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Matias (tatuador): Eu recebi uma ligação um dia de Gabi Sisti, dizendo que Tarja chegaria à Argentina em breve e que estava muito interessada em fazer uma tatuagem em estilo trash-polka conosco.

Tarja: Oi, todo mundo! Sou Tarja Turunen. Sou finlandesa, vivi na Argentina, capital. Passei cerca de oito anos aqui, com meu marido, porque ele é argentino. Sou fã do San Lorenzo! (risos). Eu sou cantora, então volto para este país lindo várias vezes, pelo menos uma vez por ano, e agora estou terminando minha tour mundial, faz alguns dias a terminei em Buenos Aires.

Tarja: Minha amiga me contou que havia um estúdio de tatuagem muito bom aqui, que eu tinha que conhecer, e já fazia tempo que eu queria fazer uma tatuagem. Primeiro eu queria fazer na Alemanha, porque eu gosto do estilo trash-polka, me inspirou.

Matias: Conversei com ela e com seu marido, Marcelo, e me mostraram desenhos que ela gosta, do estilo trash-polka, inclusive de artistas muito muito reconhecidos, até ninguém menos do que o criador do estilo, com quem ela esteve a ponto de se tatuar.

Tarja: Vi algo diferente neste estilo de tatuagem em geral. Eu queria fazê-la lá (na Alemanha), mas meu tempo, meus horários são complicados, horríveis... Mas minha amiga me disse que se eu tivesse um dia livre deveria vir aqui, e vim, por ela, e estou super feliz!

Matias: ela olhou trabalhos nossos, de todos aqui, e ela gostou como trabalhamos, o ambiente, e decidiu se tatuar aqui. Antes de mais nada, pediu por um desenho, e eu já lhe disse previamente que não é meu estilo de especialidade, trabalho mais em full-colour, então para ser seguro decidi fazer-lhe uma pintura, para estar mais seguro na hora de tatuar. 

Tarja: Quando eu comecei a pensar o que gostaria para minha segunda tatuagem, eu falei com meu guitarrista. Ele é alemão, Alex. Alex tem suas tatuagens feitas com o tatuador que foi o inventor do trash-polka, na Alemanha, o criador do estilo. Me encantei, são muito bonitas suas tatuagens. Eu gostei da mistura do preto com o vermelho. São cores muito fortes, e eu quase sempre estou de preto com alguma coisa em vermelho, eu gosto como são fortes, como minha característica, minha imagem, que é forte. Meu canto, que é forte. Para as pessoas é algo diferente, então tenho que me vestir com cores assim. Trash-polka foi a minha inspiração.

Matias: Ela queria flores, que simbolizam a beleza, o lírico, já que ela canta música clássica, e algo que simbolize o heavy, em algo mais bagunçado, mais pesado, que é de onde vem todas as linhas e distorções por trás do desenho. Foi isso que me passou quando conversamos, por isso ela quis o estilo trash-polka. Mas ela não necessariamente queria o estilo, mas o que ele representava que poderia ser interpretado na tatuagem. Ela queria a beleza e a harmonia do lírico e da música clássica envolvidas pela turbulência e pela loucura do heavy metal. Então acabamos com esse desenho, o melhor que podíamos fazer perto do estilo trash-polka.

Tarja: as palavras "die alive" são meu estilo de vida, minha filosofia de vida. Começou com um escritor brasileiro, Paulo Coelho, que inspirou muito a minha arte, a parte de escrever letras. Foi mais ou menos a primeira coisa que o ouvi dizendo, em uma de suas entrevistas, não lembro onde, mas foi no meio de alguma coisa, "die alive", e aquilo ficou na minha memória, muito forte, porque é realmente o que eu trato de fazer. Se algo me acontece amanhã, não importa. Se acontece alguma coisa... vivi minha vida plena. Sempre busco ao positivo em cada dia. Então significa muito pra mim. Também tenho uma música com esse nome, no meu primeiro álbum como cantora solo.

Tarja: e as flores são da Finlândia. Não sei, aqui se dizem "flores de pensamento", na Finlândia são "orvokki". Temos muitas flores durante a primavera na Finlândia, e agora eu tenho algo da Finlândia sempre comigo.

Tarja: decidi me tatuar com Matias porque muitas pessoas me falaram que é o melhor tatuador para cores da Argentina, me falaram, então ok, ótimo, tenho que ver isso! (risos) Mas vi muitos trabalhos dele, seus desenhos, no instagram, e realmente é incrível o que ele faz com as cores, elas têm um aspecto incrível. Minha tatuagem só tem duas cores, mas o vermelho tem que saltar, e salta! Se vê bem forte, e é o que eu queria.

