E: Tarja, a indústria musical mudou. Artistas hoje como você tem que tocar ao vivo. Qual seu ponto de vista sobre isso?

T: Você quer dizer, como os CDs não estão vendendo do jeito que vendiam no passado? É, é verdade. A realidade é que todo mundo está fazendo turnês hoje em dia porque nós também precisamos ganhar nossas vidas. Geralmente músicos não gostam tanto de mudar, nós amamos música, mas precisamos ter pão na mesa todos os dias pela manhã, precisamos sobreviver. E estamos vivendo tempos difíceis, é triste o que todo esse mundo digital de download ilegais teve de impacto na indústria da música. O ponto é, você não roubaria uma pintura da parede, mas você pode roubar música? Os discos não vendem mais como antes, mas temos que seguir produzindo eles para sair em turnês promovendo os discos. O trabalho é o mesmo, mas a forma [de ganhar] é diferente.

E: Como você se sente sobre o México e o que podemos esperar do seu show?

T: Eu estou tão tão feliz de estar aqui pela primeira vez e de poder ver seu país, vocês tem um país lindo! eu pude finalmente conhecer várias cidades suas pela primeira vez, e obrigada por me dar essa oportunidade, não é algo que todo artista internacional consegue fazer, eles geralmente vêm para a capital e é isso, eu estou muito feliz de ter essa oportunidade. E vocês tem me tratado muito bem, com comida ótima e um clima ótimo, nós já passamos pelo frio, pelo calor, por tudo! Está sendo fantástico!

E: E o que podemos esperar do seu show?

T: Podem esperar um show de rock. Eu vou estar apresentando meu último álbum, estou em tour com o TSS, mas claro que estarei cantando músicas de toda minha carreira, o setlist tem mais ou menos duas horas, também fazemos um setlist acústico, bem íntimo, sem instrumentos elétricos, que é bem importante para mim, porque sou cantora lírica e para mim é boa essa proximidade, poder realmente sentir as pessoas. Quando você está com uma banda de rock é claro que dá seu melhor e 100% de você, mas é muito diferente de poder cantar a capella ou...

E: Você teve que adiar o show na Cidade do México devido ao terremoto. Está acompanhando como está a reconstrução? Conseguiu falar com alguém sobre o estado da cidade? O que pensa da situação?

T: Eu tive a oportunidade de conversar com vários fãs que são de áreas bastante afetadas, há várias histórias tristes, estive falando com muitas pessoas, há muitas lágrimas... Ontem eu me encontrei com as pessoas do meu Fã Clube na Cidade do México e eles estavam muito felizes de me ver de novo, porque pensaram que eu nunca mais viria, nós tivemos muita sorte de poder adiar o show até ontem e podermos voltar, porque foi importante. É muito triste ver tudo que aconteceu, meus sentimentos eram de dúvida, eu pensei "é o momento certo de fazer um show para vocês? Será que eu deveria ir?" porque vocês estão de luto. Mas por outro lado eu pensei que poderia levar alguma alegria à vocês através da minha música. Música para mim é dar tanto amor e emoção e tudo mais, é o que precisamos na vida contra a tristeza. Música pode te dar paz. Me dá paz.

E: Muito bonito o que você acaba de dizer sobre encontrar paz através da música. Tenho certeza que muitos de nós encontramos paz na sua música ou através de sua linda voz. O que gostaríamos de saber é... você disse que gosta de tocar acústicos, ou não com uma banda, será que algum dia teremos um álbum acústico? ou alguma outra coisa diferente? tem alguma surpresa planejada nesse sentido para nós?

