"Oceanborn" definitivamente foi um marco na história dessa banda, que irrompeu no meio metal há alguns anos, fazendo-se ser vista (e ouvida!) por todo o globo. Meios de comunicação especializados no mundo inteiro deram nota máxima ao disco, que se tornou um ícone do estilo. Agora, no ano 2000, "Wishmaster" vem com força total para agraciar, uma vez mais, os apreciadores do estilo e da voz marcante de Tarja. Que, aliás, é uma pessoa inacreditável. Rompendo os limites de quão simpática uma pessoa pode ser, a vocalista do conjunto concedeu – de muito bom humor – esta entrevista a Whiplash!. Confira.

Confira a entrevista:

Whiplash!: Os fãs de Nightwish roeram unhas por esse "Wishmaster". Depois do sucesso de "Oceanborn", todos estavam bastante ansiosos pelo seu sucessor. Na verdade, o disco conseguiu posições notáveis junto a bandas de peso e nome no heavy, coisa muito difícil de se alcançar, levando-se em consideração que o grupo é novo. Você esperava que chegasse aonde está assim tão rápido?

Tarja Turunen: [pronunciando cada sílaba demoradamente] Não mesmo!!! Foi realmente uma surpresa para nós, acho que não tínhamos como esperar isso. Para mim principalmente, porque eu nem ouvia heavy metal, não conhecia nada do estilo, e de uma hora para outra revistas no mundo todo estão recebendo muitíssimo bem o CD. Digo, é claro que nos esforçamos para que fosse um CD benemérito, mas não achávamos que conseguiríamos tanto em tão pouco tempo, não tínhamos realmente a pretensão de alcançar o que conseguimos – que, definitivamente, é algo muito importante para todos nós.


Whiplash!: Tenho certeza que sim. Mas... você disse que não escutava heavy metal?!

Tarja Turunen: Ah, é, é verdade. Não escutava nada de heavy metal, nem sabia o que era. Engraçado, não? Hoje estou aqui, sendo entrevistada por você.


Whiplash!: O que você escutava?

Tarja Turunen: Ah, eu ouvia música clássica, já que pratico canto desde que era adolescente. Realmente nunca nem tinha me interessado em ouvir heavy metal até que o Tuomas e o resto do pessoal me introduziu no meio.


Whiplash!: Ah, foram eles os corruptores [risos]. Mas me explique melhor, por favor, como é que você parar nesse meio?

Tarja Turunen: Bem, eu conhecia os outros integrantes da banda desde que era pequena, éramos amigos de colégio. Então, um dia, fomos a uma praia em Kitee, que é uma cidade bem pequenininha aqui no interior da Finlândia...


Whiplash!: Em North–Karelia [nem sei como lembrei disso] ?

Tarja Turunen: Sim, isso, exatamente. Como você sabia?! Bem, então estávamos na praia, aquela coisa toda, e o Tuomas, o homem, ele, o mente-mestre do grupo [risos], tinha trazido uns violões com o resto do pessoal e resolvemos tocar alguma coisa. No começo foi mais pela brincadeira, mesmo. Mas então, eles quiseram levar a coisa mais a sério e insistiram que eu deveria entrar em estúdio e ensaiar e até compor ou gravar alguma coisa. Daí, quando comecei a cantar no estúdio, foi engraçado porque eles nem tinham notado o meu estilo de cantar, meu estilo mais clássico. Então, os caras ficaram tipo "wow, olha só que voz!" Foi engraçado, porque eu já tomava aulas de canto e eles nem desconfiavam que eu cantava de uma forma operística. Bem, eles gostaram (ainda bem!) e a partir daí eu fui ouvindo algumas coisas do meio heavy. Eles foram me apresentando a coisas novas, que eu ainda não tinha ouvido e eu fui gostando.


Whiplash!: Ah, muito bem. Mas falando um pouquinho do disco agora... como foi a produção, o processo de gravação?

Tarja Turunen: Bem, nós passamos cerca de 3 meses no estúdio, o que, para nós, é bastante tempo. Costumamos fazer as gravações em períodos mais curtos. Mas foi bastante confortável gravar tudo. Acho que levamos mais tempo porque nos permitimos mais tempo entre uma sessão e outra e descansamos um pouco mais. Ou talvez não. Acho que só eu descansei, o Tuomas trabalhou como um escravo [risos gerais]. Teve algumas partes como a dos coros com várias pessoas cantando em que o Tuomas me disse que suou em bicas tentando encaixar tudo certinho. Digo, eles não eram profissionais, então deu mais trabalho. Além disso, trabalhar com produção sempre é cansativo. Mas a minha parte foi gravada sem problemas e bem rapidamente. Foi mais uma experiência e mais um processo de aprendizagem do qual eu retirei ainda mais conhecimento.


