O retorno da bela.

É curioso como quando se espera encontrar com uma diva inacessível e pretensiosa, se topa com a doce e pacífica voz de uma mulher que de todas as maneiras mostra sua felicidade por estar a ponto de concretizar seu sonho.
Logo depois da turbulenta e quase telenovelesca expulsão de sua banda anterior, o capítulo Nightwish foi deixado para trás dando espaço a consolidação de uma nova Tarja Turunen: a solista.
Com certeza haverá quem considere My Winter Storm como uma resposta a Dark Passion Play do nightwish. Depois de tudo, a música e suas letras contém mensagens que podem ser adaptadas a essa situação. Mas, enfim, que música não é? A polêmica pesa mais. Mas também haverá quem o escute com fome de encontrar segredos escondidos, emoções ocultas em cada uma das faixas que irão surgindo conforme o ouvido se familiarize com elas. O certo é que a tempestade de neve terminou para Tarja. Seja na forma da ave Fênix, da Rainha do Gelo, de uma Boneca ou mesmo de um Garoto Morto: sua história, sua pessoa e sua voz estão alcançando novas dimensões.

Como se sente com sua nova carreira solo?

Com certeza estou muito feliz. Levou um ano e meio trabalhando nesse disco e organizando as pessoas que estão envolvidas. Agora tive a oportunidade de acompanhar os detalhes do processo de produção e na composição das canções. A pré-produção começou em Junho. Tudo foi muito rápido quando há muitas pessoas por trás disso. Estou completamente contente com o resultado obtido até agora e esperando pra ver como as pessoas reagirão ao escutar o disco. É algo completamente novo em minha vida, foi um processo de aprendizagem enorme; mas terei que esperar dois meses mais para ver a reação das pessoas.

Ao comentar que esteve envolvida em todo o processo, se refere a que dessa vez você escreveu as canções?

É sim. Ao todo são 13 canções que constituem esse álbum, é um disco longo, em oito delas co-escrevi as letras e a música junto de outras pessoas. Apenas em uma das canções ("Oasis"), escrevi a letra completamente em finlandês e terminou sendo a única canção em meu idioma. Foi algo novo para mim, já que jamás havia feito esse tipo de colaboração; quero dizer, sempre me surgiam idéias e cantava canções por ai, mas jamais havia entrado uma gravadora e guardado o que havia criado. Para esse disco tive a oportunidade de conhecer vários compositores que me ajudaram no processo de criação, já que a principio era muito tímida a respeito. Com a ajuda deles as coisas ficaram mais fáceis e sem dúvida foi um grande processo de aprendizagem. Foi algo fantástico e o bom é que agora saberei o que tenho de fazer para o próximo álbum. Mas....ainda vou ter que terminar esse primeiro. (risos)

Seu primeiro álbum solo reflete sem dúvidas uma Tarja que não havíamos escutado anteriormente. Mas, fazer um cover de Alice Cooper supera qualquer expectativa...

Foi uma idéia que propus à gravadora e que eles adoraram. Ia dirigindo um dia na Finlândia durante o verão e me ocorreu que seria uma boa idéia incluir um cover no álbum. Comentei com meus fans, pratiquei com meus amigos e todos propuseram canções, mas nada ma fazia dizer "ok, esta está boa". Esse dia dirigindo sintonizei a estação de rock local. Não podia acreditar que transmitiram "Poison" cinco vezes no mesmo dia. Para mi era incrível que tendo tantas músicas que escolher, escolheram essa precisamente. Então eu disse: essa é a música! A escolhi também porque me lembra minha época de adolescente, porque é um grande clássico e acho que poderoso ser suficientemente louca de fazer um cover dessa música.

Alice Cooper já sabe que Tarja Turunen fez um cover seu?

