"Fui expulsa da banda", diz ex-vocalista do Nightwish Tarja Turunen
Cantora que teve formação clássica chega a Curitiba no dia 24 de agosto com seu novo trabalho solo, “My Winter Storm”
Por Angela Antunes
Sobre “My Winter Storm”, lançado em 2007, Tarja contou que a inspiração para o nome do disco veio dos próprios fãs. “Eu não ando sozinha. Meus fãs me ajudaram e me apoiaram durante todo o tempo”, contou ela.
Para o show em Curitiba, ela promete não só músicas do seu trabalho solo, mas também algumas do próprio Nightwish. “Escolhi algumas canções que estavam melhores por causa da minha performance vocal e outras que não costumávamos tocar ao vivo”, contou. Veja abaixo a entrevista na íntegra:
Você teve uma formação basicamente de música lírica, e tinha como ídolos cantoras como Whitney Houston e Aretha Franklin. Quando começou a se interessar pelo som do metal?
O som do metal veio quando eu entrei no Nightwish. Quando eu era bem pequena comecei a estudar música clássica, primeiramente com piano e depois o canto lírico, e segui nisso até completar uns 16 anos. Quando eu tinha 18 ou 19 anos entrei no Nightwish. Nunca realmente ouvi bandas de metal. Ouvia mais o rock, hard rock, artistas como Alice Cooper, Whitesnake, coisas desse tipo.
Antes disso você não se interessava muito por esse tipo de música?
Não. Eu era muito focada nos meus estudos clássicos. Minha vida era música, mas era baseada nestes estudos desde que eu era pequena. Até mesmo dentro do Nightwish eu demorei nove anos para conseguir alcançar o que queria com a minha voz. Aprendi a amar algumas bandas de metal e alguns elementos do metal. Definitivamente eu não teria nem como querer perder alguns desses elementos no meu novo som, algumas partes disso, elementos disso. Mas eu não vou voltar para o heavy metal, pois não vejo isso como sendo “eu” completamente.
Na época em que você começou como vocalista do Nightwish e a banda estourou pelo mundo afora, você disse que não tinha expectativas de que isso acontecesse, e que a gravadora apenas lançou o disco por se tratar de algo exótico e diferente: uma mulher cantando em uma banda de metal. Hoje em dia, várias outras bandas possuem o mesmo perfil. Há dez anos, era difícil assumir esse posto?
De certa forma era difícil para mim porque, de alguma forma, eu estava sempre sozinha. Eu estava sozinha com o meu canto, eu estava lutando muito com a minha voz. Lutei com ela por muitos anos por causa das minhas técnicas de canto clássico que não estavam “ali” ainda. Eu não estava pronta como uma cantora, minha voz não era flexível. Eu estava tendo muitos problemas com a voz. Isso me levou muitos anos para aprender. Essa era a maior luta. No fim, não era tão difícil para mim. É claro que ser uma mulher numa banda de metal que faz turnês por todo o mundo, sendo a única mulher em uma banda de homens todo o tempo acabava sendo difícil às vezes (aos risos).
Você chegou a ouvir alguns comentários ruins nessa época?
Não muito, mas sabe como é... homens começam a falar (risos). O senso de humor deles às vezes é muito... (risos).
Você já passou pelo Brasil com o grupo Nightwish, e desta vez chega com o seu trabalho solo. Quais são as principais diferenças?
É tão diferente. Eu acho que tudo é muito diferente. A música que eu estou tocando é diferente, a banda com quem eu estou tocando são músicos profissionais muito talentosos e pessoas incríveis. A organização é um pouco semelhante, pois estou trabalhando com as mesmas pessoas que já trouxeram o Nightwish para o Brasil anteriormente. Tenho muitos amigos no Brasil, estou tão feliz de voltar ao país.
A sua saída do Nightwish foi um pouco conturbada. O que aconteceu?
Sim, eu fui expulsa da banda.
Por que isso aconteceu?
Foram muitos problemas durante muitos anos. Para ser honesta, o tempo passou e eu ainda não estou com vontade de falar sobre os problemas na banda. A música sempre foi a coisa que mais importou. Por tantos anos, nós trabalhamos muito bem, mas definitivamente não teria como passarmos por esses nove anos sem problemas. Era muita falta de comunicação ou até mesmo nada de comunicação entre os membros da banda. Foi difícil.
A carreira solo era algo que já havia passado pela sua cabeça?
Eu cheguei a pensar nisso uns dois anos antes de eu sair da banda. Eu cheguei a gravar um álbum de Natal anteriormente e foi algo diferente para mim porque queria trabalhar com música clássica, mas naquela época eu não podia fazer isso. Mas eu não tinha nenhuma música escrita, então eu tive que juntar tudo bem rápido (aos risos).
Você acha que a carreira solo abriu novas oportunidades que não aconteceriam se você permanecesse na banda?
