Tarja: Oi?

Entrevistador: Oi, Tarja!

T: Oi, Patrick! Tudo bem?

E: Tudo bem, obrigada. E você? Como está a família?

T: Eu estou muito bem. Minha filha está na escola nesse momento, então está bem pacífico aqui (risos).

E: E vocês estão na Argentina agora?

T: Não, não estamos mais vivendo lá, na verdade. Nos mudamos uns dois anos atrás, queríamos encontrar alguma paz em nossas vidas... Buenos Aires acabou se tornando um lugar pesado para estarmos, então acabamos mudando para o Caribe.

E: Ah sim, eu li algo sobre você falar de alguma tempestade...

T: Sim, isso foi terrível... Passamos alguns momentos de nervosismo, mas felizmente na nossa Ilha nada de muito ruim aconteceu, mas na Ilha vizinha os danos foram grandes.

E: Nós nos falamos alguns anos atrás por telefone e você mencionou algo sobre, se algum dia saísse da Argentina, considerar a Suíça pra viver...

T: (Risos) É! Na verdade meu marido, o sonho dele por muito tempo já era morar na Suíça, e nós amamos aí, realmente. Seria tranquilo também, nesse sentido, vocês têm cidades e tudo, mas é tranquilo, sem muito caos...

E: E um clima um pouco mais tranquilo...

T: (risos) pelo menos não tem furacões.

E: Entrando em outro assunto, o que significa o Natal para você?

T: Ah sim, eu tenho outro álbum de Natal. Tenho um outro que foi lançado mais ou menos dez anos atrás, é um álbum finlandês, foi lançado praticamente só lá, com músicas quase todas finlandesas. E todos esses anos eu estive fazendo tours de Natal, acho que até na Suíça, se não me engano, e eu sempre estou em tour, ano após ano, então acabou se tornando um tipo de tradição para mim cantar músicas mais calmas no fim do ano, não importa que tipo de ano eu tive, se passei produzindo álbuns de rock, ou em tour, ou... é sempre bom conseguir fazer isso, mesmo que trabalhando em outras coisas, no fim do ano estar com orquestra, coro, eu sempre gosto disso, relaxar um pouco... O Natal é uma festa de família, sempre foi uma festa de família para mim, e ele vem até você goste você ou não, seja você religioso ou não, mas tem diferentes significados para todo mundo, e pra mim... Sabe, eu tenho memórias ótimas da minha infância no Natal, com a minha família, mas depois que minha mãe faleceu, isso em 2003, eu comecei a sentir que não havia mais Natal para mim, não como antes. Esse álbum apresenta esses sentimentos para mim, esse lado mais escuro que ocorre para muitos de nós. Todos nós perdemos pessoas queridas, e parece que essas pessoas se aproximam de nós quando é Natal, porque é uma festa familiar... E quando você pensa nas pessoas que estão solitárias, passando o Natal sozinhas, e não é necessariamente a escolha delas estar sozinhas, é... Há muitos suicídios. Há tanta felicidade em todo lugar que algumas pessoas não conseguem suportá-la. Aconteceu comigo, eu não conseguia me sentir feliz depois que minha mãe partiu, eu fiquei presa naquele sentimento. E depois que eu me tornei mãe cinco anos atrás eu comecei a sentir essa felicidade voltar, comecei a ver a celebração através da minha filha, de como ela se anima com essa festa de família, é maravilhoso ver isso de novo, então eu comecei a sentir essa felicidade de novo. Então meu álbum representa esse lado mais escuro do Natal, ainda que tenha sido feito de forma muito bonita, a música é linda, as imagens, as fotos, os vídeos... é tudo mais escuro, mas ainda bonito. Mas até a minha música, Together, quando eu comecei a trabalhar no álbum eu pensei que realmente queria escrever uma música eu mesma. É legal cantar covers, mas eu queria ver se conseguia fazer uma música de Natal eu mesma... Obviamente não é uma música de Natal tradicional, é bem diferente na composição, um pouquinho mais complicada na melodia, mas... É uma história sobre essas pessas solitárias. Essa música tem todo o conceito dentro de si, o conceito do álbum. Eu queria trazer alguma esperança para todas essas pessoas com esse álbum.

E: Eu tive a sorte de escutar o álbum em uma pre-listening, e eu o amo. É incrível, e quando eu li o que você disse sobre ser um Natal mais obscuro... Tenho que ser honesto, é tão bonito, os arranjos, sua voz, para mim ele é mais brilhante.