Não! (morre de rir) não sei se já escutou. Quando estive em um estúdio remoto da Universal em Los Angeles fazendo a mixagem do disco, soube que Alice Cooper também tinha gravado ali e que é um grande amigo das pessoas que ali trabalham. Assim que quando escutaram o cover me disseram: Alice tem que escutar essa versão! Mas não acho que já tenha escutado, e pra falar a verdade me inquieta saber o que pensará já que é uma versão muito diferente da original, com barulhos apavorantes e efeitos diferentes.

Bom, Alice é bem apavorante....... Será uma grande surpresa para ele sem dúvida, é uma mostra de que o que tem preparado é muito diferente do que vinha fazendo. Vai se afastar do gothic metal?

Bom, com o que diz respeito ao álbum, definitivamente não vai seguir uma só direção. Não é um álbum clássico, nem tão pouco um álbum de rock. Quando comecei a planejar esse disco, não queria que seguisse uma mesma linha, inclusive quando cheguei a Universal não tinha uma demo que exemplificasse o tipo de música que queria fazer. Tinha os sons em minha mente, estava fascinada com a idéia de colocar o som de um filme ou de um soundtrack em meu álbum. Combinar canções simples, melodias sensíveis e belas; mas ao invés de ter um álbum normal de rock ou heavy metal, ou orientado para a música clássica, o que queria era ter o som de filme. Esse foi um grande desafio para mim e foi por isso que queria a ajuda de pessoas muito experientes na música.

Mas o que prevalece: o metal ou o clássico?

Estivemos trabalhando nos estúdios na Finlândia e também nos estúdios em Los Angeles e me sinto abençoada por poder fazê-lo. O álbum tem guitarras orientadas para o metal em algumas canções, também tem muita influencia do som clássico, algo que parte principalmente da minha voz como soprano e também dos sons da orquestra. Por outro lado tem, tem o som de um filme tranqüilo e de repente sons bombásticos.

Esse fervente desejo de imprimir essa atmosfera de filme ou teatro ao seu álbum me leva a perguntar se você se vê atuando em algumas obras ou protagonizando algum filme.....

Sempre amei o teatro e desde pequena meus pais me levavam para ver essas obras, também tenho uma amiga que é atriz e sempre vou ver obras musicais e operas. Seria ótimo poder fazer algo assim um dia. Se me propuserem atuar em uma obra ou em um filme, primeiro gostaria de ter aulas, já que nunca as tive. No momento tenho os sons que quis para meu álbum e isso só me faz feliz.

Com toda a confusão por sua saída do Nightwish, foi comentado que você publicaria um livro com sua versão do acontecido....

No momento não. É uma velha idéia que surgiu na Finlândia com uma pessoa, mas estivemos falando e no momento não tenho pensado em publicar um livro de minha vida. Não acho que tenha muitas coisas interessantes que dizer sobre mim (ri nervosa). Só sou uma garota de 30 anos e creio que musicalmente e a nível pessoal ainda tenho muitas coisas para explorar e aprender. De maneira que se chegar a fazer uma biografia oficial seria quando tivesse 60 anos.

O que te levou a escolher a Universal Music como gravadora? Imagino que teve muitas propostas....

Desde que comecei a considerar ter uma carreira solo, surgiram várias companhias que mostraram interesse em lançar meu disco. Optei pela Universal Germany porque já havia feito colaborações com eles anteriormente, conheço as pessoas que trabalham ali e de algum modo pensei que estaria em boas mãos com eles.

Ok Tarja. Vem a pergunta difícil. Já é história passada, mas para encerar o círculo com seus fans mexicanos, o que os diria a respeito de sua história com Nightwish?

Os diria que recebia infinidades de cartas e mensagens lindas dos fans. Devo dizer que tem sido surpreendente me dar conta de que tem muita gente que me quer bem em seu país. Essa é uma das razoes pela qual faz umas semanas que estive por ai, porque quero ver as pessoas, falar e estar com elas e devolver uma mínima parte de tudo o que me tem dado e demonstrar o agradecimento que tenho pelo apoio e carinho ao longo desses anos. E é claro que o México está incluído na turnê mundial que faremos com esse álbum, calculo que será em abril do próximo ano.