Além do clube dos garotos: Tarja Turunen
“É incrível ouvir cantoras na cena do metal dizendo que as inspirei.”
“Beyond the boys’ club” (além do club dos garotos) é uma coluna mensal da jornalista e apresentadora de rádio Anne Erickson, que foca em mulheres nos gêneros mais pesados da música e discute as experiências delas. Este mês, a entrevistada é Tarja Turunen.
Quando Tarja Turunen adentrou o mundo da música com o Nightwish, na metade dos anos 90, ela era uma entre um pequeno número de mulheres no metal, naquela época. Enquanto ela viajava pelo mundo com o Nightwish e construía a fã base da banda, a finlandesa também inspirou outras mulheres a serem destemidas no que diz respeito a se inserir no heavy metal e em outros gêneros do rock.
Turunen permaneceu com o Nightwish por quase uma década e gravou cinco álbuns com a banda. Desde então, ela tem uma carreira solo bem sucedida. O último álbum dela, In The Raw, foi lançado em agosto, trazendo vocais poderosos.
A cantora conversou recentemente com a Heavy Consequence para a última coluna “beyond the boys’ club” e falou sobre o In The Raw, a forte fã base americana, a jornada como mulher na cena do rock e mais. Leia a entrevista completa abaixo:
Sobre os primeiros dias com o Nightwish e sobre ser uma das poucas cantoras de metal durante o início da banda
"No início da minha carreira, eu não tinha nenhuma cantora no metal para pedir conselhos ou em quem pudesse me inspirar, porque meu canto era operático. Sou muito grata, na verdade, por não ter começado a fazer algo com o que não estava familiarizada ou confortável. Apenas segui do meu jeito, e essa é a única forma de se fazer.
Terminei minha graduação em música clássica enquanto estava em uma banda de metal bem sucedida, mas essa não foi uma tarefa fácil. O que realmente me salvou foi eu sempre ser respeitada pelo meu público e pelos outros músicos. Eles obviamente pensavam que eu era diferente, mas essa era a chave. Eu não precisava me provar no mundo do metal como mulher. Fui aceita como sou, e isso foi uma bênção."
Sobre ver mulheres como Lzzy Hale e Maria Brink nos charts de rock hoje e sobre orgulho por ter aberto caminhos
"Todas nós trabalhamos individualmente e fazemos nosso próprio trabalho criativo. Sempre apoiei mulheres nessa cena e sempre senti uma ligação entre nós. Para mim, é incrível ouvir cantoras no metal dizerem que as inspirei. É tipo O QUE??????? Sinto-me honrada.
Sobre como o meio musical para mulheres no metal é diferente hoje em comparação com quando ela começou
No começo da minha carreira, tive que lidar com o fato de que como eu era a única mulher na banda, a cantora e a imagem do grupo, obviamente recebia mais atenção onde quer que íamos. Havia algumas precauções com segurança que deveriam ser tomadas e que não eram compreendidas por todo o grupo, na época. Por isso, algumas situações desagradáveis aconteceram comigo antes das coisas melhorarem. Sempre fui uma mulher independente que cuida de si, e sendo assim meus colegas não se importavam muito comigo. Coisas básicas, como um local para eu me trocar e aquecer minha voz eram confundidas pelos rapazes, que achavam que eu estava bancando a diva que precisava de atenção extra.
Mas no geral dentro do gênero é preciso dizer que o público e os outros colegas sempre me respeitaram. Com esse respeito, consegui superar os problemas, o que tornou minha experiência bastante positiva. Mesmo que eu sempre tenha sido honesta e clara em relação as minhas raízes na música clássica, o público do metal me abraçou. Os puristas não conseguiram me barrar."
Sobre as mulheres que a inspiraram a seguir carreira na música
"Whitney Houston, Aretha Franklin, Bonnie Tyler, apenas para citar algumas. Todas mulheres com vocais diferentes e poderosos. A emoção, presença de palco e o carisma fizeram eu me apaixonar por essas talentosas cantoras quando eu era jovem. Mas minha maior inspiração foi minha mãe, que costumava cantar muito em casa. Ela viu talento em mim e me ajudou a seguir meus sonhos na música."
"Acho que não. Creio que seja um bom movimento, mas afetou mais a indústria do cinema."
Sobre a importância das emoções na música dela e no In The Raw
"Não posso fazer música sem que meu coração esteja envolvido. É como sou enquanto pessoa: muito sensível. É absolutamente importante para mim fazer músicas que me tenham um significado emocional. Sou uma contadora de histórias, amo pintar imagens com minha voz."
Sobre o In The Raw ser um trabalho em grupo, mesmo que seja um álbum solo
"Tenho sido uma mulher de sorte por trabalhar com um ótimo time de músicos. Sem esses rapazes, meus álbuns não seriam os mesmos, não soariam naturais. Todos influenciaram meu trabalho, de uma forma ou de outra. Estou produzindo minhas gravações e dando direcionamentos, mas a confiança e compreensão que compartilho com eles é vital. Alguns desses músicos trabalham comigo há mais de dez anos, então nos conhecemos bem, posso confiar nas pessoas que trabalham comigo. Naturalmente, tudo no processo de produção de um álbum se torna mais fácil quando se tem uma longa parceria.
Ainda assim, não tenho uma banda, estou trabalhando com músicos profissionais independentes. De qualquer forma, quero continuar trabalhando com pessoas que entendem e compartilham minha paixão pela música. Além do mais, esses rapazes são ótimas pessoas, o que é igualmente importante para mim! A vida é muito curta para perdermos tempo com pessoas ruins, sabe?"
Sobre a forte fã base americana
"Eu adoraria visitar mais vocês, para ser honesta! Tenho muita sorte por ter fãs nos Estados Unidos que expressam seu amor todos os dias. Ainda estou vivendo meu sonho, e isso só é possível por causa dos meus fãs, de verdade. Sinto-me honrada por as pessoas ouvirem minhas músicas e se apaixonarem por elas. Espero voltar aos Estados Unidos com meu novo álbum e sentir o carinho da audiência local. Isso não tem preço."
Projetos nos quais ela atualmente está trabalhando
"Sempre estou trabalhando em algo! Naturalmente, estarei em turnê internacional do In The Raw pelos próximos dois anos. No momento, essa é minha prioridade, mas vocês vão me ver fazendo performances clássicas aqui e ali.
Há um projeto eletrônico chamado Outlanders no qual estou dando os toques finais, na esperança de que ele veja a luz do dia o mais rápido possível. Estou trabalhando com meu produtor e amigo Torsten Stenzel, na ilha caribenha Antigua. O projeto é baseado em música chill out, na qual uso minha voz como um instrumento, algo que é bem diferente para mim, mas uma experiência musical agradável. Vocês vão poder ouvir muito em breve."
Conselhos que ela daria a jovens que querem começar uma carreira na música
"Como a indústria musical está vivendo tempos difíceis e há muitas mudanças acontecendo constantemente, você pode esperar uma jornada árdua. Mas se estiver disposta a trabalhar bastante e a dar o melhor de si, você pode conseguir. Apenas não espere que apareçam na sua porta procurando por você. Você tem que ter coragem para criar pontes; acreditar e ser humilde, porque se é a música que lhe dá vida, você é privilegiada."