T: Nesse sentido é com isso que eu sempre brinco, mesmo nos meus outros trabalhos, na vida sempre há  lados positivos e negativos, e o bom e o ruim, tudo na vida tem dois lados, as sombras e as luzes, é nisso que sempre trabalho, um lembrete de como as coisas são... Não são tão preto e branco, sabe? Você sempre precisa olhar um pouco adiante para descobrir as coisas realmente, mesmo para conhecer as pessoas... Então é por isso que eu queria brincar com esse conceito com os dois lados, mas sim, algumas músicas também como Deck the Halls a gente fez em uma escala menor...

E: Geralmente as músicas de Natal são felizes, deve ter sido difícil fazer aquilo...

T: Mas sabe, quando eu estava escolhendo as músicas para esse álbum, porque eu sabia que estaria trabalhando com o Jim Dooley, que fez todos os arranjos orquestrais dos meus álbuns de rock em carreira solo, eu sabia que ele era muito talentoso, e é o que ele faz, trilhas pra filmes, trilhas para televisão, é o que ele faz, jogar com essas emoções, então eu sabia que se eu desse uma música para ele transformar em algo mais escuro ele poderia fazer a trilha mais bonita de todos os tempos, sabe? Foi um grande desafio que ele acolheu e adorou e eu adoraria trabalhar futuramente com ele em uma trilha mesmo ou algo assim, porque foi muito fácil trabalhar com ele. Éramos só nós dois, eu, ele, e Tim Palmer mixando é era isso, então nesse sentido a produção desse álbum foi bem fácil, começamos no começo do ano e já tínhamos terminado no verão, não que tenhamos passado todo esse tempo trabalhando nele, mas eles são super talentosos.

E: Sim, dá pra ouvir que é como uma trilha sonora de Natal. E creio que também para aqueles que talvez não estejam familiarizados com a sua música esse álbum seja mais fácil de digerir, eu amo o álbum finlandês também, mas...

T: Sim, é mais fácil, e músicas internacionais que as pessoas podem conhecer... E há muitas semelhanças entre o rock e o metal e a música mais clássica, ainda que sejam estilos bem diferentes, mas eu sempre estive no meio, encontrando os pontos em comum, e tendo a carreira versátil que eu tenho, nunca encontrei problemas nisso de trabalhar simultaneamente nos dois. Há emoções envolvidas nos dois, obviamente. Quando uma orquestra sinfônica toca alto pode ser bem mais pesado do que uma banda jamais consegue. O lado bombástico da orquestra, quando você ouve os arranjos, como em O Tannenbaum...

E: Que é em Alemão!

T: Sim! é em alemão! Você gostou? entendeu alguma coisa que eu disse? (risos)

E: claro, sim! foi perfeita.

T: Eu estava trabalhando com meu engenheiro de som, um bom amigo meu, alemão, Torsten Stenzel, e ele começou a rir no meio da gravação "Tarja, você está falando exatamente como uma velha alemã! Ninguém mais fala com a pronúncia assim perfeita na Alemanha, tenho que te parabenizar!" (risos)

E: Mas você estudou alemão, certo?

T: Sim, sim, eu estudei por vários anos, mesmo antes de ir para a Alemanha, então tenho algum conhecimento da língua ainda.

E: Mas você estava falando dos arranjos de O Tannebaum, com a orquestra...

T: Sim... Você pensa naquele arranjo e você não pensa naquele arranjo tradicionalmente para aquela música originalmente...

E: Quando eu era criança era minha música favorita de Natal, então é muito bom ouvi-la daquele jeito! Amo ela mais ainda agora. Mas eu concordo com você, o lado mais pesado do heavy metal, por exemplo, pegando Master of puppets do Metallica, não é tão diferente do lado bombástico de uma orquestra, ou do poder da música sinfônica em si.

T: Exato, exato.

E: Eu perguntei por algumas questões para os membros do Winter Storm Suíça, e queria fazer algumas para você. A primeira é: onde você vai passar o Natal?

T: Esse ano depende de tanta coisa! Primeiramente porque meu último show é dia 21 de Dezembro, na Ucrânia, depois disso voamos ou para a Espanha ou para o Caribe, são as duas possibilidades, não compramos nem as passagens ainda, não sabemos, depende de como as coisas acontecerem nesse mês. Mas passarei com a minha família, certamente.

E: eu vi que no seu site tem os shows na Ucrânia e República Tcheca para o Natal, vão ter mais shows sendo adicionados? Mais países, talvez a Suíça?