Whiplash!: Falando nos coros, como vocês vão reproduzi-los ao vivo? Vão fazer playback ou coisa do tipo?

Tarja Turunen: É a única solução. Infelizmente, se levássemos toda uma orquestra para os shows e todos os coristas e tudo, ficaria realmente muito, muito caro, e ainda não temos como financiar um show desse porte. Vamos fazer as partes mais complexas com playbacks e os sintetizadores do teclado, samplers e coisas do tipo. Mas espero que num futuro próximo isso possa mudar. Na verdade, eu e Tuomas já conversamos a respeito da possibilidade de incluir uma orquestra real para a gravação de algum disco.


Whiplash!: Nossa, isso seria incrível. Como a banda é sinfônica, a orquestra influiria enormemente no processo de sonoridade do álbum...

Tarja Turunen: Com certeza, ficaria magnânimo. Mal posso esperar para que isso aconteça. Provavelmente vai demorar um pouco, eu sei, mas quando acontecer vamos soar muito mais sinfônicos e com certeza progrediremos imensamente.


Whiplash!: Voltando um pouquinho para o "Wishmaster", soube que você não gostava da faixa "Crownless", é verdade?!

Tarja Turunen: [rindo] É verdade, sim. Eu definitivamente não me orgulho de tê-la cantado.


Whiplash!: Nossa, mas por quê? Assim que eu a ouvi, decidi-me por ser uma das minhas favoritas no disco inteiro, achei realmente fantástica...

Tarja Turunen: Ah, eu não acho porque... porque... ah, não sei [risos gerais]. Sei lá, é muito power metal, soa clichê demais, eu acho. Não dá, não fui com a cara dela. [risos]


Whiplash!: É uma pena. E quanto à que vem em seguida, "Deep Silent Complete"?

Tarja Turunen: Eu gosto dela, sim. Não posso dizer que é minha preferida, mas eu gosto dela. Por quê? Gosta dela também?

Whiplash!: Definitivamente. É uma das minhas faixas favoritas. Aquela melodia vocal do começo é simplesmente perfeita. É muita emoção. Não sei, ela me passa muita coisa.

Tarja Turunen: Ah, é verdade. O refrão tem uma simplicidade bem legal. A linha vocal do começo cantarolando a melodia da música encaixou bem, também. É, realmente é uma música muito bonita, fico feliz por você ter gostado.


Whiplash!: E sobre "Dead Boy’s Poem"? O Tuomas mencionou que ela era a letra mais importante da vida dele, não?

Tarja Turunen: Ah, definitivamente. É a letra mais importante do Nightwish porque ela representa o Nightwish. A letra é tanto Tuomas como Nightwish. Na verdade, é como eu lhe falei há pouco: o Tuomas é a mente por trás do grupo. Se você pensa no Nightwish, você tem que pensar nele automaticamente. Ele é uma pessoa muito inteligente e muito, mas muito honesta também. Naquela letra ele pediu desculpas a algumas pessoas e ao mesmo tempo meio que rejeita as pessoas que merecem [ser rejeitadas]. Fala de como o conjunto é importante para ele – na verdade, a vida dele.


Whiplash!: Nossa, não imaginava que fosse tão profundo. Eu não lembro de você ter tomado parte em qualquer letra, entretanto. Você não escreve nada por quê?

Tarja Turunen: [totalmente tímida] Aaahh... bem... eu receio que.. hrmm... não possa escrever para o Nightwish...

Whiplash!: Não acredito!!! Por que não?!? O Tuomas não deixa?!

Tarja Turunen: Bem... não, não é isso... é que... bem... realmente o meu tipo de composição não é o mesmo estilo do Nightwish. Não encaixaria bem...


Whiplash!: E qual o seu estilo?

Tarja Turunen: Ah, não me pergunte isso, eu sou péssima para definir as coisas que eu faço [risos]. Bem, não sei, as coisas que componho ou escrevo são bem mais clássicas, totalmente mais voltadas à música clássica. E quer queira, quer não, o Nightwish é uma banda de heavy metal e não é feita só de sinfonias e orquestrações. E as minhas letras são todas alegrinhas, é uma coisa mais Helloween [N. do E.: nesse momento, este jornalista não agüenta e cai na risada]. Ah, por que você está rindo? Não faz isso, eu fico sem jeito... [risos]


Whiplash!: Desculpe, é que por esta eu realmente não esperava. Pra quem não conhecia nada de heavy metal, você está até bem por dentro do assunto.

