Olá, Tarja; bom dia. É um prazer poder falar contigo novamente. Sou Mignon Rose, da página Seguras Viudas, de Madrid. Primeiramente, obrigada por seu tempo.
T: Disponha.
R: Estive no seu concerto da Hellfest, mês passado. Estou muito feliz por poder fazer mais perguntas a respeito dos seus novos álbuns e do estilo deles. São fantásticos!
T: Foi tudo muito rápido, a entrevista foi curta, não pude falar muito. Fico contente por você ter ligado.
R: O primeiro álbum se chama The Brightest Void, composto por músicas que não foram incluídas no The Shadow Self mas que, de qualquer forma, você quis lançar. Eu gostaria de saber por que essas músicas são tão importantes para você.
T: Sabe, tenho trabalhado com músicos incríveis, que são bastante talentosos. Somos um grande time. Tenho músicos para cada instrumento. Se necessito que a bateria tenha um estilo específico, que a guitarra soe de maneira diferenciada, consigo tudo isso. Sou muito feliz por produzir as músicas com os profissionais que tenho. Tudo funciona bem com minha equipe, as coisas se encaixam no estúdio. De eagle eye, por exemplo, eu queria duas versões, com diferentes músicos. As versões são muito diferentes e cada uma tem sua atmosfera a partir dos músicos e do que estava em suas almas. Por isso, eu quis duas versões dessa música, uma para cada um dos discos, que são independentes, ainda que as músicas estejam conectadas por terem sido escritas para um álbum. Como escrevi muito e não queria lançar um CD duplo - seria demais para os meus fãs - porque seria muito para ouvir, demandaria muito tempo, muitos sentimentos; lancei dois álbuns que possuem vida própria. Era importante que as músicas do The Brightest Void fossem cinematográficas, divertidas, como a que gravei com Michael Monroe. Foi muito legal a EarMUSIC ter compreendido meu desejo.
R: The Brightest Void tem uma vibe rock, mais pesada e poderosa. Acho que você encontrou o equilíbrio perfeito entre seu vocal lírico e o heavy metal.
T: Bem, tem sido um longo processo. Se você ouvir meus álbuns um após o outro, verá que minha voz está diferente em cada um deles. Isso acontece porque pratico canto lírico constantemente. Sempre que volto a Buenos Aires, faço aulas de canto com uma técnica. É muito importante para mim continuar evoluindo como cantora lírica. Isso também me ajuda a cantar rock. Tenho uma voz e a uso de maneiras muito distintas; tenho sido mais versátil que nunca. Divirto-me com isso, pois sou capaz de desfrutar da minha voz.
R: Acredito que você tem se saído muito bem.
T: Soa natural, eu posso pintar quadros com minha voz e contar histórias. É algo muito bonito e que me dá essa sensação maravilhosa de ser cantora, de poder me expressar com minha voz.
R: Quando ouvi o The Brightest Void senti muita esperança, força e coragem para não desistir dos sonhos, apesar das adversidades. O que te inspirou a escrever os dois álbuns?
T: Bem, os dois tem a ver com a sombra, a escuridão que temos em nós mesmos. Coisas que temos escondidas, como quando agimos de maneira distinta em determinada situação e não sabemos o motivo. Descobri que há sombra em mim, porque componho melodias melancólicas. Por que isso acontece? Considero-me uma pessoa positiva. Ter vivido em um país latino-americano por muitos anos me tornou uma pessoa de mente aberta. Estou desfrutando muito mais minha vida, ultimamente. Adoro estar com pessoas, conversar, sabe? Sou feliz, de maneira geral. Então por que, quando se trata de música, há escuridão? Para mim, é algo belo. Percebi que essa escuridão me faz compor. Esse é meu shadow self. Li uma entrevista da Annie Lennox na internet que me impactou bastante. Ela dizia que o shadow self é a força criativa de todas as pessoas. Os pintores, por exemplo, utilizam essa obscuridade para se expressarem. Assim, é possível pôr toda tristeza ou alegria, todas as emoções na arte. Essa entrevista da Annie Lennox abriu meus olhos. Todas as músicas do CD são basicamente sobre não se esquecer e não abrir mão dos próprios sonhos. Sempre haverá um meio. A vida é cheia de riscos que devem ser tomados. Elas também tratam de autoconhecimento, das coisas que tenho visto em minhas viagens pela música; como as pessoas vivem suas vidas. Histórias positivas e negativas. Esses álbuns são muito pessoais, como todas as minhas composições. É maravilhoso.
R: É uma forma de expressão. Falemos sobre o The Shadow Self. O primeiro single, Innocence, acaba de ser divulgado. O que podemos esperar desse álbum?