T: Esse ano eu não vou ter tempo para fazer mais concertos de Natal, porque eu tenho os shows de Rock até o fim de Novembro na América do Sul, ainda mais alguns concertos clássicos por lá com orquestra, depois imediatamente meus três shows na República Tcheca - adicionamos mais um show ontem porque eles já estavam esgotados, na verdade - e depois eu estarei participando de um projeto finlandês, uma tour em arenas, chamado Raskasta Joulua, são shows de Natal pesados com diferentes vocalistas de metal Finlandeses em sua maioria. Eles me convidaram para participar de quatro shows esse ano, e por exemplo... Marco Hietala estará lá, do Nightwish, cantará comigo, no mesmo palco, teremos um dueto! E depois disso tenho o show na Ucrânia, então eu não tenho tempo esse ano para fazer mais shows de Natal, mas o Natal acontece todo ano, e com alguma sorte eu cantarei até o fim da minha vida, então é possível que vocês me vejam com esse álbum em algum outro ano, porque nesse sentido ele é atemporal, então eu posso me apresentar com ele sempre...

E: Eu posso ter lido mais do que há nessa situação, mas já que você mencionou seu dueto com o Marco, como um fã do antigo Nightwish, eu tenho que perguntar... Há novidades sobre isso? Quero dizer, você cantará com ele, mas e Tuomas? Algum plano para uma reunião?

T: Não, não, não há planos para nada disso... E não estamos em contato. Nem com Marco, estamos agora porque cantamos a música juntos, então agora estamos em contato, mas não com o resto dos meninos. Esse é um primeiro passo, eu vou ver como ele está, e se está melhor do que era antigamente... Vou saber como ele está, como as coisas estão, mas estou animada com essa situação, feliz de... E é outro tipo de projeto, nos vamos cantar uma Ave Maria, na verdade, dá pra acreditar? Depois de todos esses anos (risos)...

E: Acho que eu preciso voar para a Finlândia.

T: É, acho que várias pessoas estão descobrindo sobre isso e dizendo que precisam ir (risos).

E: Vou precisar conferir as datas!

T: Escolha os shows em que eu estou! (risos)

E: Nosso tempo está quase acabando, mas uma última pergunta. Quando você está nos seus shows e está bebendo de um copo... O que de verdade tem ali?

T: Ah, sim! Eu brinco com as pessoas e tenho que dizer "ei, isso não é vodka" (risos) e não é vodka, é água com limão e gengibre, água até quente, eu moo um pouco de gengibre nela e coloco um pouco de limão, porque é bom pra minha garganta, eu realmente sinto que... ao invés de beber chá, ou de só beber água, é um bom antioxidante e mantém minhas cordas vocais úmidas, me ajuda a cantar melhor, especialmente em ambientes muito secos ou em altas altitudes ou coisas assim.

E: Eu lembro bem que... Faz quase dez anos que você começou sua carreira solo, e eu fui um dos sortudos que pode jantar com você nos primeiros shows da Suíça, e naquela ocasião você mencionou que não come muita carne, também por causa da sua voz, e brincamos que então deve ser difícil viver na Argentina...

T: Uau! Sim, como eu sobreviveria? bem, eu comecei a comer carne na Argentina! Mas algo como uma vez por semana. Eu não sou vegetariana nem nada, mas é uma refeição pesada, e eu não como muito de qualquer modo, mas é delicioso, tenho que dizer... Sem problemas ser vegetariano ou vegano ou qualquer coisa, mas pra mim é a minha coisa que eu fico como "ai meu deus", a primeira vez que eu provei uma boa carne argentina eu disse "nossa, é como comer doce!", é muito boa!

E: Verdade. Bem, eu adoraria falar com você por horas, mas imagino que você tenha outras entrevistas, então...

T: Sim, são dias pesados de divulgação, e amanhã de manhã eu voo para a Bolívia...

E: Bom, quero te desejar tudo de bom, amei seu novo álbum, e se você quiser deixar alguma mensagem para seus fãs suíços aqui...

T: Sim, quero agradecer por estarem aí para mim por tantos anos, já faz vinte anos, estou comemorando a vida e a música com vocês, é realmente inacreditável sentir esse amor e apoio, eu realmente sou muito grata por isso. E sempre gosto de lembrar vocês de viver seus sonhos, como vocês fazem os meus.

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* Entrevista realizada em 18 de Outubro de 2017.