Entrevista original (em inglês): GET READY TO ROCK

Original interview (in English): GET READY TO ROCK

 

Photo by Noel Buckley/GRTR!

 

Nascida na Finlândia, domiciliada na Argentina e gravando para o selo inglês Spinefarm Records, Tarja Turunen é a diva gótica de “drama e decibéis”, que levou sua voz de soprano treinada classicamente para o coração do Metal e alcançou sucesso internacional.

A antiga vocalista da banda que vendeu milhões, Nightwish, é agora uma artista “best-selling” por conta própria. Em 2007 ela gravou seu álbum debut em língua inglesa, o vencedor do disco de ouro e platina, “My Winter Storm”.

Em três anos, ela também escorregou para o ramo da composição e produção da próxima sequência, “What Lies Beneath”, sem mencionar uma reviravolta de estrela em “The Good Die Young”, o primeiro single do último álbum do Scorpions, “Sting In the Tail”.

Tarja falou com Pete Feenstra sobre sua carreira florescente e aspirações futuras.


- Você foi descrita por seu PR como a “Rainha da Metal Ópera”. É assim que você vê a si mesma?

- Bem (risos), isso é um tanto quanto um exagero. Realmente, tudo o que faço é tentar dar o meu melhor. Aprecio a bela liberdade que eu mesma tenho que expressar tanto como pessoa como em minha vida musical, como uma artista. E, às vezes, tenho trabalhado em gêneros musicais diferentes, mas sou realmente guiada pelo modo como me sinto e por como a música me move.

Por exemplo, agora estou trabalhando no meu segundo álbum – de fato, faz quase dois anos – e me sinto mais forte do que nunca em termos musicais. As músicas estão quase lá e sei o que quero.

Estou mais esclarecida sobre o que desejo fazer. Então os rótulos “Ópera” e “Metal” realmente não se aplicam. É mais sobre como me sinto com relação à música e a direção em que a música te leva, ao invés de escrever para um gênero em particular.

Photo by Noel Buckley/GRTR!

- Você começou a escrever suas próprias músicas em 'What Lies Beneath'. Isso foi um grande passo para você?

- Sim, foi, mas de certa forma foi algo natural, tipo uma progressão por causa da minha experiência com o que aconteceu no passado. Todo o projeto foi muito mais fácil para mim dessa vez. Por ter trabalhado no meu primeiro álbum, eu tenho muito mais experiência em gravações, o que é requerido para ver as coisas terminadas. Foi por ter participado de todo o processo antes que eu pude começar a escrever.

Ainda gosto do My Winter Storm, mas sei muito mais agora e sei que esse álbum é muito mais forte em termos de músicas, produ~çao, direção, etc.

 

- Compor é fácil para você?

- Fazer o primeiro álbum foi parte de todo um processo de aprendizado para mim. Agora tenho mais confiança em muitas coisas, como saber o que quero e como atingir isso. Então comecei escrevendo, o que foi obviamente uma nova experiência para mim e um passo incrível também, bem como uma boa mudança.

No novo álbum também estive cercada de pessoas ótimas que me ajudaram a aumentar minha confiança ao ponto de eu poder sair e explicar para as pessoas o que eu realmente quero. Mas foi tão importante que essas mesmas pessoas também tenham me dito quando eu deveria fazer algo mais, ou tomar uma direção diferente, etc. Suponho que o grande lance seja o que você realmente sente pela música que você mesmo escreveu, especialmente quando for apresentá-la.

- Quantas músicas você escreveu?
- Fizemos cerca de 30 músicas juntos nos dois anos, desde que começamos a trabalhar nisso. Esse número está sendo reduzido para 16 e, eventualmente, atingiremos 11 para o álbum, talvez com algumas canções bônus para diferentes territórios.

Photo by Noel Buckley/GRTR!

- Como foi produzir a si mesma?
- Ser minha própria produtora me ajudou a fazer as coisas muito mais claramente. No primeiro álbum a produção foi um problema. Houve um grande número de coisas, incluindo minha inexperiência em tentar trazer pessoas diferentes em torno de estilos diferentes de música clássica e rock;

Naquele ponto da minha carreira, eu não podia dizer ciosas como “talvez devêssemos fazer isso ao invés daquilo”, etc. Eu estava feliz com o álbum, mas agora que sei muito mais estou muito mais feliz agora, com o What Lies Beneath.

