E: estamos aqui hoje com Tarja Turunen na minha cidade natal, Vaasa. Seja bem-vinda, Tarja.
T: Obrigada, obrigada. É fantástico estar aqui. Não está nem tão frio aqui em Vaasa hoje. Ótimo! Vai ser um ótimo show essa noite.
E: Você está trabalhando com a produção do Raskasta Joulua agora, pode nos contar como isso aconteceu, em primeiro lugar?
T: Bem, eu fui convidada e fiquei muito feliz. Essa produção tem uma longa tradição, eles fazem essa tour faz muitos anos e cresceram em muitos sentidos. Foi maravilhoso ser convidada. A produção deles entrou em contato com meu empresário e eu disse de cara que "claro, se pudermos combinar nossas agendas", e eu consegui ser parte de quatro shows, por causa de meus próprios concertos. Para o primeiro eu voei direto da República Tcheca para a passagem de som! Foi totalmente... (rindo).
E: Então você estava nervosa?
T: Totalmente! Mas se não estivesse tudo certo eu não estaria lá. Me diverti muito. É maravilhoso estar junto com todas esses caras e meninas de novo. Foi muito divertido cantar com Elize e também com Marco.
E: Bom, já que você mencionou Marco, faz o que, desde 2005 que vocês não cantavam juntos? Quais os sentimentos dessa reunião? Quando eu estava falando com Marco sobre o livro dele ele mencionou que estava muito ansioso para te ver de novo depois de tanto tempo.
T: Ele veio bater na minha porta, e nos abraçamos por um longo tempo. Dalí começamos. Nós terminamos esses shows com o dueto de Ave Maria e há muitas emoções atreladas a ele. O público reage a nós também de cidade em cidade... têm sido momentos maravilhosos e ótimos.
E: Então você está grata de ver Marco aqui também, e talvez tenham tido mais chances de conversar um pouco mais...
T: Sim, sim, absolutamente, e isso não tem nada a ver com o Nightwish. Nós só estamos aqui para fazer música linda juntos. Claro, estivemos na mesma banda, mas...
E: Vocês são só pessoas comuns um para o outro.
T: Exato, e falamos da vida, de como estamos, essas coisas... Tem sido divertido.
E: Natal é um tema importante para você, você se apresentou muitas vezes em Igrejas, e também lançou um álbum de Natal agora em Novembro.
T: Sim, na verdade foi meu segundo álbum de Natal. O primeiro foi lançado só na Finlândia, faz dez anos já. Esse segundo é mais internacional, um outro tipo de álbum de Natal, mais escuro, From Spirits and Ghosts... O Natal é importante para mim, mas a ideia desse segundo álbum veio do fato de que o Natal vem para todos nós, gostemos dele ou não. Muitas pessoas estão sozinhas durante o Natal, muitas estão deprimidas e sofrem com a solidão. Ninguém devia passar por isso sozinho. Seria ótimo se todos tivessem alguém, algum amigo sempre para passar o tempo. O Natal é uma época difícil para muitos. Todos nós perdemos pessoas importantes e queridas a nós. Então esse álbum é sobre isso. Eu escrevi uma música, "Together", "nós devemos estar juntos", que é sobre tudo isso e o motivo talvez de que o tema seja um pouco mais sombrio nesse álbum. Mas isso não significa necessariamente que o álbum seja sombrio, a música é realmente bonita, mas os temas em geral são mais sombrios. Na Finlândia nós estamos acostumados a um Natal mais tranquilo, nós esperamos pela neve e é uma celebração com a família. Claro que é um feriado de família ao redor do mundo, mas nós comemoramos com silêncio e paz, enquanto em outros lugares é mais barulhento, com "jingle bells" e o estilo americano.
E: Sim, nós não temos isso muito.
T: Sim, e talvez esse aspecto Finlandês esteja destacado no álbum, então há Natais bem diferentes de um país para outro.
E: Quão difícil foi fazer essas músicas de Natal tradicionais de maneira nova, mas sem que se perdessem seus elementos? Porque as pessoas têm uma ideia do que essas músicas deveriam ser, classicamente. Imagino que seja difícil faze-las soar diferentes e ainda assim honrando suas versões originais.
T: É verdade. Minha ideia base de produção deste álbum era que eu queria uma orquestra sinfônica, um coro e minha voz. E talvez alguma coisa eletrônica. Eu queria que o álbum tivesse uma aura de intensa de trilha sonora. Eu trabalhei com Jim Dooley, um criador de trilhas sonoras em Los Angeles, trabalho com ele faz mais de dez anos, ele faz todas as orquestrações em meus álbuns de rock, ele é muito talentoso. Mas é super desafiador ainda assim fazer algo como, por exemplo, Deck the Halls, uma música inteiramente em escala maior e com harmonias de vozes de crianças... transformar isso em algo assustador, meio Danny Elfman... Mas colocar minha cabeça nos feriados ajudou. Ainda que milhares de artistas tenham feito covers dessas músicas eu ainda acredito que, ouvindo o álbum agora, que eu consegui me livrar dos padrões que todas essas músicas têm. Claro que a melodia é a mesma... Bom, Deck the Halls agora está numa escala menor, mas... (risos) é a mesma [melodia], mas minha voz está mais melancólica e mais sombria, e isso de cara categoriza o álbum diferentemente. Não foi tão difícil, ainda que eu tenha gravado no Caribe, com o sol e o mar e tudo mais.
E: Um lugar bem sombrio!
T: (risos) é, definitivamente não. Mas quando coloquei os fones fui imediatamente levada para a atmosfera certa, a orquestra me carregou para longe.
