E: Da última vez que os falamos, em 2015, você estava ocupada trabalhando em música nova. Me parece que você continuou bem ocupada nos últimos anos. Às vezes achar inspiração criativa pode ser um desafio, mas tendo dito isso, acho que é seguro dizer que a sua criatividade tem fluído bastante nos últimos anos, certo?

T: Você pode dizer isso! (risos). Me sinto muito feliz com onde minha vida está no momento e onde a música me levou artisticamente. Me sinto bem e confortável com a minha arte. Tem sido absolutamente maravilhoso me expressar com a minha arte nesses últimos anos e ser feliz com isso. Me sinto produtiva. É por isso que saiu o álbum de rock ano passado, o de Natal esse ano, e ano que vem teremos o ACT II.

Tem muita coisa acontecendo na música clássica e no rock, mas é como eu sou. Algumas pessoas me dizem que eu sou a maior viciada em trabalho que eles conhecem, e é meio verdade, mas eu realmente gosto de onde eu estou e do que eu faço. Me sinto privilegiada de poder viver de música hoje. Nós vivemos tempos difíceis na indústria da música. Ainda me sinto muito feliz de estar aqui e fazer o que eu amo. Sou muito abençoada.

E: É maravilhoso poder trabalhar com o que se ama. Você gravou seu primeiro álbum de Natal esse ano, o que lhe inspirou?

T: Algumas pessoas me perguntaram "você é uma pessoa natalina?" - o Natal é algo que vem pra nós se nós gostemos dele ou não, ela chega pra todos nós. Como eu estou já há alguns anos com o tema de dois lados das coisas, dos contrastes das luzes e das sombras... Há também esse contraste no Natal. O Natal é visto como uma celebração feliz de famílias. Tem muito "jingle bells" e músicas felizes em todo lugar. Você pode ouvir principalmente só música feliz de Natal em todo lugar que vá em dezembro. Tendo dito isso, também há muitas pessoas solitárias durante o Natal, isso é um fato. Tem pessoas que nós perdemos - eu mesma perdi minha mãe em 2003. Depois disso, o Natal meio que perdeu o sentido para mim. Eu me peguei não celebrando o Natal pr muitos anos, até que recentemente me tornei mãe eu mesma. Agora que vejo a felicidade da minha filha todo Natal, meio que começo a me animar com a data eu mesma.

Se eu comecei a pensar nesse álbum desse jeito, com essa pegada cinemática, foi por causa dessas pessoas solitárias. Eu pensei que a música me deu esperanças, boa energia e alívio durante momentos difíceis da minha vida, então com certeza poderia dar para outras pessoas. Esse álbum é para essas pessoas. Quando você olha para a tracklist você pode pensar "meu deus, ela vai cantar we wish you a merry xmas ou have yourself a little merry xmas?" que são músicas que todo mundo já cantou, mas tente ouvi-las. Tentei fazê-las de uma maneira diferente. Elas foram feitas com orquestra, coro, instrumentos de percussão, e minha voz. Nesse sentido foi uma produção fácil para mim.

E: O álbum realmente tem um som diferente. Se inclina mais para a música clássica e tradicional de Natal do que para as felizes de hoje. O tom é mais sombrio, e essas músicas são bem atemporais. Como foi gravá-las?

T: Nunca me ocorreu enquanto eu as gravava... Eu tenho feito tours de Natal desde 2005, com shows em teatros e igrejas. As pessoas têm me visto na Europa, especialmente na Finlândia, mas também em outros países com orquestras e diferentes projetos. Estou muito acostumada a cantar músicas de Natal no fim do ano. Até meus fãs de rock e metal tem me seguido para esses shows. Virou uma espécie de tradição para eles me verem nesse ambiente.