Como produtora, você deve ter uma visão, talvez um conceito. E pensei sobre o que eu queria que esse álbum fosse. Então pensei, vamos fazê-lo um pouco mais pesado, muito mais focado, talvez menos diverso mas com uma orquestra e um coral, para que eu possa reter minhas influências clássicas. Acima de tudo, ser a produtora segnifica que tudo é resultado de como eu direciono as coisas, “manipulo as cordinhas”.

 

- O que Colin Richardson (Machine Head, Bullet For My Valentine, Slipknot) traz para a fase de mixagem do álbum?

- Bem, na verdade estamos fazendo essa parte do álbum agora, em Londres, no momento. E Colin está fazendo um trabalho inacreditável. Amei o que ele fez com o Slipknot, por exemplo, e ele me dá o que eu quero ouvir – desculpe pela linguagem – mas ele faz a coisa soar “fuckin’ powerful”, o que era exatamente o que eu queria.

Eu queria um som mais pesado, um grande som e ele pode me dar isso. E se eu quis uma guitarra gigante em algum ponto, ele me deu isso também. Acima de tudo, ele é um grande cara pra se conviver, um verdadeiro ‘gentleman’ e brilhante para trabalhar junto.


- Você se vê como uma artista inovadora? Depois de todo o ‘appeal’ que você trouxe para o metal sinfônico internacional?

- Eu não tenho uma visão realmente grandiosa de mim mesma, dessa forma. Nasci em uma pequena vila na Finlândia, com 500 pessoas... E vivi em diferentes países na minha vida. Também estive no mundo musical desde muito cedo e as coisas aconteceram muito rápido para mim, então tive muita sorte especialmente em ter grandes pessoas à minha volta e me ajudando a lidar com as coisas.

Até com o Nightwish, tudo aconteceu muito rápido. Gravamos uma demo e assinamos com uma gravadora e começamos a pôr o pé na estrada. Mas minha carreira solo é muito diferente de estar em uma banda. Após deixar o Nightwish, realmente precisei ir pra estrada imediatamente e acho que isso me empurrou para a carreira solo.

Mas as coisas funcionaram muito bem para mim. Fizemos a tour do primeiro álbum por três anos e acho que o trabalho na estrada e a promoção funcionaram, já que muitos lugares em que nos apresentamos estavam lotados, mas foi muito diferente do Nightwish. De fato, não há como comparar.

A diferença principal está em coisas como ser uma compositora, trabalhar em minhas próprias ideias e materiais e ser literalmente quem eu sou como uma artista. Então as pessoas devem dizer que é inovador por causa dos gêneros diferentes com que eu lido, mas penso nisso simplesmente como o que eu faço.

Photo by Noel Buckley/GRTR!

- É uma boa jornada sair da Academia Sibelius para receber um prêmio no metal Female Voices Festival, na Bélgica. Esse tipo de coisa era inimaginável para você quando começou?

- Bem, primeiramente foi muito especial ser reconhecida assim e fiquei muito orgulhosa em ganhar o prêmio de “Melhor e Mais Bela Voz”, etc. Também é muito bom que haja festivais como esse, mas isso mostra o que é possível através da música.

Eu me esforcei para encontrar minha liberdade artística no começo da carreira e não foram muitos os cantores clássicos que cruzaram dois estilos musicais tão diferentes.

É claro que, quando comecei, eu nunca poderia imaginar um festival como esse, quanto mais em estar nele, mas os eventos se moveram tão rápido na minha carreira que isso não parece tão louco agora.

 

- Seu dueto com Klaus Meine no single 'The Good Die Young', do Scorpions, seria um momento decisivo na sua carreira no metal ?
- Foi uma surpresa fantástica para mim receber uma ligação do Klaus para fazer o single. Durante a minha juventude eu costumava ouvir o Scorpions, e aqui estou eu, recebendo uma ligação dele me convidando para cantar com ele, o que é inacreditável. Eu realmente não acreditei que fosse verdade. Mas tudo acabou sendo ótimo.

Eles me mandaram duas músicas para escolher, e na verdade eu gravei meus vocais na Finlândia, separada da banda. O produtor voltou e me disse que eu poderia fazer o que quisesse com a música.

E o melhor, eu recebi uma ligação hoje para dizer que eles iam usar mais o meu vocal na música em termos de melodia, versos e harmonias. Então não poderia ter sido melhor. A banda foi muito legal de verdade, e eu gostei de me apresentar no programa da TV alemã “Wetten Das...?” (o maior programa de TV da Europa).

 

- Voltando na sua carreira, foi difícil pra você adaptar seu treino clássico e aproximá-lo do Metal?