E: Você fez uma versão de caridade da música Feliz Navidad, e há nela um grupo enorme de artistas convidados. Foi difícil conseguir que eles participassem?
T: Não foi nada difícil. Eu queria os artistas que estão na música hoje. São meus amigos de muitos anos. Como Joe Lynn Turner que também se apresenta aqui hoje a noite, nós nos conhecemos faz muitos muitos anos. Músicos conhecem outros músicos, "roda, roda", é como é. Também há artistas finlandeses, assim como internacionais. Ainda é um grupo pequeno.
E: Geralmente o mais difícil é fazer todas as agendas combinarem.
T: Sim, essa foi realmente a parte mais difícil! Nós tivemos que esperar pelos arquivos, ainda que todo mundo tenha respondido "vou fazer, vou fazer, mas estou em tour e vou ter uma brecha de seis horas pra fazer isso no estúdio mais próximo e..." e coisas do tipo. Foi desafiador, mas todos fizeram seu melhor. Todos deram seu máximo para gravar suas pequenas partes da música aqui e ali, foi realmente espetacular que todos tenham se juntado para esse projeto de caridade para a Ilha de Barbuda no caribe. O Furacão Irma... Eu tenha vivido no Caribe já faz alguns anos, nós passamos por três furacões categoria 5, que foram muito perto e acima... A devastação é realmente chocante.
E: Finlandeses não podem realmente entender, nós assistimos aos vídeos, mas não é o mesmo de estar lá vendo isso.
T: Nós vivemos numa ilha chamada Antigua, e sua ilha irmã é Barbuda, ao lado. Havia 1500 pessoas vivendo na ilha, já que é bem pequena, e completamente plana. Irma veio, e ninguém mais vive lá. Nada, nenhum ser vivo. Completamente catastrófico. Todas as lágrimas, o luto, a tristeza... então este álbum me fez pensar em que tipo de Natal essas pessoas iam ter esse ano.
E: Imagino que não possa ser pior.
T: É. Então decidi fazer essa música, e todo o dinheiro... Encorajei as pessoas a comprá-la, baixá-la, porque todo centavo vai para lá. Sem intermediários.
E: Você sabe quanto foi arrecadado até agora?
T: Ainda não sei, não posso informar por enquanto, mas eu espero que... espero que eu possa ajudar pelo menos uma pessoa, já é alguma coisa. Todos nós podemos fazer algo bom.
E: É verdade. Bem, com seu novo álbum de Natal aqui, quais os planos para o futuro? O que você vai fazer ano que vem?
T: Um pouco de tudo. Começo a compor um novo álbum de rock ano que vem, no começo do ano. Vou ter minha primeira pausa em um longo período, sinto que meu corpo precisa dela. Eu fiz 2017 inteiro em tour com o álbum de rock e também com concertos clássicos, ambos os lados, mas correndo o tempo todo, e agora sinto que que quero escrever música, e farei isso no começo do ano. Os shows de rock começam na China via Europa e Rússia, e vão até a América do Sul na primavera. A Finlândia estará em um festival de verão, yey! Vocês me verão na Finlândia o que é maravilhoso. Mas ano que vem vai ser mais tranquilo, tem um novo DVD ao vivo que foi gravado em Milão, Itália, pra ser lançado também. Um pouco disso, um pouco daquilo...
E: Então um álbum de rock e shows... Você mencionou um show na Finlândia, por que não te vemos em mais festivais aqui?
T: Talvez eu tenha sido banida da Finlândia, é a minha opinião... (risos)
E: Mas não há conflitos de agenda nem nada?
T: Não há conflitos de agenda. Eu só não tive a chance. É o fato. Graças a deus eu tenho vários shows em outros países. Eu tenho uma carreira e tenho uma vida como artista nos últimos dez anos, mas na Finlândia... as pessoas mal sabem qual minha situação é. Mas tudo bem. Todo cão tem seu dia.
E: Você foi jurada do The Voice, que te deu destaque novamente... essas coisas ajudam.
T: O ditado diz que nenhum profeta é aceito em seu próprio país, certo? (risos)
E: Sim! e dizem que para bandas de rock na Finlândia primeiro você tem que explodir em outros lugares para depois os Finlandeses se ligarem e perceberem que a banda é boa. Quando as casas estão cheias no exterior, aí os Finlandeses começam a ir nos shows aqui também... Então talvez nós tenhamos uma abordagem lenta à novos artistas.
T: Talvez você esteja certo. Mas outras notícias chegam às manchetes. "Tarja levou disco de ouro na Alemanha e Rússia"? ninguém vê isso. É mais interessante "Tarja tem uma nova tatuagem", é como é.
E: É lamentável o efeito da mídia nesse sentido hoje em dia, o que interessa menos acaba...
T: Sim, mas eu não estou reclamando de maneira alguma de nada disso (risos). É maravilhoso poder tocar na Finlândia de novo. Quando estou aqui, dou meu melhor. Há fãs incríveis aqui, pessoas que me apoiam e me mandam muitos comentários, tudo isso ainda é forte, esses fãs ainda estão aqui. Eu amo isso.
E: Muito obrigada por seu tempo e boa sorte com o último show esta noite. Você quer dizer algo para os fãs que vão assistir isso daqui uns dias?
T: Quero dizer... Quando isso vai ser publicado?
E: O mais rápido possível.
T: Ótimo! Quero desejar a todos vocês um Natal tranquilo e um Ano Novo melhor ainda. Nos vemos nos meus shows ano que vem, vamos nos divertir! Se cuidem, amo vocês!