T: Sim, na verdade eu estarei lançando dia 17 de novembro um álbum de Natal. É meu segundo álbum de Natal, mas meu primeiro álbum de Natal internacional, meu primeiro foi feito para a Finlândia, tinha músicas muito tradicionalmente Finlandesas. Mas esse é um álbum dark de Natal, feito lindamente com orquestra sinfônica e coro e um pouquinho de programação aqui e ali. Vocês deveriam ver as fotos do álbum, é chamado From Spirits and Ghosts, é bem dark e estranho e eu usando peruca branca e tudo mais, mas... Eu gosto da ideia de dar conforto e esperança às pessoas solitárias no Natal. Porque no mundo... O Natal vem até você goste você dele ou não, essa é a realidade, mas o outro lado da moeda é que também há muitas pessoas sozinhas no Natal, e é pra eles que eu quis fazer o álbum. Um álbum que pudesse trazer alguma esperança para um futuro melhor, ou um alívio, através da música, como disse antes. É isso que quis dizer com um álbum de Natal dark. Através da escuridão, trazer felicidade. E, claro, álbuns clássicos, eu espero poder começar a trabalhar nisso novamente porque eu só realmente fiz um álbum clássico de verdade, o Ave Maria, então espero que talvez em uns dois anos eu possa fazer mais um. Mas eu ainda trabalho no rock, e é minha prioridade, e demora, já estou escrevendo novas músicas para o novo álbum e me mantendo super ocupada. 

E: Você vai estar em Monterrey em um festival que tem bandas de todos os gêneros, bem diferentes, como se sente?

T: Para mim é interessante que existam esses festivais, porque temos muitos que são segmentados, ou para o rock, ou para o metal, ou para o pop, então é legal tocar num festival onde cada artista representa seu próprio gênero. É um desafio para o público, claro, porque alguns vêm pra me ver, ou ver outra banda, mas é uma oportunidade para o artista introduzir sua música para aqueles que não a conhecem, é interessante nesse sentido. Novamente eu sou a única mulher, sou sempre a única mulher...(risos) Mas eu não sofro com isso, estou nesse negócio faz vinte anos já. Esse festival é bem legal.

E: E que bandas gostaria de assistir nesse festival?

T: EU? (risos) Nem sei quem vai tocar! (risos) eu teria que ler uma lista, eu só estou indo! Eu sempre tenho que chegar lá e ler, "ei, quem está tocando aqui essa noite? aahhh" (risos) é a realidade.

E: Como você encontra equilíbrio entre sua vida pessoal e ser artista?

T: É uma boa pergunta, porque ser uma artista internacional é um trabalho de 24 horas por dia, 7 dias por semana. E meu marido é meu empresário, então trabalhamos em casa, trabalhamos o tempo todo. Estando em casa, eu sou mãe de uma menina de cinco anos. Tem sido ótimo ter me tornado mãe, ainda é algo novo na minha vida e eu curto cada momento disso, mas ser artista e mãe é uma combinação complicada. Em casa eu sou mãe em tempo integral, mas ainda sou artista. É uma combinação dessas duas coisas, porque eu não tenho como separá-las. Quando minha filha nasceu, ela tinha quatro meses e já a levei em tour comigo, eu a levei a todos os estúdios para gravar, todas as tours, ao redor do mundo. Era perfeito. Mas aí ela fez cinco anos e ela precisa ir pra escola, então isso é diferente, e eu fico... (simboliza lágrimas). É complicado.

E: Então ela não está com você agora? como se sente sobre isso?

T: Um cu. (risos) Sinto muita falta dela!

E: Ela tem cinco anos agora, que tipo de coisas gosta de transmitir para ela?

T: Bom, agora ela está escutando Lady Gaga... (risos) Vocês tem que ver meu instagram, ela está lá batendo cabeça! Me manda mensagens como "mãe, estou com saudades!" e bate cabeça feito louca (risos). Ela tem talento pra música. Ela já está tocando piano, começou a ter aulas aos quatro anos, eu com seis, ela com quatro... Canta, dança, faz de tudo, não sei o que vai acontecer (risos) mas ela tem uma boa voz! Não puxou o lado do meu marido, graças a Deus! (risos) Mas ela é muito feliz, saudável...

E: O que tem a dizer para todos os jovens que te escutam e que se inspiram em você?

T: Bem... eu nasci com um dom, o dom de cantar, mas o dom não é o suficiente por si só. Você tem que trabalhar duro. Claro, tem que ouvir seu coração, tem que estar certo de que tem bastante certeza do que está fazendo, que está confortável com aquilo, porque no fim você é a unica pessoa que pode decidir por você. Ninguém mais. Vão ter várias pessoas te dizendo que você deveria fazer isto ou aquilo, mas no fim, é você que toma as decisões. Mas demanda trabalho. E a parte mais difícil pra mim foi encontrar as pessoas certas para trabalhar com você. Para mim, meus professores de canto... Eu ainda faço aulas de canto, preciso continuar praticando. Não é só ser a "estrela" e pronto, por trás há muito trabalho.