- Sim, foi muito difícil. Levei anos para me sentir confiante o suficiente para usar minha voz em uma configuração ‘rock’. Eu lutei no começo e tive que ter aulas para aprender a adaptar e chegar onde eu queria chegar.

Na verdade eu achava o Heavy Metal muito difícil, e não era até 2004, antes de eu começar a me sentir confortável com minhas técnicas. Então, comecei a aproveitar a maior liberdade que a música me ofereceu.

Durante minha carreira, minha voz se desenvolveu de modo particular e eu tive que fugir disso. Levou um tempo um tanto quanto longo e muita prática, mas se você realmente sentir a música você pode eventualmente apresentá-la. Ainda tenho aulas de canto em Buenos Aires, onde vivo agora.

 

- Você ouve rock fora de seu próprio trabalho?

- Sim, mas geralmente é metal e particularmente bandas americanas como Slipknot, Korn, Disturbed, etc.

 

- Há algum “cruzamento” entre seu público de Clássico e Metal e vice-versa?

- Ah, sim, há uma quantidade surpreendente de pessoas que cruzam os estilos em ambos os “sentidos”. Ainda apresento concertos clássicos com orquestras e música de câmara e vejo pessoas diferentes na plateia.

Vi alguns metaleiros em alguns dos concertos. Sei que alguns deles nunca estiveram em uma igreja antes, e pareceram ter gostado do que ouviram.

Então, para mim é uma barreira cruzada, o que é fantástico. Não tenho limites musicais, já que sou realmente guiada apenas pelos sentimentos e emoção da música. São essas coisas que me guiam.

 

- Você acha que é o caso de sua música ter encontrado grande aceitação nos países europeus mais “tradicionais”, onde a música clássica é parte significante de sua história?

- Sim, alguns países realmente têm a história e talvez as platéias já estejam potencialmente lá e façam essa conexão. Mas nos últimos dez anos surgiram novos públicos, como por exemplo na América do Sul.

Mas além da Finlândia, que é de onde vim, fui especialmente bem recebida em lugares como a Romênia, Hungária, Ucrânia, Eslováquia, Bulgária e Alemanha, é claro.

Acho que eles estão acostumados com música clássica e nós estamos apenas apertando um pouco as coisas. Até mesmo em pequenos vilarejos da Itália, onde se gosta de ópera, eles gostaram da minha música, então talvez haja uma aceitação cultural.

 

- Você alguma vez teve problemas com músicos/produtores, etc. enquanto adaptava esse cruzamento entre o Clássico e o Metal?

- Oh, sim! No começo da minha carreira foi difícil e mais tarde foi especificamente o caso com a gravação do meu primeiro álbum. As coisas foram uma luta e tive problemas com a produção, e justamente com a coisa mais básica: a dificuldade que as pessoas têm em aceitar o conceito da minha música.

Posso ver agora que foi importante passar por essas experiências em meu primeiro álbum, para poder lidar melhor com as coisas agora. Isso significa que agora posso produzir a mim mesma e deixar claro o que estou tentando fazer.

Então, quando vim gravar o novo álbum, tive as duas experiências, e o mais importante, pude gravar com a mesma banda com quem estive trabalhando por três anos.

Eles são simplesmente os melhores – o baterista Mike Terrana (Steve Luthaker,Tony MacAlpine, Axel Rudi Pell, Yngwie Malmsteen), o guitarrista Alex Scholpp (Farmer Boys), Max Lilja (Apocalyptica) no violoncelo e Doug Wimbish (Tackhead/Living Colour Rolling Stones, Jeff Beck, Madonna) no baixo.

Eles são brilhantes e, após três anos de trabalho juntos, eles sabem o que quero. Também tive Jim Dooley trabalhando comigo novamente, ele trabalhou como arranjador de orquestra no My Winter Storm. Estou aprendendo muitas coisas, mas com essas pessoas que estão mais próximas estou alcançando o que sei que quero fazer. É muito animador.

 

- E, é claro, você finalmente chegou aos EUA quando o MWS foi lançado por lá?

- É claro que amo tocar para meus fãs por lá, mas às vezes penso sobre as pessoas que dizem que é seu sonho chegar à América.

Quer dizer, você ainda tem que vender álbuns quando está lá e é um outro território, muito diferente da Europa e pode ser muito difícil fazer isso.

Tivemos problemas em ter os álbuns do Nightwish distribuídos por lá há alguns anos atrás. Mas, é claro, estou muito feliz em ter chegado lá e em tocar para os fãs e tentar ter minha música aceita. Vou apenas dar o meu melhor e me aproximar da turnê norte-americana bem relaxada e chegar lá quando eu puder.