Tarja Turunen: [risos] É, né? Estou melhorando. Mas sobre as letras, não encaixariam bem, mesmo. É melhor deixar tudo a cargo do Tuomas. Ele é o nosso cérebro, então melhor que continue sendo. Não queremos ter mudanças bruscas na sonoridade do Nightwish. Seguimos uma linha e acho que os fãs gostariam que permanecêssemos nela.

Whiplash!: Com certeza. Mas estávamos falando sobre o disco... e há uma música, a "Come Cover Me"... ela tem a melodia inicial idêntica a de uma música do Stratovarius. Eu tive a oportunidade de ler uma entrevista sua com a última Rock Brigade, onde você comentou que gostava daquela banda. Foi intencional isso?

Tarja Turunen: [visualmente impressionada] No way !!! Você está brincando, certo?!

Whiplash!: ...?! Não, é sério... por quê?

Tarja Turunen: Nossa, eu juro que não sabia. Nem fazia idéia disso...

Whiplash!: Sério? Bem, é realmente idêntica. Digo... a introdução. Quando eu escutei, pensei até que era um cover, só que depois a melodia muda. Eu imaginei: "eles devem ser bastante amigos dos caras do Stratovarius e quiseram elogiar musicalmente os colegas e colocaram essa melodia no começo"...

Tarja Turunen: Deus, de modo algum. [risos] Que engraçado isso. Eu realmente não tinha percebido. Mas bem, se realmente é tão parecido, não foi intencional. Digo, nem conhecemos os caras direito. Eu falei com eles uma ou duas vezes, mas foi coisa tipo "oi, tudo bem?", nada demais... quer dizer, conversamos alguma coisa aqui e ali mas nada que nos torne amigos íntimos [risos]. E, de qualquer forma, não acredito que o Tuomas ou qualquer outro membro tenha falado mais que isso também. Que coincidência, nossa, nem estou acreditando ainda. Vou comentar com o Tuomas depois a respeito e ver o que ele diz.


Whiplash!: Legal. Depois você me deixa saber o que ele disse. Estou curioso.

Tarja Turunen: [rindo] Ah, está bem. :-)


Whiplash!: Você tem algum contato com Internet? Eu acessei a página oficial do Nightwish alguns dias atrás e vi seu e-mail...

Tarja Turunen: Ah, sim, eu navego às vezes. Não freqüentemente, pois tenho bastante coisa para lidar aqui, na vida real. Mais uma [vida] ia ser muito trabalho para mim [risos]. Mas é, eu gasto um tempinho na Net, sim.


Whiplash!: Como eu disse eu vi seu e-mail lá... você checa sua mailbox freqüentemente?

Tarja Turunen: Bem... eu costumo checar umas duas vezes ao dia quando tenho tempo. Mas na maioria das vezes é meio difícil, pois como você sabe eu tenho um monte de coisas para fazer aqui... a banda, as aulas de canto e etc., e fica um tanto difícil ler e responder a todos os e-mails que recebo. Mas... [meio envergonhada] por que você está perguntando isso? Você mandou um monte de e-mails para mim e eu até hoje não respondi, não foi? Oh, Deus, me desculpe, é porque às vezes é difícil, mesmo e...


Whiplash!: [interrompendo] Calma, calma [risos]. Eu perguntei por curiosidade, mesmo. Na verdade, exatamente pelo fato de eu achar que você teria uma agenda bem cheia e, por causa disso, seria difícil responder a todos os fãs que lhe escrevessem, e aquela coisa toda...

Tarja Turunen: Ah... tem certeza de que não me escreveu, mesmo? Olha, se eu não tiver respondido foi porque não deu mesmo, sério, desculpe... [N do E: ela não acredita que eu perguntei por curiosidade e fica uns dois minutos me pedindo desculpas, apesar de eu dizer um milhão de vezes que não mandei nenhum e-mail]


Whiplash!: Vamos esquecer isso do e-mail [risos]. Você vai estar aportando no Brasil em algumas semanas... como se sente? Alguma expectativa?

Tarja Turunen: É difícil dizer o que esperamos. Claro que estamos muito ansiosos, mas não sabemos ao certo o que esperar. Todos nos falaram coisas muito boas a respeito do Brasil, inclusive o próprio pessoal do Stratovarius, pois sabíamos que eles tinham tocado aí algumas vezes e estávamos curiosos. Eles falaram super bem do Brasil, do público, da empolgação da platéia nos shows. Não queremos ir esperando mais do que o público possa nos dar, então estamos nos resguardando um pouco quanto a ter opiniões formadas, mas realmente estamos muito ansiosos e queremos ir para o Brasil o mais rápido possível. Ahhh, finalmente, vou ver um pouquinho de sol. [risos]