É muito difícil falar do “se eu tivesse” porque eu não tenho como dizer. Eu não acho que eu teria feito esse trabalho solo se eu estivesse com a banda porque não seria a minha prioridade. Não seria possível pelo menos não dessa maneira. É claro que seria muito difícil continuar na banda, e eu digo que estou muito mais feliz no momento do que eu estive em muitos anos.
Depois de cerca de dois anos em carreira solo, quais foram os pontos positivos e negativos desta nova fase?
O ponto negativo foi o início. Eu estava muito nervosa e eu tive que aprender tantas coisas novas em tão pouco tempo. Eu tive que conhecer novas pessoas, as pessoas da minha nova gravadora, da produção do álbum. Eu tive que fazer juntar toda essa informação num espaço de tempo muito curto. Então essa foi a parte difícil. Mas a melhor parte é essa liberdade que eu tive de fazer música que eu realmente amo, escrever música com as pessoas que eu amo e realmente aproveitar a música. No Nightwish eu não era a única pessoa que escrevia as músicas. É a primeira vez que eu pude começar com algo por conta própria e foi maravilhoso.
Como você criou a nova identidade do seu som?
Eu tenho uma grande coletânea de músicas na minha casa, estou de alguma forma sempre aprendendo sobre isso. Tive a oportunidade de trabalhar com vários compositores e arranjadores. A partir disso ficou muito claro que eu queria fazer um som aberto para o meu álbum. Eu amo trilhas sonoras e queria que meu álbum tivesse esse espírito e essa atmosfera. Esse era o objetivo, mas foi bastante difícil.
O show que chega ao Brasil faz parte da turnê do disco “My Winter Storm”. Como será o repertório?
O show será baseado nas músicas do “My Winter Storm”. Claro que também devem entrar algumas músicas do Nightwish.
Você não vê problemas em tocar algumas músicas da banda no seu show solo?
Não, toco ainda às vezes. Eu escolhi algumas músicas que estavam melhores por causa da minha performance vocal ou outras que não costumávamos tocar ao vivo. É legal eu ter a oportunidade de tocar elas agora, já que quando a gente gravou era o início da minha carreira e eu não tinha a voz que tenho hoje. E agora eu posso me divertir com isso (risos).
Quais são as principais diferenças entre este trabalho e o que você fazia anteriormente?
É diferente no sentido que não pode ser categorizado, não poderia ser, por exemplo, heavy metal. Existe muito mais variedade, diferentes estilos de músicas. Algumas têm de um lado uma melodia linda e marcante e ao mesmo tempo não tem bateria, e nada em outras músicas. É muito emocionante e para mim eu não conseguiria colocar em uma categoria. Você tem que ouvir e sentir a emoção do álbum. Estou muito positiva a respeito disso.
Por que a escolha por uma “tempestade”?
“My Winter Storm” veio de uma música, “I Walk Alone”, que foi lançada como o primeiro single. Tinham dois suecos que escreveram para mim e eu fiquei muito inspirada por alguns versos da música. Isso aconteceu um ano antes de eu gravar qualquer canção para o meu álbum. Eu vi essa música e eu amei o verso: “My winter storm holding me away, It’s never gone” (minha tempestade de inverno me leva embora, mas nunca se vá, em tradução livre). Eu entendi esse verso e para mim representa os meus fãs. Eles me ajudaram e me apoiaram durante todo o tempo e nunca deixaram o meu lado. Eu não estou andando sozinha, e é esse tipo de diversidade na letra que eu queria mostrar para as pessoas. “Por causa de vocês eu estou aqui como uma artista, com a minha arte. Obrigada”. Isso é o “My Winter Storm”. Então estou levando essa tempestade para todos os lugares (aos risos).
Você não teve que ter a preocupação em criar uma nova base de fãs? Os mesmos que já a acompanharam antes continuaram apoiando o novo trabalho?
Sou muito abençoada. Eu fiz algumas turnês na Europa e é claro que eu entendo que muitas pessoas que vieram ao show vieram sem ter nenhuma expectativa. Elas não sabiam o que esperar, se era um show clássico, se era um show de heavy metal. Quando eu conversei com os meus fãs depois dos shows, eu falei com eles depois de todos os shows e foi algo muito importante para mim, ver como eles iriam se sentir, o que eles gostaram e o que eles odiaram. Eu escutei que eles realmente entenderam a emoção e a atmosfera do show. É algo muito diferente de tudo que eles ouviram de mim. Eu toco piano sozinha no palco em uma música e é um relacionamento muito mais próximo e uma conexão muito maior com o público. É maravilhoso.
Para o futuro, quais são os seus planos?
Eu já estou gravando um material novo para o próximo álbum.
Você sabe quando será lançado?
Sim, nós temos uma data limite que é setembro de 2009.
E como será a sonoridade desse trabalho? Vai seguir a mesma fórmula do seu álbum anterior?
É uma continuidade do “My Winter Storm”. Eu quero deixar algumas coisas mais claras do que elas estavam no primeiro álbum. Quero ter algumas músicas bem altas e quero que as calmas e quietas fiquem ainda mais calmas. Eu gosto muito disso.
2008 - Gazeta do Povo
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