E: Você quer que sua filha seja cantora, como você?

T: Eu não sei. É uma decisão dela. Meus pais sempre me apoiaram e eu pude tomar a minha decisão, então a escolha é dela. Não importa o que seja, ela precisa encontrar sua paixão na vida. Que seja música, esportes, ser advogada, médica, qualquer coisa, eu estou lá pra apoia-la. Mas ela precisa encontrar isso. Eu só posso ajudar e apoiar.

E: Seu marido é Argentino e por isso você fala muito bem o Espanhol. Se atreveria a fazer um álbum só com músicas em Espanhol?

T: Eu já gravei músicas em espanhol, mas um álbum inteiro ainda não... Eu gostaria, por que não? Não é nada em que eu tenha pensando agora, mas para o futuro, por que não?

E: Quando você casou com Marcelo entrou em contato com outra cultura, sul-americana, e se mudou para cá. É uma cultura muito diferente da Finlandesa. Como foi essa adaptação?

T: Não foi nada difícil para mim. Não sei, não foi difícil. Eu comecei a viajar com o Nightwish quando tinha... eu era bem nova. E me mudei para a Alemanha para continuar estudando canto na Universidade. Então faz muitos anos que não vivo na Finlândia. Sinto falta de algumas coisas do meu país, como a comida - mas eu cozinho, eu gosto de cozinhar. Temos uma sauna em casa... Meus amigos e família ainda vivem na Finlândia, tenho saudades deles, com alguma sorte os vejo uma vez por ano... Mas não foi difícil viver na Argentina, por exemplo, vivi permanentemente lá por quase oito anos, em Buenos Aires. Me encantei pela cidade, é muito bonita. A Argentina me deu uma vida nova, onde me sentia muito bem, mais relaxada do que no meu país Natal. Sou muito conhecida no meu país Natal, então estava ficando como... Não podia mais respirar. Então eu amo muito a Argentina.

E: de toda sua carreira solo, tem alguma música, uma única música, que tenha uma conexão especial?

T: Só uma? Uma pergunta bem difícil... Tem tantas... É que são diferentes épocas da minha vida. Quando componho, são épocas, onde a vida me leva eu vou escrevendo, são muito pessoais, todos os discos são muito pessoais para mim. Mencionar uma canção só é difícil, mas ok, do meu último álbum, que eu obviamente acredito ser o melhor até agora... Love to Hate, que vocês vão escutar amanhã, é uma música que comecei a escrever em 2007, mas a deixei de lado, porque não me senti bem, faltava algo, e anos depois a terminei! isso me dá uma sensação de crescimento através dos anos, e é uma sensação ótima. Essa música tem... uma emoção muito íntima, mas também tem o lado metal meu, ambos estão ali naquela uma música.

E: Como você se sente sobre os fãs de abordando fora dos palcos? Quero dizer, nas ruas ou em qualquer lugar...Como é a sensação de ter alguém ali que te ama e você nem a conhece? O que você faz?

T: Às vezes ainda é esquisito pra mim que as pessoas chegam tipo "Oi, Tarja!" e eu "??? quem é você?" (risos) mas eu sei que essa estampa na minha testa nunca vai sumir. Sabe, eu sou uma mulher que quando eu estou em casa e vou sair pra ir no mercado eu não uso maquiagem nenhuma, e é NESSES dias que as pessoas sempre me pedem pra tirar uma foto! (risos) Sempre! Sempre nos dias que eu não estou usando maquiagem! Mas eu amo não usar maquiagem, pra mim é... sabe? Mas, claro, o ponto é, eu não me importo em nada que as pessoas falem comigo! Quer dizer, a realidade é que se eu não tivesse fãs eu não seria eu, eu não poderia estar fazendo o que amo, é isso que falo sempre nos shows, que é importante que vivam seus sonhos, porque vocês fazem os meus sonhos realidade, todo dia.