Nesta entrevista, Tarja, que foi vocalista da banda finlandesa Nightwish e hoje é artista solo, nos conta sobre sua paixão pela música, um amor que começou muito cedo e que - pelas voltas da vida - a levou a cruzar o clássico com metal. Hoje, mais do que nunca, segue acreditando que a música não tem fronteiras e que se deve seguir o coração. 

-Você começou interpretando música clássica, e é claro que ainda guarda um carinho por esse gênero. Mas logo houve uma mudança. O que te inspirou a começar sua carreira profissional e se unir à uma banda?

T: Cantar se tornou algo muito importante para mim durante a minha infância, e meu maior sonho era me tornar uma cantora famosa algum dia. Eu me apaixonei pelo canto lírico ao escutar algumas óperas em um festival importante na Finlândia, e especialmente ao escutar "O Fantasma da Ópera" de Webber pela primeira vez. Eu queria aprender a cantar aquelas notas super altas! Na época eu devia ter uns 15 anos. Comecei a ter aulas de canto e decidi ser uma cantora lírica profissional. Um par de anos depois recebi um convite para cantar em uma demo que não tinha nada a ver com metal ou clássico e este foi a primeira demo do Nightwish. Após esta gravação, tudo mudou. A vida é assim!

- Depois do Nightwish, você voltou ao clássico com o disco natalino "Henkäys ikuisuudesta", e logo começou a escrever o seu álbum de estreia "My Winter Storm", o seu primeiro álbum de rock. Como foi esta nova experiência pra você e como você vê esta evolução a uma carreira solo de sucesso que já dura quatro álbuns? 

T: Eu não sabia o que esperar, pra ser honesta. Estava muito nervosa por tudo no começo da minha carreira solo. Eu só sabia que queria continuar fazendo a música que eu amava, clássica e rock. Eu precisava confiar em muita gente nova logo após ter sido humilhada pelos meus ex-colegas. Foi realmente difícil, porque eu havia perdido a confiança nas pessoas. Creio que passei por um tipo de inferno pessoal interiormente mas depois foi uma grande bênção. Agora quando olho para trás e vejo aqueles momentos, agradeço que tenham acontecido. Depois disso, a música se tornou minha vida. Agora desfruto da minha arte e a mim mesma. É um sentimento maravilhoso! Sou uma mulher que trabalha duro e sem esse trabalho diariamente e sem o apoio que tenho dos meus fãs pelo mundo todo, creio que não conseguiria estar aqui. 

- O seu último trabalho, "The Shadow Self", foi elogiado como seu melhor disco até agora, porque mostra toda a emoção crua e a energia que as pessoas amam de suas apresentações e suas composições. Quais são as coisas que te mantêm em movimento, de onde vem a inspiração para fazer música hoje em dia? Isso tem mudado durante os anos? 

T: O fato de eu não gostar de me repetir me mantém motivada. Eu compartilho a paixão pela música com meu marido, e trabalhamos juntos como uma equipe. É surpreendente poder planejar coisas da minha carreira com ele e sentir seu apoio completo. Vivo o meu sonho com a música e hoje em dia sou livre para me expressar com ela. A vida que tenho é uma inspiração de uma forma ou de outra. Eu adoro viajar e conhecer pessoas novas, encontrar lugares novos e buscar histórias. Também a minha voz me mantém indo em frente, porque o amor por cantar é simplesmente muito forte e cada vez mais quero sentir que fico melhor. Sei que me sentiria miserável se eu não pudesse cantar mais.  

- Pelo seu ponto de vista, você acha que o papel das mulheres no metal/rock mudou em todos estes anos desde que você começou sua carreira? 

T: Haviam pouquíssimas de nós no metal quando entrei em uma banda, mas hoje em dia há uma cena completa de bandas de metal lideradas por mulheres. Fico super feliz por isso, é claro. Mas creio que precisamos ter coragem de mostrar que podemos fazer o que amamos. A cena do rock ainda está orientada aos homens, então é muito difícil ganhar o respeito das pessoas. Apesar disso, tenho sido muito afortunada em ter o respeito e apoio do público de metal, mesmo não tendo sido sempre fácil ser a única mulher ao redor. É bom ver que muitas começaram suas carreiras mais ou menos ao mesmo tempo que eu, e que seguem firmes e fortes.   

- O que você diria às mulheres que querem começar uma banda ou carreira solo? Há algum conselho que possa dar?  

T: Eu acreditei nos meus sonhos, então aconselho a fazerem o mesmo. Só vivemos uma vez. Mas se precisa estar segura do que quer e como proceder. Ajuda muito se for original e tiver uma personalidade que faça as pessoas lembrarem de você. A indústria da música está vivendo seus tempos mais difíceis, e não é fácil começar, nem mesmo para aqueles que já estão no meio há algum tempo, para que seu trabalho seja escutado. Quando se está no topo da montanha, é muito fácil descer rapidamente. Porém, se trabalhar duro e com o seu coração, você tem chances! Ninguém irá te descobrir em casa, então saia e mostre a eles o que você tem!