T: Creio que é o mais pesado que já lancei em toda minha carreira. Eu precisava sentir o peso da banda nas guitarras e na bateria. Tudo isso é predominante, junto com os elementos sinfônicos. Essas canções tem um estilo diferente. Esse talvez seja o CD mais diferente de toda minha carreira. Você verá que há uma linha que une todo o disco. Já não é complicado, para mim, realizar produções. Tudo ficou mais claro nesse álbum. No Colours In The Dark eu já estava muito feliz com o som, já tinha encontrado a maneira de produzir meu estilo. Nesse álbum, por ser o quarto, senti que era o momento.
R: Você se sente satisfeita compondo e produzindo seus próprios discos?
T: Muito.
R: É importante para você?
T: É importante e libertador. Sinto grande satisfação por ser capaz de compor por minha conta, sem medo do resultado. Às vezes, saem coisas boas, às vezes não; então preciso voltar e tentar descobrir o que há de errado, o que não me agrada. É um processo que, para mim, dura mais ou menos dois anos, porque estou em tour com cada disco; é quando componho as músicas.
R: Você precisa de um tempo para si...
T: Sim, preciso estar em casa, com tranquilidade para compor.
R: Você fará um show na Espanha, em novembro.
T: Sim.
R: Planeja algo especial para sua próxima tour?
T: Algo especial?
R: Sim.
T: Depois dos festivais de verão, incorporaremos telões ao palco. A produção será diferente. Depois do Colours In The Dark, haverá menos cores no cenário.
R: Sim, vimos que seu concerto na Hellfest não foi colorido.
T: Depois desses festivais, estou muito contente pois vamos tocar em Madrid, Barcelona, no Leyendas del Rock. Estar nesse festival é uma grande oportunidade para mim. Estou muito feliz.
R: Na Hellfest você se uniu a Sharon Den Adel para cantar Paradise (what about us?). Qual o sentimento daquele lindo momento?
T: Foi maravilhoso. Há dois anos, gravamos um vídeo juntas e durante todo esse tempo vínhamos tentando fazer essa parceria real. Nós nem vivíamos no mesmo continente. Foi muito difícil nos organizarmos, por causa do tempo. Não havíamos ensaiado a canção juntas. Estávamos no backstage nos divertindo, falando sobre outras coisas e no final, dissemos ‘’vamos cantar juntas esta noite?” ‘’Claro, vamos.” Foi uma experiência maravilhosa.
R: Foi um lindo momento.
T: Sim.
R: Uma das músicas que mais gosto do The Brightest Void é your heaven and your hell. Falamos sobre a colaboração de Michael Monroe, do Hanoi Rocks. Como você decidiu trabalhar com ele?
T: Michael é um amigo muito querido. Conhecemo-nos antes do The Voice of Finland, onde ele é técnico há muitos anos. Participei das duas últimas edições. Somos bons amigos também fora do trabalho. Realmente o amo, ele é uma das pessoas mais doces que conheço. Um dia, encontrei essa música no meu computador. Pensei que ela era muito rock and roll para meu gosto, mas havia algo de muito bom nessa demo; então disse a ele: “escuta essa música que encontrei.” Ele sugeriu que fizéssemos uma canção juntos. Na verdade, foi uma ideia em conjunto. Conversamos sobre o tipo de letra que deveríamos compor; sobre os opostos da vida e dos meus álbuns, The Shadow Self e The Brightest Void; da sombra e da luz; do céu e do inferno; do yin e yang, sabe? Esses tipos de opostos que fazem parte da vida. Depois que céu e inferno surgiram em nossas conversas, Michael escreveu a letra em uma noite. Na manhã seguinte, apareceu com a letra, no The Voice! Ele é talentoso e muito rápido. Quando Michael se envolve em algo, faz com todo o coração. Foi uma dessas colaborações especiais. Gravamos a canção na Finlândia, no mesmo dia. Quando ouvimos os voais, achamos ótimos.
R: É uma canção maravilhosa, junto com witch hunt, que também adoro.
T: É encantadora! É uma das canções cinematográficas que falei, ainda que não toque em nenhum filme. Ela é do jeito que eu escreveria uma música para filme.
R: Parece ser o tema de algum filme cheio de magia. Você foi técnica do The Voice Of Finland. Eu gostaria de perguntar qual característica você considera mais importante para um/a cantor/a? há mais de uma? Sei que é uma pergunta difícil...
T: Obviamente, a personalidade é a mais importante. É preciso ter uma voz que possa ser reconhecida, que tenha originalidade e que seja única, porque você pode não reconhecer a música, mas pode reconhecer a voz. Por exemplo, a voz do Sting e do Paul McCatyney são originais, reconhecíveis. Isso é algo que vem de dentro. Obviamente minha voz mudou muito desde que nasci. Já cantei muitos estilos, inclusive Soul e pop. Minha voz mudou bastante quando comecei canto lírico. Quando se canta pop ou rock e tem uma voz única, tem-se a oportunidade de brilhar.
R: Tarja, muito obrigada pelo seu tempo. Sei que você está se mudando para a Espanha...
T: Creio que no próximo ano. Amamos este país!
R: Seja bem-vinda! Espero que sejas muito feliz aqui.
T: Obrigada!