banda?
T: Mike toca algumas canções no cd, mas nesta ocasião não estará conosco ao vivo.
E: O que podemos esperar para os shows que tem marcado pra Novembro em Madrid e Barcelona?
T: Como tenho quatro discos de estúdio, posso brincar com o setlist, ver que músicas toquei na última tour da Espanha e mudar o repertório para não repetirmos. Também vamos trazer telões e algo mais de produção de palco, vai ser bonito.