Tarja: eu pensei que ia doer muito, porque é uma tatuagem grande, e normalmente talvez se fizesse em duas sessões, mas só tinha esse dia e eu sei que Matias também não tem muito tempo, então... Eu sabia que ia ter que aguentar e aguentei, porque pra mim a dor é... Não sou masoquista, mas meu nível de dor é alto. Eu tenho uma filha, né? (risos) tenho uma filha de cinco anos, Naomi. Aguento a dor, aguento! (risos)

Tarja: aqui é um lugar grande, pra mim é um lugar grande. Eu tenho duas tatuagens agora, a primeira eu também fiz em Buenos Aires, mas era um lugar bem menor, me surpreendeu que aqui seja um lugar grande, com cafeteria e tudo, e muita gente, e tem sua história, sua característica... É muito bom.

Tarja: eu tenho uma carreira muito versátil, tenho que cantar com orquestras, tenho que cantar em Igrejas, e me cubro, sempre tenho que me cobrir, não posso ir cantar em uma Igreja vestindo qualquer coisa, por respeito, nada mais. E tudo bem. Quando eu era menina pensei que não me tatuaria, quando começou a fama de tatuagens, a moda, pensei que não teria tatuagens. Mas depois... as tatuagens desse começo não tem nada a ver com as de hoje, que são lindos desenhos, verdadeiras obras de arte, então comecei a pensar que é, talvez... E minha vida aqui na Argentina também me mudou muito, acredito. Você sempre leva experiências, de como vive, do que vê, com quem convive, onde vai, é assim. Essas experiências tem impacto no seu interior. Então minha primeira tatuagem foi um desenho feito totalmente livre na minha perna, free-style, feito diretamente na minha pele. Foi bom, é bem grande a tatuagem também, eu gostei das cores, as cores da vida, nesse sentido, para mim é o que significa. Nasceu minha filha, e eu queria fazer minha primeira tatuagem por ela, como que para sempre tê-la. Mas agora, com o passar dos anos, é diferente. Me sinto diferente, já.

Tarja: E nem me doeu tanto!! Matias me disse que ele acha que agora eu posso fazer todo o braço! (risos) Bom... Não vou dizer pra vocês que não, que nunca faria mais tatuagens... Nunca digo (risos).

Tarja: no último ano saiu meu disco, The Shadow Self, com o qual estou em tour mundialmente. Já fizemos vários shows, está quase acabando, mas ano que vêm tem um pouco mais. Faltam alguns países. Mas além da carreira de rock tenho a carreira clássica, tenho vários shows agora no fim do ano até o Natal. Quando for embora não vou ter nenhum dia livre até dia 22 de Dezembro, mas tudo bem! Eu realmente gosto muito do meu trabalho. Sinto que sou muito privilegiada de poder fazer música hoje em dia, porque música é arte e posso me sentir livre com a minha arte. Feliz com a minha arte, mais que tudo. Recentemente saiu meu disco de Natal, mas é um disco diferente, tem que escutá-lo, porque se conhece as músicas o estilo é bem diferente, soa como uma trilha sonora.  

Tarja: eu vivo com meu empresário, é meu amor, e trabalha comigo. Então trabalhamos muito em casa, e sim, pode ser complicado quando a menina está em volta e toda a bagunça, mas... Não é a combinação mais fácil, ser mãe e ser uma artista que toca por todo o mundo, mas é o que amo. É a minha vida.

Mati: Sendo sincero sobre o tema, Tarja obviamente queria se tatuar com o criador na Alemanha, no Buena Vista Tattoo, mas ele não tinha datas, imagine que é o criador do trash-polka, tem muito trabalho, então eu fui a segunda opção. E a responsabilidade foi grande. O bom deste caso é que ela deixou que eu misturasse o clássico do trash-polka com algo do meu estilo. O trash-polka não é um estilo tão fechado como o oriental ou o tradicional, que tem que respeitar, com ele você pode brincar um pouco com a linha e demonstrar com a arte a mão de cada tatuador e de cada artista, esse é o bom do estilo. E você pode colocar muitas coisas, mas o que decidimos no fim foi que menos é mais, ela utiliza muito essa frase, e na tatuagem se vê. Nesse estilo, adicionar coisas demais pode prejudicar o desenho, e às vezes o mais simples é melhor.

Tarja: lhes digo que estou muito contente, estou quase... Chorar eu já chorei lá em cima, ninguém me viu, mas... (risos) estou muito feliz, agradeço muito pela oportunidade e é isso.