Quando eu estava gravando essas músicas eu nunca me deixei pensar que vários artistas já tinham feito isso, ou como eu deveria fazer, como deveria ser meu jeito - era muito claro desde o início para mim, desde quando eu tinha trabalhado nos arranjos com Jim Dooley, o compositor de trilhas sonoras em Los Angeles. Eu estava só conversando com ele e nós realmente conversamos muito sobre os arranjos. Conversamos como eles deveriam ser feitos de uma forma mais sombria, mas ainda bela, como uma trilha sonora. Eu sou uma grande fã de trilhas sonoras, trilhas de filmes, e filmes em geral. Essa foi com certeza uma inspiração para esse álbum. Foi um jeito diferente de se aproximar do tema, que é o que eu queria, e foi o que consegui.

E: É muito bom ouvir isso, o álbum realmente tem uma sensação bem cinemática.

T: Estou muito feliz com o trabalho do Jim Dooley. Ele fez um trabalho maravilhoso com a orquestra e o coro. Era exatamente o que eu queria com a pegada cinematográfica do álbum.

E: Soa muito bonito, realmente. Na tracklist nós temos também uma música original, Together. Como foi escreve-la?

T: Quando eu tinha finalmente decidido todas as músicas para esse álbum eu disse para mim mesma "droga, eu preciso escrever uma música de Natal eu mesma". Eu não podia fazer um álbum só de cover e pronto, eu queria fazer uma música de Natal eu mesma.

Claro que minha música de Natal não é nada como as músicas tradicionais natalinas que vêm a mente (risos). É uma música sinfônica, mais sombria, mas com uma escuridão bonita, uma escuridão que acende dentro de mim. Essa música costura todo o conceito do álbum, de pessoas solitárias. Ela fala dessas pessoas que talvez queiram estar com alguém no fim do ano e não necessariamente podem. Espero que essas pessoas ouvindo possam achar alguma paz, onde quer que estejam.

E: Música tem esse poder, pode te fazer se sentir melhor quando você está triste ou com raiva.

T: Exatamente. Para mim a música é isso desde que eu era criança. Eu sofri bullying na escola e música era a única coisa que me fazia me sentir bem em ir para a escola. Sempre foi assim. E ainda é hoje!

E: Muitas pessoas se sentem assim. Esse álbum também tem uma história em quadrinhos lançada em conjunto com ele...

T: Sim, é a primeira vez que faço algo desse tipo. A ideia em si veio da gravadora, eles me falaram e eu me apaixonei por ela imediatamente, porque, novamente, eu nunca tinha feito algo assim. Eles me apresentaram a vários artistas e eu escolhi meu favorito. Conor Boyle é um artista cujas artes me tocaram, elas eram mais emocionais. Elas não eram particularmente como desenhos, mas mais emocionais, misteriosas, e me conquistaram.

A história é baseada na minha música Together, simplesmente. É uma história curta feita com lindas imagens. Foi algo muito legal a se fazer e adicionar ao álbum. É algo que você realmente pode pegar nas mãos e ver.

E: As pessoas vão amar. Falando de visuais, as suas performances ao vivo são uma parte importante do que você faz. Mas faz tempo que você não visita a américa do norte. Há possibilidades do seu retorno em breve?

T: Eu estou super feliz porque finalmente posso responder que sim! Estou indo! Finalmente estou indo! Sim, tem sido bem difícil. Mas tem um show confirmado no ProgPower USA em setembro de 2018 e nós estamos tentando marcar mais shows em volta desse. Estou torcendo para podermos ter vários shows nos Estados Unidos ano que vem, em torno do Outono, mais ou menos em setembro. Sinto saudades dos meus fãs de lá, e sei que tenho apoio, com meu fã clube de lá que é maravilhoso. Essas pessoas são realmente pacientes e estão me apoiando faz muitos anos. É incrível.

E: Vai ser ótimo te der de novo nos EUA, já faz tempo. Você mencionou o apoio forte de seus fãs. Já faz uma década desde que você saiu do Nightwish, mas ainda assim os fãs ainda falam de quanto você significou para a banda. Como você se sente que depois de todo esse tempo as pessoas ainda falem de seu tempo com o nightwish?

