TARJA TURUNEN: “TENHO PERCORRIDO UM CAMINHO LONGO DENTRO DE MIM MESMA NOS ÚLTIMOS ANOS"
A cantora finlandesa anunciou com mais de um ano de antecedência que estará de volta às terras sul-americanas no final de 2017.
Em nosso país fará nada menos que quatro shows, com datas na Capital Federal, Córdoba, Rosario e Mar del Plata. Como esta entrevista foi respondida com o coração (pode-se notar ao lê-la), sem mais delongas, eu os convido para desfrutar de uma artista genuína que ganhou um lugar privilegiado na cena mundial, na sua segunda entrevista para nosso site sobre seus shows aqui.
1 – Como foi programada esta chegada à Argentina e America Latina e por quê ela foi anunciada com mais de um ano de antecedência?
T: Por quê não? Não vejo nenhum problema com isso, pra ser honesta. Às vezes posso fechar shows cedo, outras tenho que correr atrás dos promotores locais até os timos minutos para anunciarem as datas. Francamente, eu gosto de anunciar os shows o quanto antes para que os fãs saibam que estou chegando.
2 - Como o álbum foi recebido pelos fãs e críticos? Como ele foi recebido pelos seu seguidores? Acho que é a opinião mais importante para você.
T: Só recebi boas críticas sobre meu último trabalho, tanto dos fãs quanto da mídia. O "The Shadow Self" mostrou o meu lugar na indústria da música e também mostrou a minha identidade como artista. Me sinto feliz por poder criar música livremente sem necessidade de me explicar aos outros.
3 – The Shadow Self tem um título muito expressivo e além de ser seu sétimo álbum de estúdio, é um álbum bastante introspectivo. Como você o compôs? Que coisas te levaram a compor e o que acredita que tenha sido diferente dos primeiros álbuns?
T: Acabei escrevendo muitas músicas para o álbum. Tanto que no final lançamos dois álbuns em um período muito curto, porque eu não queria que fosse um álbum duplo. É por isso que "The Brightest Void" foi lançado apenas uns meses antes do "The Shadow Self". Minha vida e minhas experiências pessoais me inspiram a escrever histórias. Viajo muito e assim posso ver muitas coisas ao longo destas viagens e tudo isso é muito inspirador. A outra coisa que tem acontecido é que tenho percorrido um caminho longo dentro de mim mesma nos últimos anos e enfrentei as minhas próprias "sombras", por assim dizer. O Shadow Self é definitivamente um álbum muito pessoal e posso dizer que com ele eu pude abraçar o meu lado mais obscuro. Creio que todos temos nossos momentos obscuros, mas a chegar à compreensão do por quê e como, é uma viagem que nem todos estão dispostos a fazer. O álbum é um desafio musical para os ouvintes, mas também acredito que é meu álbum mais forte até o momento. Ele diz por si próprio. Os elementos dele são mais ou menos os mesmos dos meus trabalhos anteriores, só com composição e produção melhores. De todo modo estou aprendendo constantemente com a música e com as pessoas que trabalham comigo, quero seguir progredindo assim.
4- Obviamente os fãs pedem que você cante músicas do Nightwish, há algumas mais fáceis pra cantar, ou algumas que gostaria de cantar mas tem memórias ruins? Por todo o tempo que esteve no Nightwish, é fácil agradar a estes fãs?
T: Na verdade, as pessoas não me pedem para cantar músicas do Nightwish nos meus shows. Digamos que apenas algumas pessoas nos meus recitais quiseram que eu cantasse uma canção da banda, mas também estas pessoas vêm para ver o meu show, não importa se eu canto ou não músicas da banda. Tenho fãs apoiando minha carreira e música. De qualquer modo, eu posso cantar músicas da babda se eu tiver vontade, pois não tenho nenhum problema com a música que fiz com eles.
5 – Uma pergunta pessoal: Agora que você é mãe e sua filha está crescendo, a perspectiva de vida que você tinha mudou? Há coisas que você prioriza mais do que artisticamente? Por exemplo, se tem um show e algo acontece à sua filha, cancelaria o show ou manteria o profissionalismo acima de tudo?
T: Minha filha é prioridade pra mim. Ela tem me mostrado que pode lidar com a vida que lhe foi dada com uma mãe artista, porque já esteve em todo lugar comigo desde que nasceu. Ela é uma menina de 4 anos super resistente. Porém, sem meu parceiro no crime (risos), meu marido, eu não seria capaz de trabalhar como faço hoje em dia. O apoio dele é vital. Sei que ele está lá para cuidar dela se algo acontecer e eu não estiver por perto. Ela é tudo pra mim.
6- Viver na Argentina te fez ver a vida de outra maneira? Há coisas que não havia feito como habitante da Finlândia? Como sentiu sua experiência sendo argentina?
T: Minha vida na Argentina definitivamente mudou minha perspectiva de vida. A cultura abriu minha cabeça e estou verdadeiramente agradecida por isto. É mais fácil pra mim falar sobre problemas pessoais do que era antes. A coisa é que, na Finlândia, as pessoas não falam sobre seus problemas pessoais abertamente. A cultura é muito mais fria e o clima também (risos). Também os problemas da sociedade e o nível dos problemas com os quais os locais estão lidando, estão em um nível totalmente diferentes nestes dois países muito distantes. Não tem como comparar. Tenho a sorte de viver em ambos, assim posso entender as diferenças. Para mim foi um abrir de olhos ver quanta pobreza existe na Argentina e como as pessoas ainda assim podem desfrutar da vida e as pequenas coisas que ela tem a oferecer. Não é sempre que posso dizer o mesmo sobre a Finlândia e as pessoas finlandesas, porque somos acostumados a um nível diferente de qualidade de vida e padrões. A Finlândia é um país ótimo pra se viver e tenho a benção de ser finlandesa por vários motivos, mas as vezes todos devemos aprender a apreciar o que temos e estar agradecidos pela vida.
A Argentina me abriu os braços quando decidi viver lá. Me senti muito feliz, porque poderia respirar livremente e ser quem eu sou. Estou agradecida por não terem me fazer sentido como se fosse uma estrangeira num país distante. Queria muito ser parte do todo e me senti bem-vinda.
7 – Você gosta de tocar na Argentina? Que diferenças vê no público que te recebe quase como uma artista local com os outros públicos, como europeu, japonês, por exemplo. Se puder, conte como serão seus shows pela América Latina para os fãs e tenho certeza que eles irão te receber de braços abertos.
T: Eu amo tocar na Argentina!!!! E tenho certeza que não sou a única artista a dizer isto. O público argentina é o melhor do mundo, por mais que soe como um clichê. Eles cantam os solos de guitarra, os solos de teclado, pulam e mostram apaixonados seus sentimentos aos artistas. É incrível estar em frente a uma multidão argentina. Cada cultura é diferente e as pessoas que vivem em outras culturas também mostram seu afeto de maneira diferente. Alguns países são mais frios na recepção, mas não significa que não apreciam sua visita. Simplesmente não conseguem mostrar os sentimentos tão abertamente. Algumas pessoas têm muito medo de me olhar nos olhos quando estou cantando, já outros só querem me olhar no fundo dos olhos!