T: [O nightwish] Foi, é, e sempre será parte importante da minha vida e da história da música. Sério, me deu as asas para ser a artista solo que eu sou depois de tantos anos. Eu estou como solista há mais tempo do que estive na banda, mas eu sou um dos membros originais. Não sei onde a banda estaria sem a minha participação, eu estava lá quando tudo começou e nós alcançamos grande sucesso durante os nove anos que passei lá. Eu entendo que as pessoas ainda se refiram a esses anos. Eu ainda recebo muito amor e apoio e mensagens sobre isso. A música era bela, e ainda é. Essa é a parte que nunca desaparece, essa é a parte que sempre estará lá. Isso é que é incrível.

E: Sim, e é um testamento a sua importância para a banda que as pessoas ainda falem disso uma década depois. Mas nesse ponto da sua carreira, você faz muitos shows e muitas coisas. Você também é mãe, o que pode ser um trabalho grande por si só. Qual a receita para equilibrar a música e a família?

T: Bem, é que eu tenho uma família incrível. Meu marido me apoia o tempo todo. Ele é meu empresário e nós conseguimos combinar nosso amor e nossos negócios por dezessete anos. Não é como se eu tivesse conhecido ele ontem (risos). Nós também criamos uma linda criatura, uma menininha de cinco anos. Ela esteve comigo, desde que nasceu eu a levei nas tours, até que ela fez quatro anos. Ela esteve em todos os estúdios de gravação comigo, vendo a mãe cantar. Ela esteve em todos os cantos do mundo comigo, então o mundo é sua casa, poderíamos dizer.

Ela tem a cabeça bem aberta e hoje ela vai à escola enquanto eu vou para as turnês sozinhas. É uma grande mudança em nossas vidas, e sim, é difícil ser artista e mãe. Eu realmente fui bem abençoada de ter pessoas que me entendem como pessoa e entendem minha arte, porque de outro modo eu sofreria demais. Se eu saísse de casa desesperada para voltar, seria difícil demais na minha arte e para mim pessoalmente. Então não sofremos. Sentimos saudades. É por isso que minhas tours são mais curtas agora, não faço meses e meses seguidos. Faço algumas semanas e depois volto para casa porque quero passar algum tempo com a minha família.

E: É ótimo que você tenha esse equilíbrio e que sua filha possa dividir isso com você.

T: Sim, ela me viu em todo lugar! (risos) você deve ir ver minha conta no instagram, ela é a melhor headbanger! (risos)

E: Que legal. Ela mostra algum interesse em cantar?

T: Sim. Ela está numa escola de teatro. Ela vai uma vez por semana, então ela canta, toca piano, dança. Alguns dias atrás ela disse para mim "mamãe, eu quero subir nos palcos já", eu perguntei "como assim? o que você quer dizer?" e ela disse "quero ser como você" - eu disse para ela esperar um pouco, estudar bastante. O que vier daquela cabecinha e alma está bem para mim. Eu escolhi ser musicista profissional quando eu era bem nova e meus pais me apoiaram, então eu a apoiarei seja lá qual for sua paixão. Ela também canta em Deck the Halls, no coro comigo, então você pode ouvi-la lá.

E: Muito bom, boa sorte para sua pequena musicista. Talvez você se lembre que nós cobrimos música e filmes de sci-fi e horror. Eu sei que você é fã de filmes e de terror. Da última vez que os falamos, você disse que não estava assistindo muitos porque tinha uma filha pequena agora. Tem visto algum ultimamente? Quais tem sido seus favoritos?

T: (risos) ainda é a mesma coisa! A única coisa que vamos ver são desenhos animados. Eu tento escapar para ver alguns romances ou filmes históricos de tempos em tempos, mas é difícil. Minha filha é bem sensível nesse sentido, especialmente com música. Se tem música meio assustadora vindo da TV, ou de qualquer lugar, ela me pede pra desligar (risos). Ela é bem sensível com isso. Por exemplo, se ouvir no novo CD "deck the halls" ou "we wish you a merry christmas" ela não é muito fã delas. Ela sempre fica "hmmm, será que devo interpretar isso de uma maneira boa ou ruim?" então, filmes de horror? não estou podendo ver. Esse tempo livre todo não tive (risos). Mas eu queria ver It.

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* Entrevista feita em Novembro/2017.